Espiritualidade

Quaresma, tempo para jejuar das palavras

Tempo favorável para rever as rotas da nossa vida, para jejuar das palavras negativas e mudarmos de atitude

Maurício Ribeiro, coordenador dos coroinhas e acólitos do Santuário Nacional (Arquivo pessoal)

Escrito por Maurício Ribeiro

21 MAR 2023 - 08H19 (Atualizada em 16 FEV 2024 - 10H23)

Thiago Leon

Você já pensou em, ao invés de fazer jejum de comida ou bebida, fazer jejum das palavras?

Todos os anos temos a graça de viver o tempo quaresmal, que é uma caminhada penitencial rumo à Páscoa. É um tempo favorável para rever as rotas da nossa vida, para jejuar das palavras negativas, colocar em prática a caridade e mudar de atitude.

As palavras têm um poder inconsciente

As palavras são como flechas; vão e não voltam. Por isso, é necessário colocarmos em prática a famosa frase: “pense antes de falar”. As palavras têm poder tanto para construir como para destruir o caráter ou o relacionamento.

Pensemos: as palavras têm o poder de ajudar e de condenar, construir e destruir. Em um dia, eu disse mais palavras para destruir ou construir? Ajudar ou condenar?

Este tempo quaresmal deve ser para nós um tempo para combatermos as palavras de destruição, de condenação e eliminá-las do nosso vocabulário. Não é fácil, mas é necessário. Vamos lançar palavras de esperança, de paz, de amor, não palavras de ódio, divisão e destruição. É valido lembrar que, na ‘lei da vida’, tudo o que fazemos e falamos, no final das contas, volta para nós mesmos.

A mudança começa em nós

É necessário converter-nos para que possamos crer no Evangelho. E a mudança para a conversão começa quando olhamos para nós e não para os outros. O Evangelho de São Mateus 7-1,5 é um bom exemplo para colocarmos em prática na Quaresma, pois ele nos leva a olhar primeiro para nós e depois para outros.

“Por que tu vês o cisco no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho? Como podes dizer a teu irmão: irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu não vês a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”.

Com essas palavras, Jesus nos ensina a não criticar os outros, a não olhar os defeitos dos outros. Temos que pôr primeiro os olhos nossos defeitos. Como diz o Papa Francisco: 

“Todos nós temos defeitos, mas estamos acostumados, um pouco por inércia, um pouco pela força da gravidade do egoísmo, a olhar os defeitos dos outros. Somos especialistas nisso”.

Nós sempre encontramos coisas feias nos outros e esquecemos de ver a nossas. Mas Jesus nos diz: “Você condena alguém por essa pequena coisa, mas faz coisas muito piores e não as vê”.

Nossa Quaresma será melhor quando olharmos para nós mesmos, tirarmos a trave dos nossos olhos para depois tirar o cisco do olho do irmão. Isso é conversão.

Jejuar das palavras

Falar mal dos outros é um passo rumo à destruição. A tentação para pecar com as palavras é grande. Por isso, na dúvida, fiquemos em silêncio e busquemos a oração.

Durante a Quaresma temos o hábito de jejuar de carne, refrigerante, doces, etc. Mas o que adianta eu fazer jejum de tudo isso e não mudar o coração? De que nos vale fazer jejum e criticar as pessoas que não fazem? Saibamos jejuar das nossas palavras, jejuar dos nossos julgamentos. O jejum só tem sentido se houver alguma mudança em nós.

Nos diz o Papa Francisco:

“Seria bom que cada um de nós pensasse: Como eu me comporto com as pessoas? Como é o meu coração diante das pessoas? Sou um hipócrita que dou um sorriso e depois, por trás, critico e destruo com a minha língua?”

Com o falar mal dos outros iniciam-se muitas guerras. A língua tem o poder de destruir como uma bomba atômica. Por isso, antes de falar dos outros, nos olhemos no espelho. Olhemos os nossos defeitos e sintamos vergonha. Se queremos viver dias melhores, comecemos a jejuar das palavras, principalmente das negativas que atrasam a nossa vida.

Jesus nos quer cristãos ‘raiz’ e não de ‘verniz’. Por isso, de que nos vale jejuar, mas ter raiva do irmão, guardar rancor, difamar os outros, condenar as pessoas? Temos que limpar o verniz da hipocrisia, o verniz que mostra como pessoa boa, perfeita, mas por trás condena os outros.

Busquemos constantemente a oração neste tempo quaresmal, e que a penitência nos ajude a viver internamente as práticas externas da Quaresma.

Viver a Quaresma com sentido interior

Deus vê o nosso coração, as nossas boas intenções. Assim, não nos preocupemos em ouvir elogios dos outros. Pensemos em um dos versículos do Evangelho da Quarta-feira de Cinzas:

“O teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa”. 

Isso nos basta; quem nos dará a recompensa é o Pai e não os homens. Quando praticarmos a caridade, não devemos fazê-la diante dos status, ou os stories, só para que outros vejam, não. Vamos fazê-la em silêncio, pois assim o Pai nos dará a recompensa.

Mas como viver uma quaresma com amor e sentido? É colocar a palavra de Deus em prática, que é sempre doce na nossa boca e amarga no nosso estômago. Porque falar é fácil; difícil é colocá-la em prática.

Thiago Leon
Thiago Leon


Quaresma, tempo de conversão

A verdadeira conversão brota do nosso coração e nos convida a mudar de vida. O jejum, a oração e a caridade são os meios principais que permitem a Deus intervir na nossa vida.

Quaresma é tempo de graça, para acolher o olhar amoroso de Deus sobre nós e, assim contemplados, mudar de vida.

Quando de fato jejuarmos das palavras negativas, deixarmos de ser hipócritas e colocarmos em prática a palavra de Deus, estaremos rasgando o coração e não as vestes.

Se ao final da Quaresma formos capazes de não ficar criticando sempre os outros por trás, de usar a nossa língua para construir e não para destruir, e mudar nossas atitudes mesquinhas, tenhamos certeza: a Ressurreição de Jesus será mais bela entre nós.

Escrito por
Maurício Ribeiro, coordenador dos coroinhas e acólitos do Santuário Nacional (Arquivo pessoal)
Maurício Ribeiro

Maurício José Ribeiro Campos Felizardo tem 22 anos e mora em Aparecida. Atualmente, é coordenador dos cerimoniários e coroinhas do Santuário Nacional, e estudante do último ano de licenciatura em Matemática na UNESP (FEG) em Guaratinguetá.

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