História da Igreja

A Queda de Constantinopla

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

18 ABR 2022 - 08H29 (Atualizada em 18 ABR 2022 - 10H44)

A imponente cidade de Constantinopla (hoje, Istambul) localizava-se entre as principais rotas comerciais que ligavam a Ásia à Europa. O principal porto que ligava o Mar Mediterrâneo ao Mar Negro também ficava naquela região.

O imperador romano Constantino, após assumir o comando do império, transferiu a sede do Império Romano para a colônia grega de Bizâncio, devido às invasões bárbaras, surgindo daí a cidade que leva o seu nome. Mais tarde, no tempo do imperador Teodósio, o Império Romano se dividiu, ficando uma sede no Oriente, tendo Constantinopla por capital e a outra sede ao Ocidente, tendo Milão como a capital.

Depois da divisão entre a Igreja Católica e a Ortodoxa, a cidade de Constantinopla acabou se mantendo distante dos povos ocidentais. Devido às ameaças externas vindas dos turcos otomanos, o imperador João VIII solicitou um concílio na Itália, buscando resolver o distanciamento entre as duas igrejas e os dois impérios.

Com a pressão e cerco dos turcos comandados por Maomé II, o comércio existente entre a Ásia e a Europa entrou em um período de declínio e, para contornar a crise, os europeus iniciaram a busca de novas rotas comerciais, dando origem ao período das Grandes Navegações.

A cidade de Constantinopla tomada pelos turcos otomanos

No dia 29 de maio de 1453, a cidade de Constantinopla, capital do Império Bizantino desde 395, caiu nas mãos do sultão otomano Maomé II, após um cerco de diversas semanas. A cidade foi rebatizada de Istambul, atingindo o apogeu sob o reinado de Solimão I, chamado de o Magnífico (1520-1566).

Até o momento de sua queda, Constantinopla era uma das cidades mais importantes no mundo. Localizada no estreito do Bósforo, entre o mar Negro e o mar de Mármara, funcionava como uma ponte para as rotas comerciais que ligavam a Europa à Ásia por terra. Tinha também o principal porto para as rotas que iam e vinham entre o mar Negro e o mar Mediterrâneo. Ainda hoje os estudiosos tentam explicar como uma cidade deste porte e magnitude tenha caído em mãos inimigas.

A fundação de uma nova cidade

A criação de Constantinopla se deu pela necessidade de defesa das fronteiras orientais, porque o oriente havia se tornado a parte mais importante do domínio romano. Além disso, Roma ainda vivia sobre muitos elementos pagãos, o que era inconveniente num império com nova identidade cristã. Desse modo, Constantino decretou a construção de uma nova capital, onde ficava a antiga fortaleza grega de Bizâncio, ponto de grande importância estratégica.

A nova cidade recebeu o nome de Constantinopla, "cidade de Constantino" sendo concebida como a "nova Roma" e rapidamente se tornou o centro político e econômico do Império. Sua criação teve repercussões também no plano eclesiástico: enquanto em Roma a Igreja Católica adquiriu autoridade e autonomia com a concentração de poderes nas mãos do papa, em Constantinopla o poder civil controlou a Igreja, submente sua autoridade maior.

O declínio do Império Bizantino já vinha acontecendo, mas aumentou com a expansão dos turcos seljúcidas e com os conflitos com os húngaros.

Leia MaisIgreja: Na Idade Média instituição ganhou força políticaRazões da queda de Constantinopla

A cidade foi invadida e tomada na Quarta Cruzada, em 1204. O ataque feito pelo mar, levou ao saque da cidade e nem os tesouros da Igreja Ortodoxa, com as supostas relíquias cristãs acumuladas por quase 1000 anos, foram poupados.

A justificativa do ataque cristão se deu porque, em 1190, a Terceira Cruzada, formada pelas potências ocidentais, não recebeu dos bizantinos o apoio esperado quando se dirigia à Terra Santa. Outra razão foi o cisma religioso não resolvido apesar dos esforços das duas igrejas.

Além do mais, o costume de se distribuir entre os comandantes e seus soldados o butim de guerra, formado pelos lendários tesouros e famosas relíquias foi outro motivo do saque. Na época as cruzadas já haviam perdido aquela motivação original que levou à sua convocação.

Após a conquista foi instaurado o Império Latino (1204-1261), com o reinado de Balduíno I (Balduíno IX, Conde da Flandres). Parte dos territórios bizantinos foram divididos entre os chefes cruzados, formando reinos independentes nas regiões de Tessalônica, Trebizonda, Épiro e Nicéia.

Mais tarde, os bizantinos reuniram forças e, em 1261, retomaram Constantinopla restabelecendo seu domínio sobre toda a Península Balcânica, mas passaram a governar um império depauperado economicamente, sem o apoio da Igreja Católica, situação que perduraria até 1453.

Antes mesmo da cruzada, o Império Bizantino já vinha perdendo territórios para os muçulmanos tanto no Oriente como no norte da África, e no interior do Império do Oriente já era corrente a crise sucessória ao trono bizantino, o que facilitou a investida da cruzada.

No início do século XI, uma tribo turca vinda da Ásia Central, os seljúcidas, começou a atacar e ganhar territórios bizantinos na região da Anatólia. No final do século XIII, já havia tomado quase todas as cidades gregas da Anatólia.

Nesta mesma época, um clã turco seminômade migrado do norte da Pérsia, tendo como líder Osman I ou Othman, levou os turcos a serem conhecidos como "otomanos" e, coisa impensável alguns séculos antes, acabaram conquistando a poderosa Constantinopla.

Consequências da queda

A queda de Constantinopla teve grande impacto no Ocidente. Na época havia uma grande confiança na resistência das muralhas, pois todos os que tentaram ultrapassá-las haviam fracassado. Conversações para uma nova cruzada para liberar Constantinopla do jugo turco tinham sido iniciadas, mas nenhuma nação quis ceder tropas naquele momento.

Hoje é consenso de que a Queda de Constantinopla marcou o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna.

A partir da queda de Constantinopla o comércio entre Europa e Ásia declinou rapidamente. Nem por terra nem por mar os mercadores conseguiam passagem para as rotas que levavam à Índia e à China, de onde provinham as especiarias e artigos de luxo.

As nações europeias iniciaram então projetos para estabelecerem rotas comerciais alternativas. Portugueses e espanhóis aproveitando-se de sua posição geográfica junto ao Oceano Atlântico e à África tentaram um caminho ao redor deste continente para chegar à Índia. Já Cristóvão Colombo via uma possibilidade de chegar à Ásia pelo oeste, através do Oceano.

Com as Grandes Navegações, Portugal e Espanha, países outrora sem muita expressão, se tornariam no século XVI os mais poderosos do mundo, estabelecendo uma nova ordem mundial.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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