Uma região com cerca de 27 mil km², pouco menor que a Bélgica ou menor ainda que o estado de Alagoas, onde vive uma população de mais ou menos 2,5 milhões de habitantes, está sendo duramente disputada pela Rússia e pela Ucrânia, países que há mais de dois anos estão em guerra.
A razão desta disputa envolve diversos fatores por causa, sobretudo, da estratégica posição da Península da Crimeia, localizada próxima ao Mar Negro, contando com o importante porto de Sebastopol, que já tinha sido uma das mais fortes bases militares da marinha da antiga União Soviética e que permanece sob domínio russo.
A posse da região permite o controle do Mar Negro, por onde passa a maioria do gás e de outros produtos da região. E o Mar Negro por sua vez se liga ao Mar Mediterrâneo. Os conflitos por causa da diversidade étnica também ajudam a complicar ainda mais a situação.
O território da Criméia passou por diversos domínios ao longo da história, tendo sido conquistado aos otomanos pelo Império Russo no século XVIII. A disputa pela região gerou a Guerra da Crimeia (1853-1856), conflito entre o Império Russo e uma coligação de potências europeias que apoiavam a Turquia. O conflito renasceria na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
No tempo de existência da União Soviética, a região foi cedida à República da Ucrânia, que também integrava a União Soviética, quando nem se cogitava na sua possível desintegração, que viria a acontecer em fins dos anos de 1980, após a Queda do Muro de Berlim (1989).
A península da Crimeia passou então por diversos status governamentais ao longo do período em que fez parte da União Soviética, a partir de 1921.
Em 1954, o então líder soviético Nikita Krushchov, ele próprio nascido em um vilarejo próximo à Ucrânia, aprovou a transferência da Crimeia para a Ucrânia, decisão que teve uma motivação em boa parte simbólica, mas no início dos anos de 1990, a questão do controle da península voltou à tona, com a declaração de sua autonomia, para depois ser absorvida novamente pelo território ucraniano, tendo sua constituição abolida em 1995.
Com a ocupação pelas forças militares russas no início de 2014, em meio aos protestos contra o presidente Viktor Yanukovich, que era pró-Rússia, os habitantes do território em referendo votaram pela independência em relação à Ucrânia e pela anexação à Rússia. No entanto, nem Kiev, nem a comunidade internacional reconhecem a validade do referendo. Por isso, a Ucrânia reivindica a sua devolução.
O presidente Viktor Yanukovich caiu depois de uma onda de protestos realizada na capital, Kiev. A Crimeia foi anexada formalmente por Moscou em 18 de março de 2014, com Wladimir Putin afirmando na ocasião que “a Crimeia sempre foi e continua sendo uma parte inseparável da Rússia”.
Na Criméia, cerca de 58% de sua população é constituída por russos, o que explica a preferência pela mudança de domínio.
A anexação da Crimeia pela Rússia não é o único problema, porque próximo ao seu território existe também a província de Kherson, importante por estar intimamente ligada à península. A Rússia também ocupou a região pouco depois da invasão iniciada em fevereiro de 2022.
Composta de terras férteis situadas ao longo do rio Dnieper, a região é uma das maiores produtoras de alimentos da Ucrânia.
O território também é um dos que ligam a Crimeia às províncias do Donbas, onde estão as cidades de Luhansk e Donetsk, controladas por milícias rebeldes pró-russas desde o mesmo ano. Além disso, a região ucraniana de Zaporizhzhia, localizada entre a Crimeia, ao sul, e o Donbas, ao norte, também vive sob influência de forças separatistas pró-Moscou desde 2014.
Invadida em 2022, as forças russas chegaram até a cidade de Enerhodar, onde se localiza o principal alvo estratégico do território, a Usina Nuclear de Zaporizhzhia. Construída entre 1980 e 1996, ela é a maior usina nuclear da Europa e uma das 10 maiores do mundo, mas desde que foi tomada por Moscou, se encontra praticamente desativada, ocasionando faltas de energia constantes no território ucraniano.
As cidades de Donetsk e Luhansk compõem a região conhecida como Donbas, abreviação de “bacia do rio Donets”. A região vive tensões étnicas entre a população ucraniana e russa, com os conflitos remontando ao período das duas grandes Guerras Mundiais. Rica em carvão, essa região desenvolveu um estratégico parque industrial para a Ucrânia.
No início de 2014, após a destituição do presidente da Crimeia e abolição de sua autonomia, grupos separatistas tomaram as cidades, declarando a criação da República Popular de Donetsk e Luhansk. O governo ucraniano lançou então uma operação militar para retomar o controle, mas enfrentou forte resistência porque a Rússia apoiou os separatistas de forma velada com armas e apoio logístico, mas inicialmente negou envolvimento direto.
Nenhum dos estados separatistas obteve reconhecimento internacional. Só em 2022, Moscou reconheceu ambas como entidades soberanas, pouco antes de lançar a ofensiva contra o território ucraniano.
A Criméia é possuidora de uma rica história religiosa e o cristianismo ali foi introduzido ainda nos primeiros séculos, havendo uma tradição que fala da presença do apóstolo Santo André que visitou as colônias gregas ao longo do Mar Negro.
O Cristianismo ganhou força ao longo dos séculos, especialmente com a influência do Império Bizantino, sendo a península considerada o local onde nasceu a Ortodoxia Russa, com a conversão do príncipe Vladimir, que adotou a ortodoxia no final do século X.
No século IX, os irmãos São Cirilo e São Metódio, conhecidos por evangelizar os povos eslavos, sendo declarados como os patronos da Europa do Leste, realizaram trabalho missionário inicial dirigindo-se aos Cazares da Crimeia antes de sua grande missão na Grande Morávia.
Hoje, os cristãos de rito romano formam pouco menos de 5% da população. Na região existe uma única diocese, de Odessa-Simferopol, que está sob a jurisdição da Arquidiocese de Lviv, na Ucrânia. Enquanto isso, os católicos de rito bizantino pertencem ao Exarcado Arquiepiscopal da Crimeia. A administração eclesiástica ucraniana mantém essa estrutura territorial mesmo com a anexação da península pela Rússia, fato não reconhecido pela hierarquia católica.
Como acontece em relação a outras regiões do mundo, a Igreja defende a solução dos conflitos pelo diálogo e pelo entendimento, propondo a cessação do uso das armas, para que não mais aconteça o massacre, a dor e o sofrimento da população civil, que é sempre a mais penalizada onde quer que um conflito aconteça.
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