Mundo

Diáspora – Os Judeus se espalham pelo mundo

Eles se distribuíram por mais de 100 países e ainda assim conseguiram manter vivos seus valores e tradições.

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

29 MAI 2024 - 16H17 (Atualizada em 07 JUN 2024 - 11H28)

O povo judeu nasceu com a missão dada por Deus de habitar uma região pré-determinada de nosso planeta, a Terra Canaã, hoje também chamada de Palestina. Apesar disto, ao longo de sua história, se tornou uma nação espalhada pelos quatro cantos do mundo, com comunidades em mais de 100 países. Em quase todos esses lugares vivem como minoria em comunidades isoladas onde lutam por preservar os seus costumes.

A história da chamada diáspora ou dispersão começou com o Cativeiro da Babilônia, com a destruição do Templo de Salomão ainda no tempo do rei Nabucodonosor, passando séculos depois pela destruição da cidade de Jerusalém pelos romanos.

Uma história de dispersão

No ano de 587 a.C., o rei Nabucodonosor da Babilônia, invadiu o antigo reino de Judá, formada por duas das doze tribos de Israel, arrasou Jerusalém e mandou parte de seus habitantes para a Babilônia, região do atual Iraque.

Apenas 50 anos depois, em 538 a.C., Ciro, rei da Pérsia (atual Irã), permitiu a volta dos judeus a Jerusalém e a reconstrução do templo, mas muitos preferiram ficar na Babilônia, que permaneceu como um centro da cultura judaica por 1,5 mil anos. Em 63 a.C. o general romano Pompeu invadiu a Judeia e a transformou numa província do Império Romano. As autoridades do povo foram mantidas, mas quem tinha de fato o poder eram os procuradores romanos.

O relacionamento dos judeus com os romanos sempre foi marcado por uma forte tensão, até que uma rebelião acontecida no ano 70 d.C., levou o general romano Tito a reprimir os revoltosos, destruindo o segundo templo, forçando os judeus a uma nova diáspora. Eles se espalharam pela Ásia, Europa e norte da África, mas ao contrário dos anos que passaram na Babilônia, o exílio nos domínios romanos foi marcado desde o início por perseguições, especialmente porque o monoteísmo judaico, com o culto de um Deus único, e também certos costumes como o de guardar o sábado, não eram bem compreendidos e aceitos pelos romanos que praticavam uma religião politeísta.

A situação piorou com a conversão do imperador Constantino ao cristianismo, no início do século IV. A acusação de serem os judeus responsáveis pela morte de Jesus complicou ainda mais a sua vida e eles passam a sofrer restrições e preconceitos que durarão toda a Idade Média, chegando até os tempos modernos.

Formação de bairro separados

Os costumes e tradições mantidos com rigor e o seu estabelecimento em bairros separados do restante da população também contribuiu para complicar bem a situação. No século IX os judeus chegaram a se aliar aos mouros muçulmanos por causa do comércio primeiro no norte da África, pegando carona e entrando com eles na Península Ibérica. 

No mundo islâmico, os judeus chegaram a desfrutar de prosperidade entre os séculos X e XII. No século XIII, quando o mundo muçulmano passou a sofrer pressões dos cristãos, com a Guerra de Reconquista, a condição piorou muito.

No século XV, os reis católicos Fernando de Aragão e Isabel de Castela, se uniram para acabar com o domínio muçulmano na Espanha. Em 1492, no mesmo ano da chegada dos espanhóis às Américas, com a derrota de Granada, último bastião mouro na Península Ibérica, os judeus que não aceitassem a conversão à fé cristã seriam expulsos.

Buscando liberdade, cerca de 100 mil fugiram para Portugal, mas 05 anos depois, também em Portugal enfrentaram igual situação e o rei dom Manuel os batizou à força, dando origem aos chamados “cristãos-novos”, que continuaram sendo alvo de suspeita, provocando nova dispersão por várias regiões da Europa e norte da África.

Muitos judeus tornaram-se vendedores ambulantes, vindo dessa época a lenda antissemita do Judeu Errante, o sujeito que teria negado água a Jesus no trajeto até a crucificação e que por isso havia sido condenado a uma vida sem rumo.

Também desta época veio o costume de tachar os judeus como comerciantes sovinas, que só pensam no lucro a todo custo. O primeiro gueto da história criado em Veneza, Itália, data de 1516. Cristãos-novos vieram para o Brasil, junto com os colonizadores, para trabalhar em Minas Gerais ou nos engenhos de Pernambuco. Em 1636, fundaram no Recife a primeira sinagoga das Américas como o beneplácito dos holandeses.

Estabelecidos na Alemanha

Um dos países que mais recebeu judeus dispersos foi a Alemanha e lá eles se estabeleceram na região próxima à fronteira com a França, ao longo do Vale do Reno, a partir do século VIII, incentivados pelo imperador Carlos Magno. A maioria se dedicava ao artesanato, à fabricação de vinhos e ao comércio, conhecendo como poucos as rotas para o Mediterrâneo, Oriente Médio e até Extremo Oriente.

No século XVIII, muitos foram para a Polônia atraídos pelas oportunidades econômicas, tendo em suas mãos a maior parte do comércio. Ali sofreram os maus tratos da Rússia e desde então o antissemitismo torna a Europa um lugar perigoso. Os Judeus foram expulsos da Inglaterra em 1290, e da França em 1306.

A ausência de um Estado constituído fez com que construíssem sua identidade baseada nos costumes religiosos e étnicos e em cada lugar viviam como estrangeiros, apenas tolerados. Não podiam reivindicar os direitos dos outros cidadãos, chegando a pagar impostos abusivos. Não podiam possuir terras, seus bens tinham que ser adquiridos “as escondidas” e nem podiam participar de corporações de ofícios.

Quando os ventos da Revolução Francesa (1789) sopraram na Europa, com o movimento expansionista de Napoleão Bonaparte, os judeus puderam sair dos guetos conquistando a cidadania. Mas, se por um lado o século XIX trouxe emancipação, também instigou o nacionalismo.

Os modernos Estados-nação formados nesta época acusaram os judeus de não participar da cultura majoritária e, portanto, da identidade nacional. Em vários lugares sofreram perseguições, matanças e opressão que vão culminar com o holocausto da Segunda Guerra Mundial.

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Do holocausto à formação do novo estado de Israel

Após a criação de Israel, em 1948, judeus foram expulsos de países árabes onde residiam há séculos, muitos migram das regiões onde estavam estabelecidos para o atual estado de Israel e uma parte decide permanecer onde estavam estabelecidos.

Em parte, esta história explica o medo que os judeus possuem de concordar com a criação de um Estado Palestino, já reconhecido por 140 países do mundo, inclusive pela Igreja. Explica sua resistência a um trato de paz, o que favoreceria toda a região do Oriente Médio.

Da população do moderno estado de Israel, formada por cerca de 9,5 milhões de pessoas, mais da metade é constituída por judeus. Os judeus, porém, continuam espalhados pelo mundo e calcula-se que esta população seja de mais ou menos 08 milhões de pessoas, com mais de 80 vivendo nos Estados Unidos, o que explica em parte o irrestrito apoio dos americanos ao estado de Israel.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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