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História da Igreja

Sacro Império Romano: como o Papa Leão III mudou a sociedade

Pe Jose Inacio de Medeiros

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

10 DEZ 2025 - 15H52 (Atualizada em 11 DEZ 2025 - 10H18)

Reprodução: Adobe Stock: Aleksandar Todorovic

Houve tempos em que a Igreja esteve muito mais associada ao poder temporal, chegando a constituir um império de marcas terrenas, se transformando numa das maiores potências políticas de seu tempo.

Nesse contexto, o Papa se rivalizava em poder com as maiores autoridades da terra. Isso se deu, especialmente, com a constituição do Sacro Império Romano, tentativa de resgatar a grandeza do antigo império romano, levando à constituição da Cristandade Medieval, que tinha também um caráter territorial e temporal.

Carlos Magno e o Papa Leão III

No final do século VIII, a Europa era o centro do mundo, mas o poder estava muito fragmentado, repercutindo ainda a descentralização política produzida pela queda do Império Romano que havia ocorrido no século V.

No lugar do império surgiram muitos reinos regionais, dos quais diversos precisavam ser evangelizados. Havia então duas pessoas que se rivalizavam em poder: O imperador Carlos Magno, dos francos, e o Papa Leão III.

Nesse período, a autoridade do papa estava sendo colocada em xeque e o pontífice estava perdendo influência sobre um mundo cristão unido. Os imperadores do Império Bizantino eram os maiores rivais da Igreja Romana. No ano 799, o Papa chegou a ser atacado por um grupo de dissidentes em Roma que conseguiram atingir sua pessoa, ferindo o seu olho e arrancando parte de seus cabelos.

O Papa conseguiu fugir, indo em busca de proteção junto a Carlos Magno, que era leal ao sumo pontífice. Nesse tempo, o Papa ainda não morava no Vaticano, aonde ia apenas nas ocasiões festivas e especiais. Sua residência ficava junto à Basílica de São João de Latrão e os francos eram os seus protetores.

Carlos Magno não somente ajudou Leão III a retornar a Roma, como também restaurou a ordem nos Estados Pontifícios que já abrangiam boa parte da Itália atual através de uma delicada diplomacia.

No Natal de 800, enquanto assistia à missa na Basílica de São Pedro, “de surpresa” ele foi coroado pelo Papa Leão III como imperador romano em nome de Deus e com o testemunho de autoridades eclesiásticas.

Documentos da época sugerem que Carlos Magno não estava totalmente ciente do que poderia acontecer em São Pedro naquele dia, mas historiadores posteriores acham isso duvidoso. Certamente, a nomeação de Carlos Magno como primeiro imperador romano desde Rômulo Augusto foi uma decisão tomada entre Leão III e o próprio Carlos Magno.

A antiga reivindicação dos francos de serem os únicos e verdadeiros descendentes do Império Romano recebeu então nova vida, sendo bem aceita pelos povos colocados sob o governo de Carlos Magno.

Antes mesmo de sua coroação, rumores sobre um novo tipo de unificação ou criação de um imperium Christianum (império cristão), já haviam se espalhado entre as nações cristãs da Europa. A coroação de Carlos Magno trará para o lado do pontificado o maior aliado que poderia desejar, mas, por outro lado, contribuiria para afastar ainda mais a Igreja do Ocidente em relação à do Oriente.

O nascimento do Sacro Império Romano

A coroação de Carlos Magno como imperador cristão trouxe a marca de uma nova hegemonia romana e cristã estabelecida com sucesso. O Sacro Império Romano nasceu tendo Carlos Magno como seu primeiro imperador, sacralizando o poder temporal. Além disso, o estabelecimento do Sacro Império Romano em 800 pode ser visto como um grande momento de virada na história europeia.

