História da Igreja

A Igreja condena o Fascismo

Escrito por Redação A12

21 OUT 2022 - 09H59 (Atualizada em 21 OUT 2022 - 11H15)

As primeiras décadas do século XX foram marcadas por fortes atritos entre as grandes potências que lutavam pelo domínio do mundo. Os contrastes políticos entre os estados europeus cresceram cada vez mais, provocando a formação de dois blocos antagônicos, tendo de um lado Inglaterra e França, que se opunham à Alemanha e Itália. Poucos anos mais tarde, também o Japão e os Estados Unidos estariam envolvidos neste conflito.

A rivalidade provocou a corrida armamentista, a luta pelo domínio do mar, a mobilização de grandes exércitos, e a ação política e diplomática passam a ser substituídas pela política de ultimatos. Além disso, percebia-se o fermento nacionalista no Império Austro-Húngaro que iria se dividir, a disputa entre Estados Unidos e Japão pelo domínio do Oceano Pacifico e a concretização de uma política de tratados e pactos secretos.

A mediação do conflito proposta pela Santa Sé não foi aceita pela maioria dos países e, como consequência, o mundo cairia na Primeira Grande Guerra Mundial, que se desenrolaria em diversas etapas (1914-1918). Os tratados de paz assinados na conclusão da guerra não resolveram os conflitos, e, ao contrário, geraram mais insatisfação e um grande desejo de revanche por parte dos derrotados.

No período entre as guerras, regimes totalitários surgiram em vários países da Europa, sabendo explorar este clima de insatisfação reinante para crescer. Aproveitando-se da crise socioeconômica e da chamada Grande depressão (1929), prometendo mundos e fundos, Mussolini tomou o poder na Itália, em 1922, e Hitler fez o mesmo na Alemanha, em 1933.

O Pacto Lateranense. Na história da Igreja, o período entre as duas grandes guerras ficou marcado pela assinatura do Pacto de Latrão, em 1929, o que colocou fim a um dissídio entre Igreja-Estado chamado de “Questão Romana”, que já durava 70 anos. A Igreja perdeu a maior parte de seus territórios, mas manteve o Vaticano e conseguiu uma maior liberdade de ação.

Leia MaisVocê sabe o que é fascismo?A ascensão de Mussolini e a predominância do fascismo

Benito Mussolini chegou ao poder em outubro de 1922, após a Marcha sobre Roma junto com os “Camisas Negras”. Um mês depois, o Parlamento lhe concederia plenos poderes.

Animado com a esmagadora vitória nas eleições de 1924, ele criou um Estado fascista baseado no corporativismo, no intervencionismo estatal na economia e no expansionismo militarista, pelo qual realizou ações armadas na Etiópia e na Guerra Civil Espanhola.

Ao mesmo tempo, tomou medidas restritivas à imigração, reforçou a censura e passou a perseguir a oposição política por meio da Milícia Fascista, os Camisas Negras. O “Duce”, como Mussolini era chamado, tornou-se presidente do Conselho, respondendo apenas ao rei, governando por decretos de forma autoritária. A partir daí começa o culto e o endeusamento de sua figura.

Características do fascismo

O fascismo italiano possuía algumas características bem distintas:

1. Implantação de um sistema unipartidário ou monopartidário, no qual apenas o próprio partido fascista tinha direito à atuação no sistema político nacional.

2. Culto ao chefe/líder, apresentado como a única pessoa capaz de guiar a nação ao seu destino.

3. Desprezo pelos valores liberais, nos quais estão inclusas as liberdades individuais e a democracia representativa.

4. Desprezo dos valores coletivistas, como o socialismo, comunismo e outras formas menores de governo. A própria democracia é relativizada em detrimento da ditadura.

5. Campanha de perseguição contra pessoas ou grupos, vistos como “inimigos do povo” e do país.

8. Uso da retórica contra os métodos políticos tradicionais, afirmando que estes foram incapazes de combater as crises e de levar a nação à prosperidade;

8. Exaltação dos “valores tradicionais” como Deus, família, pátria, em detrimento de valores considerados “modernos”;

9. Mobilização das massas e controle total do Estado sobre assuntos relacionados à economia, política e cultura.

Leia MaisConhecendo os Evangelhos: Jesus não quis ditadoresO que fazer quando o padre de minha paróquia age como um ditador?Neofascismo. Hoje os termos fascismo ou neofascismo são usados como referência a regimes políticos que possuem características bastante semelhantes à do fascismo histórico e suas derivações, onde se pratica um patriotismo exagerado que, muitas vezes, assume posturas violentas e xenófobas.

Neste regime cresce o desprezo pela democracia liberal, mesmo podendo ser construídos regimes com ar democrático pela realização de eleições, mas com uma ação autoritária e doutrinadora, que visa manipular as massas como forma de atender aos próprios interesses.

Neste tipo de regime, pessoas ou grupos dissidentes são encarados como inimigos e são alvo de medidas repressoras contra eles, como forma de combater a oposição política e o debate de ideias. Primeiro de uma forma velada e depois de maneira mais acintosa, a violência torna-se uma característica da ação política e social desse regime, que usa muito de milícias armadas para impor o seu poder.

Shutterstock
Shutterstock

Papa escreve encíclica contrária ao fascismo

No dia 29 de junho de 1931, o Papa Pio XI publicou a encíclica chamada “Non Abbiamo Bisogno” (“Não temos necessidade”) destinada à Ação Católica, na qual critica a concepção totalitária de Estado, reivindicando os direitos naturais da família e sociedade.

Ele não critica diretamente o fascismo, mas declara que alguns de seus postulados são incompatíveis com a doutrina católica.

A Igreja italiana estava dividida, pois boa parte do clero e do episcopado apoiava o ditador Mussolini e seus atos, apesar das contradições do próprio regime. Os que eram contrários recebiam duras críticas dentro da própria instituição.

Depois da publicação, como era de se esperar, apesar do entendimento anterior entre a Igreja e o Estado Italiano, começou uma ação repressiva contra a Igreja. O ditador Mussolini ordenou a dissolução de entidades católicas e o cerceamento das liberdades individuais. O clero passou a ser fiscalizado em suas ações e o medo se instalou em muitas organizações eclesiais.

Anos mais tarde, em 1937, o mesmo papa Pio XI publicaria a carta-encíclica “Mit Brenneder Sorge” (“Com profunda preocupação”) na qual condena o nazismo alemão e, ainda no mesmo ano, publica a encíclica Divini Redemptoris, na qual aponta a face ateia, anticristã, anti-família e anti-humana também no comunismo.

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

0

Boleto

Carregando ...

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por Redação A12, em História da Igreja

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.

Carregando ...