História da Igreja

A Igreja e a Cultura Medieval

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

02 JUN 2022 - 09H46 (Atualizada em 02 JUN 2022 - 10H45)

Nesse artigo, apresento um assunto que ainda hoje é gerador de críticas e incompreensões, seja pelo desconhecimento da maioria, como também pelos que são mal intencionados, buscando diminuir a Igreja em sua missão, que ainda hoje tem um viés temporal.

No período medieval, além de ser a maior autoridade religiosa, o papa, como representante maior da Igreja, controlava com o seu poder a ordem temporal. Parte do poder era originário da riqueza que a Igreja acumulava com as doações dos fiéis, outra parte vinha de sua posição política superior a todas as autoridades da terra. Chegaria o momento em que se cunharia a seguinte expressão: “O papa julga e não é julgado por ninguém”.

Desde 756, o papa se tornou o administrador do Patrimônio de São Pedro, conhecido como Estados Pontifícios, constituído por um grande território que teve origem com as doações de Pepino, rei dos francos. O poder da Igreja levou o papa e outras autoridades eclesiásticas a se envolverem em conflitos com monarquias medievais, dos quais o mais célebre foi a Questão da Investiduras, ocorrida no século XI, envolvendo o papa Gregório VII e o imperador do Sacro Império Romano Germânico, Henrique IV.

A Igreja chegou a controlar quase um terço das terras da Europa Ocidental e, numa época em que a terra constituía a base de riqueza da sociedade, ela se tornou muito forte e poderosa.

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O poder temporal da Igreja e sua influência na sociedade

Fortalecida desde o fim do Império Romano, a Igreja teve sua influência ampliada quando os francos, um dos mais fortes povos germânicos, entraram no espaço do antigo Império Romano, convertendo-se ao cristianismo. A união da Igreja com os francos, a partir da coroação de Carlos Magno no natal de 800, faria surgir primeiro o Sacro Império Romano e depois o Sacro Império Romano-Germânico.

Aos poucos, no contexto da sociedade medieval, a Igreja passou a responder por aspectos que dariam a garantia da unidade cultural e religiosa da Idade Média, pela integração da fé cristã com a cultura através da língua latina. Ao fazer isso, o cristianismo forjou a unidade espiritual, religiosa e cultural da civilização medieval.

Além de ser presença entre a população graças à doutrina, cujos pontos principais vão sendo aos poucos sistematizados, a Igreja controlava também a educação, pelo Sistema Escolástico baseado no Trivium e Quadrivium.

Somente no final do século XI, com o surgimento das universidades desvinculadas do poder eclesiástico, é que a Igreja começaria a ter o seu predomínio questionado. Mas muitas universidades da Europa surgiram e se desenvolveram a partir das escolas da Igreja.

Além de ter a cultura marcada pelos valores da Igreja, o principal da arte e da literatura medieval também tem marcas religiosas em todas as suas expressões.


Exemplo de arquitetura gótica, originado na Idade Média

Arte cristã e suas expressões

Na arquitetura, dois estilos vão predominar durante a Idade Média: o estilo românico e o gótico, que marcariam a época.

O primeiro, fruto da situação de uma época marcada por invasões e perigos, representado pelas basílicas, apresenta traços simples e rigorosos, com paredes e muros bem reforçados, janelas estreitas e pilares grossos.

O segundo era mais leve, elegante, apresentando traços mais verticais. As janelas recebiam ornamentos de vidro com mosaicos coloridos, além de garantir uma boa iluminação, paredes angulosas, altas; e pilares mais extensos.

Por toda parte na Europa sobrevivem as basílicas românicas e as catedrais góticas, que hoje fazem parte do patrimônio cultural da humanidade. A Escultura completava o ambiente das catedrais.

Na pintura, as figuras passam a ser retratadas com traços mais humanizados, com abundância de cenas que retratam passagens das Sagradas Escrituras ou da vida de santos.

Um grande destaque são os mosaicos.

Na música, houve também influência da Igreja, sendo o estilo sacro o de maior destaque. Mas, aos poucos, o canto gregoriano vai dando espaço à música polifônica.

No período também se destacam os trovadores e menestréis da música popular. Os primeiros eram compositores e poetas românticos “popularescos”, já os segundos eram os acompanhantes dos trovadores.

Outro campo que se desenvolveu bastante foi a literatura, com estilos variados onde vai se projetar Dante Alighieri, com sua Divina Comédia. No campo teológico e filosófico, serão muitos os nomes, com realce para Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.

Leia MaisHistória da Igreja: Caridade e medidas sanitárias ao longo dos temposArte pensada para educar pelos olhos

A maioria da população europeia, quase a totalidade dos pobres, era analfabeta. Desta forma, a arte religiosa era um meio de ensinar e educar os fiéis, inundando os seus olhos e, por tabela, a inteligência.

Além disso, o ar monumental, sombrio e grandioso dos vitrais e das estátuas tinham o sentido de impressionar os fiéis, a fim de que não desobedecessem aos preceitos. Os hábitos, calendário, horas do dia e costumes medievais são marcadamente influenciados pelo religioso.

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O conhecimento e as universidades

Ao mesmo tempo em que a Igreja Católica direcionava as práticas comportamentais e de pensamento de grande parte da população europeia, no seu interior desenvolveram-se importantes práticas culturais, onde ganha realce o trabalho primeiro dos monges medievais, e depois das Ordens Religiosas.

Diversas universidades surgiram em decorrência das atividades de ensino e reflexão filosófica praticadas nos mosteiros e catedrais.

Nos mosteiros, além de serem locais de uma vida reclusa, com os monges isolados do convívio em sociedade, havia uma grande dedicação ao conhecimento, com suas bibliotecas e escolas, onde se praticava uma intensa vida cultural. Os monges, e depois os religiosos que surgiriam na segunda parte da Idade Média formariam a elite intelectual desse período, muitas vezes em contraste com o clero secular, que tinha uma menor formação.

Leia MaisIgreja: Na Idade Média instituição ganhou força políticaMas é certo que, através do ensinamento dos padres e dos que por eles foram formados, o conhecimento desenvolveu-se no período, e dentro das igrejas e catedrais desenvolveram-se artes como a gramática, retórica, lógica, geometria, música e outros.

A partir do século XI, com a abertura da Europa e com a demanda por novos conhecimentos, as universidades foram se desenvolvendo, inicialmente controladas pela Igreja.

Em diversos pontos da Península Itálica, na França e na Inglaterra apareceram essas primeiras instituições de ensino superior. Já no final do século XIV, havia mais de 40 instituições deste tipo espalhadas por todo o continente europeu.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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Por Redação A12, em História da Igreja

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