Pela primeira vez em séculos, as potências políticas e espirituais da Europa Ocidental poderiam ser vistas como um oponente digno das potências orientais bizantinas porque o Império Oriental, em consonância com a Igreja Ortodoxa, estava presente no Noroeste da Itália através do Exarcado de Ravena, e isso nunca foi plenamente aceito por Roma.

Nesse tempo já começavam as marcas do distanciamento entre Roma e Bizâncio, entre Ocidente e Oriente que se consumaria séculos mais tarde. Entretanto, através das conquistas de Carlos Magno, a imagem de uma Europa tradicionalmente católica romana como conhecemos hoje começou a tomar forma, com a fé cristã sendo o grande elemento de unificação integrando fé, cultura e ações políticas.

Com alguns de seus sucessores nos séculos vindouros, as dificuldades de relacionamento voltariam, especialmente com a linhagem de imperadores alemães depois da constituição do Sacro Império Romano Germânico, e em diversas ocasiões a Igreja se tornou totalmente submissa ao poder temporal.

As conquistas militares de Carlos Magno desaceleraram após o estabelecimento do Sacro Império Romano, mas suas ações continuaram a ser sentidas em toda a sociedade. Reformas sociais, educacionais e estruturais foram postas em prática durante os primeiros anos do século IX, a maioria com foco na unificação da lei, regularização do comércio e melhoria dos costumes.

Legado de Carlos Magno

Luís, o Piedoso, foi o sucessor de Carlos Magno como imperador após a morte do grande unificador da Europa em 814. Mas ele não tinha os mesmos dotes e habilidades políticas do pai.

A vida de Carlos Magno marcou uma nova Era para a Europa, não só política e espiritual, mas também do ponto de vista genealógico, pois quase todas as casas da realeza europeia estabelecidas após o seu reinado podem traçar sua ascendência até ele, incluindo a influente e poderosa Casa de Habsburgo.

Outra família que conta com Carlos Magno entre seus ancestrais é a Dinastia Capetiana, uma das mais antigas e resilientes da história europeia. Conhecida como Casa da França, os capetianos governaram o país de 987 a 1792 e novamente de 1814 a 1848.

Inúmeras ramificações e famílias se subdividiram da linha capetiana ao longo dos séculos, incluindo a família Bourbon-Anjou, cujo sangue corre nas veias dos membros da atual Família Real da Espanha. O estabelecimento do Sacro Império se baseia na criação da chamada “Lei das Duas Espadas” que fundamentaria e organizaria o poder e o relacionamento entre Papa e imperador.

A "Lei das Duas Espadas" se baseia na interpretação bíblica da passagem do evangelho (Lc 22, 38) que mostra Jesus instruindo seus discípulos a comprar espadas e ainda na teologia medieval, que distinguia o poder espiritual do poder temporal. Na interpretação bíblica, o uso das espadas é um cumprimento de profecia, enquanto na teologia, a metáfora das espadas simboliza a autoridade da Igreja e do Estado.

A doutrina estabelecia a separação de poderes entre a Igreja e o Estado, com a espada espiritual representando a autoridade da Igreja em assuntos espirituais, considerada superior à espada temporal que simboliza o poder do império sobre os assuntos terrenos, exercido por governantes civis, mas que devem agir sob a orientação da Igreja.

A submissão do poder temporal ao espiritual era a garantia de sua legitimidade, por isso o Papa podia depor de seu poder qualquer autoridade que não defendesse a Igreja, não promovesse sua ação apostólica e não o respeitasse.

O Sacro Império Romano-Germânico terminou oficialmente em 6 de agosto de 1806, quando o último imperador, Francisco II, abdicou do título, como resultado direto das Guerras Napoleónicas, com a crescente influência de Napoleão Bonaparte e a derrota militar de Francisco II. Após sua abdicação, o império foi dissolvido, e Francisco II se tornou Imperador Francisco I da Áustria.

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Escrito por:
Pe Jose Inacio de Medeiros
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista que atua no Instituto Histórico Redentorista, em Roma. Graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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