Igreja

Conhecendo os Evangelhos: Visita dos Magos do Oriente (Mt 2, 1-2.9b-12)

Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. (Arquivo Santuário Nacional)

Escrito por Padre José Luis Queimado, C.Ss.R.

06 JAN 2022 - 09H15 (Atualizada em 13 JAN 2022 - 09H41)

Reprodução

Jesus nasceu em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes. Então chegaram a Jerusalém alguns Magos do Oriente e perguntaram: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo... E a estrela que viram no Oriente ia caminhando à frente deles, até que parou sobre o lugar onde estava o menino. Ao verem a estrela, sentiram uma alegria muito grande. Eles entraram na casa e viram o menino com Maria, sua mãe. E caindo de joelhos o adoraram. Abriram seus cofres e lhe deram de presente ouro, incenso e mirra. Foram avisados num sonho para não voltarem a Herodes; por isso retornaram por outro caminho para sua terra”. (Mt 2, 1-2.9b-12)

A narrativa sobre a visita dos magos a Jesus tem sido fonte de grande inspiração para artistas de todos os tempos da História da Igreja. É uma cena realmente simples e bela, que nos leva a entender melhor a missão de Jesus, o Verbo encarnado.

A palavra grega mágoi (μάγοι) diz respeito aos astrólogos, matemáticos, alquimistas, curandeiros e outros homens estudiosos que faziam uso de magia e de encantos para servir às diversas necessidades das cortes reais do Oriente, em regiões tais como a Pérsia, a Caldeia, a Babilônia, a Arábia, entre outras, servindo-se, não raras vezes, de charlatanismo para impressionar o seu público. Eram muito comuns nos tempos de Jesus e muito antes de Ele nascer. Certamente, esses visitantes que seguiram a estrela até Belém provinham desse grupo de estudiosos que usavam a magia.

Leia MaisQuem eram os Reis Magos e de onde vieram?Na realidade, a Tradição acrescentou a maioria dos detalhes que sabemos hoje sobre os magos, pois o Evangelho de Mateus é bem conciso na descrição desse acontecimento.

Sendo essa passagem proveniente de um material exclusivamente mateano (de Mateus), não podemos comparar com outras fontes do Novo Testamento. Portanto, as informações sobre o número, os nomes e as características dos magos foram trazidas por tradições diversas da Igreja Antiga.

Conta-se que a mãe do imperador Constantino, Helena, em uma de suas viagens de reconhecimento a Jerusalém, na presença de eruditos e eclesiásticos, além de encontrar o local exato do nascimento de Jesus, descobriu também três esqueletos que foram identificados como pertencendo aos magos, assassinados por Herodes quando retornavam para suas casas.

Shutterstock
Shutterstock

Que fossem três os magos, isso se pode entender do número de presentes oferecidos, mas foi somente com o pensador e escritor Orígenes de Alexandria, nos séculos II e III, que essa tradição tomou corpo. Pode parecer óbvio para nós hoje que fossem três magos, mas há registros de números que vão de dois a doze sábios do Oriente. E foi somente no século VI que a Igreja consolidou o número definitivo de magos como conhecemos hoje. Acrescentou-se ainda, baseando-se em citações bíblicas do Antigo Testamento, que os três visitantes eram reis, característica atribuída por Tertuliano de Cartago, outro pensador cristão de grande prestígio dos séculos II e III.

Um texto atribuído ao Venerável Beda, datado de 735 d.C., fala a respeito dos nomes dos magos: Melchior, o mais idoso, teria trazido ouro a Jesus; Gaspar, o mais jovem e cheio de energia, teria oferecido incenso; e Balthazar, o Negro, teria presenteado o recém-nascido com mirra. Outras tradições cristãs dão diferentes nomes aos magos, tais como os cristãos siríacos, que os chamam de Larvandad, Gushnasaph e Hormisdas. É nítido que essas lendas tinham como objetivo preencher as lacunas deixadas pelo evangelista, com vistas de dar informações mais precisas sobre a passagem bíblica.

Leia MaisSer como os três reis magos: perceber os sinais e ir ao encontro do MeninoDentre os diversos relatos, conta-se de um episódio na invasão Persa a Jerusalém, em 614, depois de terem destruído a Cidade Santa e levado a Cruz de Cristo, que os invasores teriam poupado a Igreja da Natividade, construída pelo imperador Constantino em homenagem à sua mãe Helena, porque ali estaria um mural dos três magos na parede. Como possuíam traços característicos de seus antepassados, os persas não destruíram aquele edifício.

O que se pode afirmar com certeza é que a festa da Epifania trouxe grande valor espiritual à Igreja, pois é na manifestação do Verbo encarnado a esses homens estrangeiros que a nossa natureza humana recebe o convite para participar da natureza divina. O vocábulo Epifania (ἐπιϕάνεια) possui exatamente este significado de manifestação, revelação, tornar visível e conhecido.

É nas ofertas dos magos que reconhecemos a grandiosidade daquele que nos dá o presente maior: a redenção da humanidade e a salvação para todos. Todo o joelho se dobra diante da presença do Messias, até mesmo a velha magia se curva diante do mistério inefável, como diziam os Padres da Igreja.

Ouro para exaltar sua realeza; incenso para adorar sua divindade; mirra para significar sua humanidade. O verbo se fez carne e habitou entre nós, sendo luz para todas as nações.

Escrito por
Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. (Arquivo Santuário Nacional)
Padre José Luis Queimado, C.Ss.R.

Missionário Redentorista com experiência nas missões populares, no atendimento pastoral no Santuário Nacional de Aparecida, passou pela direção do A12, fez missão na Filadélfia nos Estados Unidos. Atualmente é diretor editorial adjunto na Editora Santuário.

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

0

Boleto

Carregando ...

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por Redação A12, em Igreja

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.

Carregando ...