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‘Recriar a vida’... brincando de Deus?

Pe. Léo Pessini Currículo - Aquivo Pessoal (Arquivo Pessoal)

Escrito por Pe. Leo Pessini (in memoriam)

20 JUL 2017 - 07H00 (Atualizada em 07 JUL 2021 - 12H05)

Mais uma descoberta científica, entre tantas outras na fronteira do conhecimento humano na área da genética nos surpreende, levantando uma série de dúvidas, questionamentos, inquietações e esperanças.

A manchete de primeira página em vários Jornais Brasileiros informa:Ciência cria primeira célula sintética: Bactéria com DNA montado a partir de informações vindas de computador ganha vida e passa a se replicar (Folha de São Paulo, 21/05/2010);Pesquisadores produzem a primeira forma de vida ‘sintética’ em laboratório (O Estado de São Paulo, 22/05/2010).

Estamos definitivamente entrando na chamada era genômica e muito próximos da criação da chamada “vida artificial” neste início de século XXI, como afirmam muitos pesquisadores nesta área.

Vejamos, ainda que de forma sintética, algumas informações básicas para entendermos esta descoberta, que deverá entrar para a história como um dos maiores e mais polêmicos feitos científicos da biologia moderna. Este invento foi realizado pela equipe de pesquisadores liderada pelo cientista e empresário norte-americano Craig Venter, sempre polêmico e audacioso, no instituto que leva seu nome ( J.Craig Venter Insitute) em Mariland, EUA. É bom lembrar que este cientista também liderou um projeto privado que sequenciou um dos primeiros genomas humanos no ano 2000.

Como foi feita a pesquisa?

Para criar um organismo sintético, a equipe de pesquisadores de Venter começou por reconstruir, com a ajuda de um computador, o genoma de uma bactéria comum, Mycoplasma mycoides. A informação foi colocada em um sintetizador de DNA, que produziu filamentos de DNA. Esses filamentos foram costurados ao serem inseridos em leveduras e depois em bactérias E. coli. Os mecanismos naturais de reparo da bactéria resultante viram os filamentos como fragmentos partidos e os reuniram.

Após várias rodadas, os cientistas montaram todas as letras do genoma da bactéria. Para marcar o genoma como sintético, inseriram novos filamentos de DNA, cada um deles uma marca d’água que carrega mensagens codificadas. O passo crucial ocorreu a seguir: eles transferiram o genoma sintético para outro tipo de bactéria comum. À medida que se multiplicava, ela passava a usar o genoma sintético. Venter chama o organismo de “célula sintética”, porque ele sobrevive graças a um genoma criado pelo homem.

A nova bactéria, diz Venter, “é a prova do conceito de que podemos fazer, em teoria, mudanças por todo o genoma humano de um organismo, adicionar novas funções, eliminar as que não queremos e criar novos organismos industriais que fariam o que quiséssemos. Até que esse experimento funcionasse, o campo era teórico. Agora, é real”.

As reações frente a este feito são contrastantes. Vão desde as que suscitam excesso de otimismo, beirando cenários de ficção científica, apontando para benefícios potenciais enormes, tais como, a possibilidade de sintetizar combustíveis a partir da criação de algas que absorvem CO2 da atmosfera, vacinas, produção de alimentos, etc.

No polo oposto, surgem inquietações sérias, apontando perigos que vão desde o 'bioerro' ao 'bioterror'. O próprio Venter afirma que necessitaremos de regulamentação ética severa para assegurar que os organismos sintéticos não escapem e causem danos: 

“É claro que essa tecnologia tem dois gumes e isto requer uma reponsabilidade imensa de quem a usaNós estamos entrando em uma nova era estimulante, na qual estamos limitados principalmente pela nossa imaginação”.

Ainda é muito cedo para sabermos das reais consequências deste feito. Não podemos - e não devemos - “endeusar”, e muito menos “satanizar”. Necessitamos de muita prudência, colocando em ação o princípio ético da precaução, que se traduz na ética da responsabilidade que dialogue com a ciência. Este é o caminho que gera esperança, e não o otimismo falso, que é ilusório.

Nesta perspectiva, o ser humano é “cocriador”, enquanto aperfeiçoa o mundo criadoNão se trata da criação da vida do nada, mas de recriação a partir de uma vida existente. No princípio da vida, nós, cristãos, acreditamos que temos a ação do Deus criador, e não o feito orgulhoso do ser humano de “querer ser Deus”.  

Escrito por:
Pe. Léo Pessini Currículo - Aquivo Pessoal (Arquivo Pessoal)
Pe. Leo Pessini (in memoriam)

Professor, com Pós-doutorado em Bioética no Instituto de Bioética James Drane, da Universidade de Edinboro, Pensilvânia, USA, 2013-2014. Conferencista internacional com inúmeras obras publicadas no Brasil e no exterior. Foi religioso camiliano e Superior Geral dos Camilianos.

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Por Polyana Gonzaga, em Igreja

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