A interrogação acerca do que é o homem deve interessar à educação e a todos os que a escolheram como lócus de atuação. Esse interesse não se justifica apenas por nossa condição humana, tampouco cabe reduzir nossa existência aos amontoados físicos e biológicos de nossas manifestações no mundo. Não somos reprodução do que pensamos ser, somos o que somos!
A antropologia filosófica se edifica tendo como alicerce essa interrogação. A autenticidade da filosofia encontra no homem o seu sentido primeiro e destino de sua busca e inquietude. O homem é o objeto de estudo da filosofia antropológica, pois ele é o motor que dinamiza a existência e sofre todas as consequências de suas opções e escolhas, sejam as negativas ou as positivas. Ensina o Catecismo da Igreja Católica Apostólica Romana: “Na intimidade da consciência, o homem descobre uma lei. Ele não a dá a si mesmo, mas a ela deve obedecer.
Leia MaisFratelli Tutti: Três pontos analisados por Bartolomeu IChamando-o sempre a amar e fazer o bem e a evitar o mal, no momento oportuno, a voz desta lei ressoa no íntimo de seu coração... É uma lei inscrita por Deus no coração do homem. A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa sua voz”. (§1776)
O homem atua no mundo e, por essa atuação, tem necessidade de recriá-lo. Ele se localiza no mundo por uma infinidade de criações simbólicas e, por elas, ele expressa os seus sentidos e a falta deles. A busca pela verdade faz com que o homem avance nas interrogações sobre si; isto é, para a compreensão do seu próprio mistério. O homem experimenta a inquietação da busca. Como escreve João Paulo II, (1998.p 32) na Fides et Ratio (FR), nº 1. “São questões que têm a sua fonte comum naquela exigência de sentido que, desde sempre, urge no coração do homem. Da resposta a tais perguntas depende a orientação que se imprime à existência”.
Somente pela consciência, o homem torna-se capaz de se questionar sobre si mesmo e sobre toda a realidade que o rodeia. Somente pela consciência, consegue procurar as respostas às interrogações que dão sentido à sua existência. O Catecismo reforça: “Presente no coração da pessoa, a consciência moral lhe impõe, no momento oportuno, fazer o bem e evitar o mal. Julga, portanto, as escolhas concretas, aprovando as boas e denunciando as más. Atesta a autoridade da verdade referente ao Bem Supremo, de quem a pessoa humana recebe a atração e acolhe os mandamentos. Quando escuta a consciência moral, o homem prudente pode ouvir a Deus, que fala”. (§1777)
A humanidade, através da filosofia, da arte e da cultura, tem buscado respostas às muitas interrogações que podem explicar sua existência. Ao longo da busca, gera novas interrogações, inclusive 'interrogações sobre as interrogações', que constatam que o desejo da verdade pertence à própria natureza do homem. Com o apogeu das ciências, o homem está ameaçado de cair no horizonte limitado da razão pragmática, incapaz dos grandes interrogações na busca da verdade sobre si e da compreensão da realidade. Papa Bento XVI, no Discurso no Encontro com os Representantes das Ciências na Aula Magna da Universidade de Regensburg, em 12 de Setembro de 2006, refletiu com clareza:
Os enigmas suscitados pela interrogação sobre o homem interessam porque dão acesso à realidade do que não é redutível ao que já sabemos sobre nós mesmos ou sobre a condição humana em geral.
Não desprezando as contribuições das diversas ciências humanas, cabe lembrar que o interesse pela interrogação acerca do homem permanece vivo e independe delas. Cada vez que as respostas científicas se mostram insuficientes para eliminar os aspectos enigmáticos da existência humana, elas abrem para o nosso conhecimento horizontes infinitos de indagações.
O homem é o sujeito do conhecimento, mas também é o objeto da interrogação. Ao definir o homem como sujeito, podemos correr o risco de compará-lo a qualquer coisa ou qualquer ser vivente. Todos os seres são sim igualmente sujeitos, pois possuem uma identidade. No entanto, o homem como sujeito se diferencia dos demais por sua capacidade deliberativa e, essencialmente, por sua consciência.
Também neste caso, o Catecismo da Igreja é claro: “Na formação da consciência, a Palavra de Deus é a luz de nosso caminho; é preciso que a assimilemos, na fé e na oração, e a ponhamos em prática. É preciso, ainda, que examinemos nossa consciência, confrontando-nos com a Cruz do Senhor. Somos assistidos pelos dons do Espírito Santo, ajudados pelo testemunho e conselhos dos outros e guiados pelo ensinamento autorizado da Igreja”. (§1785)
Apesar de o homem ser suscetível às deliberações externas, pelo exercício de sua consciência também pode deliberar, assumindo sua condição de sujeito de si mesmo e objeto de suas próprias escolhas e não das fatalidades.
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