Como nasceu a Europa?

PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA

HISTÓRIA MEDIEVAL 02

Shutterstock

Os testemunhos do período histórico que conhecemos como Idade Média ainda florescem: As marcas mais fortes da Idade Média ainda se fazem presente entre nós, sobretudo na Europa, em seu legado cultural e nas instituições. Este período histórico não foi uma idade de trevas como durante muito tempo se pensou, mas uma época de muita riqueza e determinação. Basta a gente lembrar do nascimento das universidades, dos bancos, assembleias de deputados, música polifônica, arquitetura das catedrais e produção de alimentos que ainda hoje consumimos. São muitas as expressões da cultura medieval que ainda hoje persistem em suas maiores conquistas.

A Idade Média não foi uma época de trevas e sim de paradoxos: Corrupção e santidade, riqueza e pobreza, processos de tortura e processos de criação artística, falta de estabilidade política e luta pela centralização do poder.

Quando falamos em Idade Média, é quase impossível não lembrar aquela antiga definição que costumava designar esse período histórico como sendo uma “idade de trevas”. Geralmente, este tipo de conceituação pretendia atrelar uma perspectiva negativista ao tempo medieval, como sendo uma experiência de pouco valor que nada pode acrescentar ao “desenvolvimento” dos homens.

Leia MaisHistória Medieval: Veja curiosidades sobre o avanço da civilizaçãoPara entendermos essa depreciação, é necessário que cheguemos aos responsáveis pela crítica à Idade Média. Foi durante o Renascimento, movimento intelectual do período moderno, que observamos a progressiva consolidação desta visão histórica negativa. Para os renascentistas, a Idade Média representou um grave retrocesso para a humanidade em todos os campos.

Conhecendo esta linha de pensamento, vemos que a visão da Idade Média foi muito simplificada, colocada na condição de oposto aos valores que dominavam a civilização greco-romana conhecida como Antiguidade Clássica. Os renascentistas se colocavam na condição de sujeitos que fizeram o trabalho de “sequenciar” os traços culturais, artísticos e científicos que atingiram seu apogeu na Antiguidade Clássica, mas que “melancolicamente” foram abandonados entre os séculos V e XV.

Um olhar mais atento do mundo medieval nos revela que estas considerações estão bem distantes dos vários acontecimentos dessa época. Existem vários elementos que colocam a Idade Média em outra ótica e em outra perspectiva, mais coerente e despida dos vários preconceitos herdados da Idade Moderna.

O desenvolvimento da cultura cristã, as heresias, as peculiaridades de um contexto político descentralizado, a percepção do tempo no interior dos feudos, as festas e torneios são realidades que revelam que esse período histórico é bem complexo e interessante. Com esses artigos que estamos começando sobre o período medieval queremos que estas luzes nos permitam entender melhor o tempo medieval de forma mais justa e equilibrada.

Questões de Fundo

Para melhor entendermos o tempo histórico que passamos a estudar, em vários artigos que serão publicados é preciso apresentar alguns elementos que são fundamentais para a sua compreensão.

Concepção Eclesiológica: Na Idade Média a fé cristã era o elo de todos e de tudo. Daí vinha a concepção de que só na Igreja haveria salvação.

Concepção Política: A rivalidade entre o papa e o imperador e a oposição entre o Ocidente cristão e romanizado e o Oriente ortodoxo é fruto da concepção política de então. Aos poucos cresceria a ameaça, do islamismo.

Origens do poder da Igreja: O clero era a única classe letrada e fazia a ligação entre a cultura clássica e o mundo feudal. O alto clero participava da administração dos feudos e muitos bispos eram governadores ao lado dos reis e príncipes.

A Igreja cuida de preservar o legado recebido: O latim, o respeito e cuidado pela palavra escrita, o registro dos acontecimentos e a criação de um imenso patrimônio artístico e cultural são marcas fortes do legado recebido e transmitido ao longo dos séculos.

Subdivisões da Idade Média

O período histórico que chamamos de antiguidade não se extinguiu de uma vez, mas foi se apagando aos poucos, como se fosse uma chama balançada pelo vento. Em várias regiões da Europa as tradições romanas ainda continuarão coexistindo com novos elementos por diversos séculos.

Papas, escolas e escritores cristãos contribuirão para que a passagem da Idade Antiga para o Período Medieval se fizesse de modo lento e gradual, ainda que algumas questões se fizessem mais urgentes como a evangelização dos novos reinos formados onde antes existira o grande Império Romano.

Por uma motivação de caráter pedagógico e didático a Idade Média pode ser assim dividida:

A) Fase de Incubação: Período que vai do século V ao século VIII no qual os elementos da cultura romana e dos povos germânicos vão se unindo aos poucos para formar o chamado sistema feudal.

B) Alta Idade Média: Período que vai do século VIII ao XI no qual vão predominar os elementos que bem caracterizam a Idade Média. Este tempo é chamado também de fase de coesão.

C) Fase de diástase: Período que vai do século XI ao XIV, também chamado de Baixa Idade Média, no qual a Igreja vai se libertando aos poucos da tutela do estado.

D) Fase de Dispersão: Período que vai do século XIV ao XVI. Nele já começam a aparecer os sinais do humanismo, da renascença e da reforma protestante pondo fim à Idade Média.