Existe um desenho animado, de um garoto que cresce na selva e se chama Mogli, baseado em um romance de Rudyard Kipling, que foi novamente adaptado ao cinema e tem sua estreia prevista para o mês que vem. Em um determinado momento do desenho, o urso, amigo de Mogli, canta uma música que eu ouvi muito na minha infância, cujo refrão encaixa perfeitamente em uma reflexão sobre o consumo dos nossos dias. Ele diz o seguinte: “Necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais. Necessário..., por isso é que essa vida eu vivo em paz”.
Pensar no consumo e na necessidade que muitas vezes experimentamos de comprar algumas coisas sempre faz essa musiquinha “tocar” na minha cabeça. Será que é realmente necessário fazer essa compra? Mas o que é que significa dizer que algo é necessário? A primeira pergunta é mais comum de se escutar, mesmo pessoas que poderíamos dizer que tem uma quedinha por serem consumistas podem dizer que se perguntam se isso, a compra que estão realizando, é realmente necessária, a questão talvez seja o que entendamos por necessário.
Na época eu não sabia, mas a canção de Mogli possui muita afinidade com a mensagem bíblica. Se olhamos para o tempo que o povo de Israel passou no deserto caminhando em direção da terra prometida, veremos que Deus nunca deixou faltar o necessário para que vivam e cheguem ao seu destino, mas também preveniu os israelitas de acumularem mais do que necessitavam.
"Então disse o Senhor a Moisés: Eis que vos farei chover pão do céu; e sairá o povo e colherá diariamente a porção para cada dia, para que eu prove se anda em minha lei ou não (...) Isto é o que o Senhor ordenou: Colhei dele cada um conforme o que puder comer, um gômer para cada cabeça, segundo o número de pessoas; cada um tomará para os que se acharem na sua tenda" (Ex 16: 4 e 16).
Já no Novo Testamento, com a chegada de Jesus, a tentação de acumular bens não deixou de existir. Por isso o Senhor Jesus disse a dois irmãos que brigavam por uma herança: “Precavei-vos cuidadosamente de qualquer espécie de cobiça, pois, mesmo na abundância, a vida do homem não é assegurada por seus bens” (Lc 12, 15). E essas palavras permanecem com uma atualidade muito grande. Quantas pessoas hoje em dia não vivem como se sua segurança dependesse totalmente dos bens materiais que possuem.
A proposta de Jesus com relação à posse de bens materiais exige de nós uma revolução na mente muito grande. Ele diz que é preciso que nós busquemos primeiro o Reino de Deus, e tudo o mais nos será acrescentado. Viver, realmente, dessa premissa é um desafio enorme para a mentalidade materialista de hoje. E para os que ainda se mostram desconfiados, Jesus continua: “Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que existe hoje e amanhã será lançada no forno, quanto mais a vós (que valeis muito mais que a erva do campo), homens fracos na fé... vosso Pai sabe que tendes necessidade disso”. Na verdade, vale a pena ler o capítulo 12 de Lucas, dos versículos 13 ao 34, para meditar sobre o que no fundo Jesus quer propor: Que depositemos todas as nossas confianças em Deus e não no dinheiro ou em nossas capacidades de construir uma vida segura.
Fazer isso, colocar a confiança e a esperança em Deus, é, na verdade, a única maneira de viver a vida em Paz, como na canção de Mogli. A Paz, com P maiúsculo, de saber que não controlamos todas as variáveis das nossas vidas, mas de saber também que Aquele que as controla é nosso Pai e que amorosamente cuida de cada uma de nossas necessidades.
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