História da Igreja

A Guerra Civil Espanhola

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

27 ABR 2021 - 14H48 (Atualizada em 27 ABR 2021 - 16H00)

Shutterstock

O Papa Francisco, após considerar positivas as conclusões da análise feita por historiadores, teólogos, cardeais e bispos, consultores da Sagrada Congregação para as Causas dos Santos, sobre a vida, virtudes e martírio dos servos de Deus Vicente Renuncio Toribio e 11 companheiros da Congregação do Santíssimo Redentor – Missionários Redentoristas - aprovou a promulgação do decreto sobre o martírio.

Os 12 missionários, seis padres e seis irmãos, membros das comunidades redentoristas do Perpétuo Socorro e de São Miguel Arcanjo, em Madri, foram todos assassinados entre 20 de julho e 7 de novembro de 1936, no início da perseguição religiosa sangrenta que se teve na Espanha até 1939, período em que o país viveu a Guerra Civil.

Proximamente esses 12 redentoristas serão declarados Beatos, podendo receber o culto público da Igreja.

Guerra civil - O que foi

Shutterstock
Shutterstock


Foi o acontecimento mais dramático que ocorreu antes da Segunda Guerra Mundial, mais precisamente entre os anos de 1936 e 1939. Nela estiveram envolvidos os principais elementos militares e ideológicos que marcariam o século XX, servindo ao mesmo tempo de antecedente da Segunda Guerra Mundial.

No conflito estavam posicionadas de um lado as forças nacionalistas, aliadas a instituições tradicionais da Espanha, dentre elas o exército e os latifundiários. Do outro lado estava a Frente Popular que era a base do Governo Republicano Espanhol, representada pelos sindicatos, partidos de esquerda e partidários da democracia. A Igreja tendia mais ao apoio das forças nacionalistas, apesar de ter entre elas grupos nazifascistas.

Espanha - Um País dividido

Shutterstock
Shutterstock


Os nacionalistas viam no conflito a oportunidade de livrar o país da influencia comunista, restabelecendo assim os valores da Espanha tradicional, mas para isso era preciso acabar com a República que havia sido proclamada em 1931, a partir da queda da monarquia. Os nacionalistas podiam contar com o apoio da Itália e da Alemanha em suas pretensões.

A Frente Popular queria dar um basta ao avanço das forças nazifascistas que já haviam conquistado Itália (em 1922), Alemanha (em 1933) e Áustria (em 1934).

A Internacional Comunista de 1935, decidiu que suas forças deviam se aproximar dos partidos democráticos de classe média para que fosse formada uma Frente Popular tendo como função enfrentar o sucesso nazifascista. Desta forma, socialistas, comunistas, anarquistas e democratas liberais deveriam se unir para tentar barrar o avanço nazifascista, lutando na Espanha contra as pretensões nacionalistas.

A grave crise econômica da década de 1930, iniciada com a crack da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, levou à queda da ditadura do General Primo de Rivera, caindo em seguida a Monarquia. O Rei Afonso XIII foi obrigado a exilar-se, acontecendo na sequência a proclamação da República, em 1931.

A grande esperança era de que a Espanha seguisse o caminho das outras nações ocidentais, fazendo uma reforma de base, separando o Estado da Igreja, implantando o pluripartidarismo, além da liberdade de expressão e a organização sindical.

Mas nada disso aconteceu. O País conheceu sim um violento enfrentamento de classes, seguido de uma forte depressão econômica, gerando a frustração generalizada na sociedade espanhola.

Insegurança, conflitos e mortes

Shutterstock
Shutterstock


O clima de turbulência levou à intensificação da luta de classes, principalmente entre anarquistas e direitistas, o que provocou inúmeros assassinatos de cunho político que criaram uma situação de instabilidade que afetou o prestígio da Frente Popular.

A Frente Nacionalista, conservadora e de direita via com entusiasmo o sucesso de Adolf Hitler, somado ao golpe direitista de Dolfuss na Áustria, em 1934. Apesar de terem perdido as eleições, os nacionalistas passaram a conspirar contra o governo, com o apoio dos militares e dos regimes fascistas (de Portugal, Alemanha e Itália). Havia a crença de que com esse apoio derrubariam facilmente a Republica.

No dia 18 de julho de 1936 o General Francisco Franco comandou um levante do exército contra o governo Republicano, mas nas principais cidades do país como Madri e Barcelona o povo saiu às ruas impedindo o sucesso do golpe. A partir daí milícias ou falanges formadas por anarquistas e socialistas foram formadas para resistir ao golpe militar.

Em pouco tempo o país se dividiu com regiões dominadas pelos nacionalistas, com o predomínio das forças do General Franco e outras regiões onde agiam as forças republicanas, controladas pelos esquerdistas.

Nas áreas republicanas houve uma revolução social: terras foram coletivizadas, fábricas foram dominadas pelos sindicatos, assim como os meios de comunicação passaram a ser controlados, bem como os artistas e intelectuais. A Igreja, por ser considerada aliada das forças nacionalistas, passou a sofrer as consequências deste suposto apoio. O espírito anticlerical e antieclesiástico aumentou consideravelmente e muitos membros do clero foram assassinados, entre eles os Missionários Redentoristas das Comunidades de Cuenca e Madri.

Leia MaisPapa reconhece martírio de Vicente Renuncio Toribio e 11 companheirosConsequências da Guerra Civil

O General Franco tinha superioridade de forças por ter o exército ao seu lado, sendo um fator decisivo para a vitória da Frente Nacionalista sobre a República. Em 1938, suas forças cortaram a Espanha em duas partes, isolando a Catalunha esquerdista e republicana do resto do país.

A Guerra Civil Espanhola foi um aperitivo daquilo que aconteceria na Segunda Guerra Mundial, a partir de setembro de 1939, pois as potências nazifascistas aproveitaram-se do conflito para testar seu poder bélico. Os mais famosos dos experimentos feitos pelos nazistas é o bombardeio e destruição da cidade de Guernica, retratado pelo pintor Pablo Picasso e sua mais famosa obra.

A Espanha continuou isolada em relação ao mundo até a morte de Franco, na década de 1970, quando, de acordo com seu próprio desejo, o governo foi entregue aos Bourbons, família real espanhola conduzida pelo rei Juan Carlos.

A Guerra Civil espanhola teve testemunhas ilustres. Além de Pablo Picasso e Salvador Dalí, George Orwell – o escritor do famoso livro “1984” – que após vagar por Paris e Londres, foi em 1936 para a Espanha integrar a Frente Popular, lutando ao lado dos republicanos. Ernest Hemingway foi cobrir a Guerra Civil para um jornal dos EUA e também acabou pegando em armas a favor dos republicanos. Sua obra "Por quem os Sinos dobram", foi transformada em filme estrelado por Gary Cooper e Ingrid Bergman. Federico Garcia Lorca, um dos principais escritores espanhóis, foi fuzilado por franquistas no início do conflito em Granada.

Algumas feridas da guerra não foram curadas até hoje, mas um dos testemunhos mais contundentes continua sendo o testemunho daqueles mártires que deram a sua vida pela causa do Reino de Deus.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

0

Boleto

Carregando ...

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por Redação A12, em História da Igreja

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.

Carregando ...