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Por que a Crimeia segue no foco da guerra atual?

Localização estratégica da península ajuda a alimentar o conflito entre Rússia e Ucrânia

Pe Jose Inacio de Medeiros

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

18 NOV 2025 - 15H12 (Atualizada em 19 NOV 2025 - 11H19)

Vatican News

Uma região com cerca de 27 mil km², pouco menor que a Bélgica ou menor ainda que o estado de Alagoas, onde vive uma população de mais ou menos 2,5 milhões de habitantes, está sendo duramente disputada pela Rússia e pela Ucrânia, países que há mais de dois anos estão em guerra.

A razão desta disputa envolve diversos fatores por causa, sobretudo, da estratégica posição da Península da Crimeia, localizada próxima ao Mar Negro, contando com o importante porto de Sebastopol, que já tinha sido uma das mais fortes bases militares da marinha da antiga União Soviética e que permanece sob domínio russo.

A posse da região permite o controle do Mar Negro, por onde passa a maioria do gás e de outros produtos da região. E o Mar Negro por sua vez se liga ao Mar Mediterrâneo. Os conflitos por causa da diversidade étnica também ajudam a complicar ainda mais a situação.

História conturbada

O território da Criméia passou por diversos domínios ao longo da história, tendo sido conquistado aos otomanos pelo Império Russo no século XVIII. A disputa pela região gerou a Guerra da Crimeia (1853-1856), conflito entre o Império Russo e uma coligação de potências europeias que apoiavam a Turquia. O conflito renasceria na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

No tempo de existência da União Soviética, a região foi cedida à República da Ucrânia, que também integrava a União Soviética, quando nem se cogitava na sua possível desintegração, que viria a acontecer em fins dos anos de 1980, após a Queda do Muro de Berlim (1989).

A península da Crimeia passou então por diversos status governamentais ao longo do período em que fez parte da União Soviética, a partir de 1921.

Em 1954, o então líder soviético Nikita Krushchov, ele próprio nascido em um vilarejo próximo à Ucrânia, aprovou a transferência da Crimeia para a Ucrânia, decisão que teve uma motivação em boa parte simbólica, mas no início dos anos de 1990, a questão do controle da península voltou à tona, com a declaração de sua autonomia, para depois ser absorvida novamente pelo território ucraniano, tendo sua constituição abolida em 1995.

Com a ocupação pelas forças militares russas no início de 2014, em meio aos protestos contra o presidente Viktor Yanukovich, que era pró-Rússia, os habitantes do território em referendo votaram pela independência em relação à Ucrânia e pela anexação à Rússia. No entanto, nem Kiev, nem a comunidade internacional reconhecem a validade do referendo. Por isso, a Ucrânia reivindica a sua devolução.

O presidente Viktor Yanukovich caiu depois de uma onda de protestos realizada na capital, Kiev. A Crimeia foi anexada formalmente por Moscou em 18 de março de 2014, com Wladimir Putin afirmando na ocasião que “a Crimeia sempre foi e continua sendo uma parte inseparável da Rússia”.

Na Criméia, cerca de 58% de sua população é constituída por russos, o que explica a preferência pela mudança de domínio.

Movimentos separatistas

A anexação da Crimeia pela Rússia não é o único problema, porque próximo ao seu território existe também a província de Kherson, importante por estar intimamente ligada à península. A Rússia também ocupou a região pouco depois da invasão iniciada em fevereiro de 2022.

Composta de terras férteis situadas ao longo do rio Dnieper, a região é uma das maiores produtoras de alimentos da Ucrânia.

O território também é um dos que ligam a Crimeia às províncias do Donbas, onde estão as cidades de Luhansk e Donetsk, controladas por milícias rebeldes pró-russas desde o mesmo ano. Além disso, a região ucraniana de Zaporizhzhia, localizada entre a Crimeia, ao sul, e o Donbas, ao norte, também vive sob influência de forças separatistas pró-Moscou desde 2014.

Invadida em 2022, as forças russas chegaram até a cidade de Enerhodar, onde se localiza o principal alvo estratégico do território, a Usina Nuclear de Zaporizhzhia. Construída entre 1980 e 1996, ela é a maior usina nuclear da Europa e uma das 10 maiores do mundo, mas desde que foi tomada por Moscou, se encontra praticamente desativada, ocasionando faltas de energia constantes no território ucraniano.

As cidades de Donetsk e Luhansk compõem a região conhecida como Donbas, abreviação de “bacia do rio Donets”. A região vive tensões étnicas entre a população ucraniana e russa, com os conflitos remontando ao período das duas grandes Guerras Mundiais. Rica em carvão, essa região desenvolveu um estratégico parque industrial para a Ucrânia.

No início de 2014, após a destituição do presidente da Crimeia e abolição de sua autonomia, grupos separatistas tomaram as cidades, declarando a criação da República Popular de Donetsk e Luhansk. O governo ucraniano lançou então uma operação militar para retomar o controle, mas enfrentou forte resistência porque a Rússia apoiou os separatistas de forma velada com armas e apoio logístico, mas inicialmente negou envolvimento direto.

Nenhum dos estados separatistas obteve reconhecimento internacional. Só em 2022, Moscou reconheceu ambas como entidades soberanas, pouco antes de lançar a ofensiva contra o território ucraniano.

A Igreja na Criméia

A Criméia é possuidora de uma rica história religiosa e o cristianismo ali foi introduzido ainda nos primeiros séculos, havendo uma tradição que fala da presença do apóstolo Santo André que visitou as colônias gregas ao longo do Mar Negro.

O Cristianismo ganhou força ao longo dos séculos, especialmente com a influência do Império Bizantino, sendo a península considerada o local onde nasceu a Ortodoxia Russa, com a conversão do príncipe Vladimir, que adotou a ortodoxia no final do século X.

No século IX, os irmãos São Cirilo e São Metódio, conhecidos por evangelizar os povos eslavos, sendo declarados como os patronos da Europa do Leste, realizaram trabalho missionário inicial dirigindo-se aos Cazares da Crimeia antes de sua grande missão na Grande Morávia.

Hoje, os cristãos de rito romano formam pouco menos de 5% da população. Na região existe uma única diocese, de Odessa-Simferopol, que está sob a jurisdição da Arquidiocese de Lviv, na Ucrânia. Enquanto isso, os católicos de rito bizantino pertencem ao Exarcado Arquiepiscopal da Crimeia. A administração eclesiástica ucraniana mantém essa estrutura territorial mesmo com a anexação da península pela Rússia, fato não reconhecido pela hierarquia católica.

Como acontece em relação a outras regiões do mundo, a Igreja defende a solução dos conflitos pelo diálogo e pelo entendimento, propondo a cessação do uso das armas, para que não mais aconteça o massacre, a dor e o sofrimento da população civil, que é sempre a mais penalizada onde quer que um conflito aconteça.

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Escrito por:
Pe Jose Inacio de Medeiros
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista que atua no Instituto Histórico Redentorista, em Roma. Graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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Por Redação A12, em Mundo

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