Quando todo o povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo. E, enquanto rezava, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba. E do céu veio uma voz: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer”.
Olhando para este texto do Batismo de Jesus, o que podemos aprender para a nossa vida de caminhada cristã? Principalmente aos pregadores, catequistas e líderes religiosos, essa é uma passagem muito marcante na vida de Jesus e na vida de todos os seus seguidores posteriores, pois nos ensina a abrir o coração à força do Espírito e nos unirmos intimamente com o Pai Celeste já aqui na Terra.
O relato do Batismo do Senhor está contido, de uma forma ou de outra, nos quatro Evangelhos. Existem algumas pequenas diferenças nos detalhes, mas a fulcro da mensagem é o mesmo. Conferir as citações em Mt 3, 13-17 e Mc 1, 9-11. A descrição do evangelista João é feita de forma indireta, conferir Jo 1, 15-18. Chegado o momento propício, Jesus desceu da Galileia ao lugar em que João batizava com água, no Rio Jordão, na região da Pereia. Depois de um breve diálogo com o Batista, que serviu de afirmação teológica de que Jesus era o Messias esperado por Israel, ele se deixa batizar para que “toda a justiça fosse cumprida”.
O Espírito Santo desce dos céus sobre Jesus e uma voz se manifesta dizendo: “Este é meu filho amado, em quem ponho meu deleite, agrado, contentamento (εὐδόκησα)”. A voz que vem do céu (φωνὴν ἐξ οὐρανοῦ) é a confirmação do início da vida pública de Jesus, assim como os sacerdotes do Antigo Testamento precisavam ser confirmados para exercer tal múnus. Lucas é o único que preserva a expressão “como forma corpórea, visível” (σωματικῷ εἴδει) ao se referir à pomba na manifestação do Espírito Santo. Isso para sinalizar que o acontecimento teve o aspecto visível a toda a multidão, ainda que o texto não diga se a voz teofânica tenha sido ouvida por todos.
Jesus, depois de viver a infância e a juventude de forma obscura em Nazaré, sente que está preparado para iniciar sua missão evangelizadora: comunicar a Boa Nova dentro de seu relacionamento de Filho para com o Divino Pai Celeste. Esvaziado de sua condição divina, dos privilégios do ser divino (cf Fl 2, 6-7), Jesus se desenvolve plenamente na caminhada comum do ser humano, crescendo em estatura, graça e sabedoria diante de Deus (cf Lc 2, 40).
Leia MaisO dom maior é o perdãoConhecendo os Evangelhos: Verdadeiros cristãosConhecendo os Evangelhos: Tua fé te curouA consciência messiânica de Jesus foi se desenvolvendo gradualmente, conforme ele aprendia sobre as realidades celestes com seu pai, sua mãe, seus vizinhos e amigos. Ele é homem de verdade, e não somente de aparências, como acreditavam algumas tendências gnósticas-docéticas nos primeiros séculos, heresias que foram combatidas ardentemente pela Igreja Antiga. A Encarnação verdadeira do Verbo Divino é essencial para compreendermos como Jesus desenvolveu plenamente sua capacidade de homem e nos ensinou a obter o máximo proveito de nossa natureza humana.
No Batismo, ele não é adotado pelo Pai e “possuído” pelo Espírito Santo, tornando-se o Filho de Deus naquele momento, como ensinavam algumas seitas heréticas de antigamente, mas sim recebe, como todo homem, a força do Espírito Santo para potencializar ainda mais sua força missionária. Ele nasceu com a natureza divina, não podemos esquecer que ele é o Verbo Divino Encarnado. Vemos no acontecimento do Batismo a prefiguração da Teologia da Santíssima Trindade, pois a perfeita harmonia das três pessoas divinas é sem dúvida bem nítida. O Pai confirma que esse é o Filho amado no qual Ele encontra alegria e deleite, e o Espírito Santo pousa sobre ele para fortalecer seu apostolado messiânico.
Percebamos que, diferentemente de todos os outros que vieram buscar o batismo de João, Jesus não precisa se arrepender de nenhum pecado específico, pois não é essa a finalidade do batismo para ele. Jesus reconhece o ministério de seu compatriota e parente João, o Precursor, pois prepara os corações humanos, pelo arrependimento e mudança de vida, a se abrirem para os segredos divinos, a serem revelados por Jesus.
O Mestre quer nos mostrar que é nesse momento que seu ministério se inicia, e que todos nós podemos seguir o mesmo caminho de plenificação de nossa natureza humana e participarmos, um dia, de sua natureza divina. No entanto, pecadores que somos, as águas do Batismo purificadas por Jesus servem para nos encher do Espírito Santo e, assim, assumirmos também a nossa missão de batizados, que é concretizar o Reino de Deus, de paz, amor e justiça, já aqui na terra e também já inaugurado por Jesus Cristo.
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