Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 27 MAR 2019 - 11H00

A Reforma Luterana

O pais que hoje chamamos de Alemanha era, desde a Idade Média, parte do Sacro Império Romano Germânico. Criado no século 11 como uma extensão temporal do poder do papado, houve momentos em que o poder imperial entrou em choque com o papa, como na famosa questão envolvendo as Investiduras de bispos pelo poder temporal. A vitória do papado nessa que ficou conhecida como a Questão das Investiduras aprofundou o poder político da Igreja na região.

Mapa - Sacro Império Romano

O Sacro Império Romano foi uma tentativa de reconstruir o Império Romano do Ocidente, cuja estrutura política e legal sucumbiu durante os séculos V e VI.

Por outro lado, o enorme poder exercido pela Igreja tornava-a objeto de cobiça e um local ideal para a venda de relíquias e indulgências. Empenhado na construção da Basílica de São Pedro, o papa Leão X (1513-1521) encarregou o dominicano John Tetzel de realizar uma maciça venda de indulgências por toda a Alemanha.

Foi contra isso que se voltou o duque Frederico da Saxônia, impedindo a entrada de Tetzel em seu território. A alegação para a proibição foi o fato de a Igreja ter feito um acordo com uma família de banqueiros alemães, os Függer, no qual os banqueiros emprestavam à Igreja o dinheiro necessário em troca da garantia de metade da renda obtida com a venda de indulgências.

Dessa forma é importante perceber que de todos os recursos amealhados com as indulgências a maior parte ficava pelo caminho.

Martinho Lutero

Martinho Lutero (1483-1546) que era monge agostiniano e professor de teologia na Universidade de Wittenberg, envolveu-se nesse conflito, contando com o apoio de Frederico. Na verdade, as críticas de Lutero à prática da Igreja já eram antigas, encontrando nesse contexto apenas o espaço apropriado para sua disseminação.

Em 1517, Lutero fixou na porta da catedral de sua cidade um documento intitulado "95 Teses Contra as Indulgências". Lutero não só criticava violentamente a prática, denunciando que o dinheiro das indulgências era usado para outras finalidades como a de financiar o luxo do clero o que produzia o seu desregramento, como também se opunha a dogmas da Igreja. Ao afirmar que as indulgências eram incorretas, pois o fiel se salva não pelos atos que pratica, mas pela fé, Lutero incorria na negação à doutrina da Igreja, praticando uma heresia e expondo-se assim à ação da Inquisição.

Excomungado como herege em 1520 pelo papa, recusou-se também a se retratar na Dieta de Worms, convocada pelo imperador Carlos V (Carlos de Habsburgo) e composta por nobres laicos e eclesiásticos do Sacro Império. Estes, por sua vez, tinham interesse em apoiar Lutero, interessados em livrar-se da autoridade papal e em limitar o poder do imperador, profundo defensor do catolicismo. Foram os príncipes alemães e a alta nobreza que ocultaram Lutero num castelo da Saxônia, impedindo sua execução.

A Reforma Luterana só avançou por causa dos interesses dos príncipes que de uma vez se livravam de dois incômodos, o papa e o imperador.

Martinho Lutero

Martinho Lutero

Não fosse pelo apoio dos príncipes alemães a Reforma Protestante não teria avançado

Guerras e revoltas

Durante os três anos em que ficou oculto, Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, uma forma de tornar seu conhecimento mais difundido entre a população, de modo a provar o quanto a Igreja havia se afastado dos propósitos cristãos.

Em sua maioria, os príncipes alemães declararam-se adeptos da nova religião proposta por Lutero. Vendo nisso uma clara ameaça ao seu poder, o imperador Carlos V impôs o catolicismo como religião oficial do império. Os príncipes protestaram contra essa imposição (daí advindo o termo "protestante"), dando início a um longo processo de guerras de religião na Alemanha.

Por outro lado, além do apoio da nobreza, por razões políticas, as ideias de Lutero despertaram o apoio dos camponeses, vendo nos ataques à Igreja uma oportunidade de reduzirem o grau de profunda desigualdade e exploração a que estavam submetidos. Várias revoltas camponesas eclodiram na Alemanha, entre elas a principal foi liderada por Thomas Müntzer.

Lutero voltou-se violentamente contra esses movimentos, posto que, dependente do apoio dos nobres, ele jamais poderia colocar-se ao lado de revoltas camponesas. Assim, Lutero defendeu a postura mais agressiva possível contra eles. A repressão aristocrática aos camponeses durou de 1524 até 1536 e produziu mais de cem mil mortos.

Mudanças

Leia MaisO desdobramento da Reforma LuteranaPrincipais afirmações da Reforma LuteranaEm 1527, Lutero, juntamente com Melanchton, que foi quem realmente propagou os ideais da Reforma, elaborou a Confissão de Augsburgo, que estabelecia os princípios de sua doutrina que tinha como pontos principais a firmação de que as Escrituras Sagradas fossem o único dogma da nova religião. Em sua Confissão a fé era vista como a única fonte da salvação. Além do mais, ele propunha a livre interpretação da Bíblia, negava a transubstanciação (transformação do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo), com a crença de que a presença de Cristo na Eucaristia fosse somente espiritual. Em vez do latim, o alemão foi adotado como idioma nos cultos religiosos e a Igreja passava a ficar submetida ao estado, e, finalmente, permaneciam apenas dois sacramentos: o batismo e a eucaristia.

Em 1555, a Dieta de Augsburgo permitiu que cada príncipe escolhesse a sua religião, que passaria a ser também a de todos os seus súditos ("cujus régio ejus religio" - tal príncipe, sua religião). O luteranismo triunfaria na Alemanha e seria adotado também na Suécia, em 1527 e na Dinamarca e Noruega, em 1536, como uma forma de afirmação dos poderes reais contra a interferência de Roma.

:: Os Precursores da Reforma: John Wyclif e Jan Huss


Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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