A força da música na espiritualidade

Sabemos que a música tem uma importância fundamental para o ser humano. Ela motiva expressões de alegria, estimula a criatividade, ameniza dores, inspira novos caminhos, harmoniza o ser. Quando entramos para o campo da espiritualidade, percebemos o quanto a música é importante para alimentar a vida e o sentido de nossa existência. Sabemos através da Musicoterapia que a música atinge as dimensões psíquica, espiritual e corporal do ser humano. Música e espiritualidade tem uma relação muito íntima, basta ver o imenso repertório de músicas religiosas ao dispor de todos.

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Segundo BENENZÓN (1998), a música tem grande capacidade de evocação (trazer à memória experiências do passado), dependendo da experiência de sensibilização musical. Os sentimentos, sensações, recordações são despertados pelos estímulos sonoros, provocando reações importantes no indivíduo, de acordo com as suas experiências, dependendo “de seu estado emocional, de suas necessidades momentâneas ou permanentes” (BENENZÓN, p. 184).[1] A música é também uma “Metáfora” (SWANWICK, p. 17-34)[2] da vida, em que podemos criar e articular ideias sobre nós mesmos e sobre o mundo “em formas sonoras”.[3] Edgar Willems dizia que a Música mobiliza primeiramente o afeto, está ligada às emoções, mesmo porque quem a ofereceu inicialmente foram “seus pais ou pessoas a sua volta”.[4]

O cristão católico celebra a Eucaristia fazendo a evocação de um acontecimento grandioso tendo Cristo como centro. Cada contato com o conteúdo da mensagem do Evangelho, vai construindo uma experiência mística de contato com Deus, embora a pessoa não tenha vivido na época de Jesus ou convivido com Ele. A música entra de cheio nessa experiência fazendo a sua parte: ajudando a sensibilizar os afetos, as emoções e os sentimentos para que o indivíduo faça uma experiência de Deus em comunidade e sinta-se nutrido e fortalecido para enfrentar os desafios de sua existência.

A Música tem uma estreita relação com a espiritualidade porque ela é capaz de tocar a profundidade do ser de cada indivíduo, “mobilizar núcleos”[5] dos mais diversos sentimentos e emoções, possibilitando a sua expressão; é a arte que toca mais profundamente as verdades do homem, seus conteúdos subjetivos. Por isso, podemos encontrar objetivamente os efeitos da música nos mais diversos grupos religiosos que cultivam uma espiritualidade. Todas as religiões tem uma relação íntima com a música e a utilizam como elemento essencial para fazer a ligação entre o humano e o divino.

A espiritualidade age, portanto, nesta perspectiva, como força invisível presente em todo ser humano, que o motiva a sonhar, construir, planejar, torcer, caminhar, mover-se “para”, criar, refazer, imaginar, inventar, projetar e transformar o mundo que o rodeia. Esta força vital renovadora, misteriosa e incalculável, associada ao poder da música - que também de forma misteriosa é capaz de transmitir energias revitalizadoras e renovadoras da vida – deve ser levada em conta em qualquer processo de tratamento das doenças do corpo e da mente. Tal como a espiritualidade, a música traz em si energias que ajudam a renovar o tempo, o espaço e a existência daqueles que se deixam tocar pelos sons de boa qualidade.

Padre José Torres, CSsR.

[1] BENENZON, Rolando O. Teoria da Musicoterapia. Contribuição ao Conhecimento não-verbal. São Paulo: Summus Editorial, 1998. Tradução livre da língua espanhola: O estímulo sonoro es capaz de producir en la persona reacciones impredecibles, que dependen de su historia, de su estado emocional, de sus necesidades momentáneas o permanentes”.

[2] SWANWICK, Keith: Ensinando Música Musicalmente. São Paulo: Editora Moderna, 2007, (p. 17-34).

[3] Idem p. 18

[4] MARANHÃO, Ana Léa Vieira. Acontecimentos Sonoros em Musicoterapia. São Paulo: Apontamentos, 2000, p. 180.

[5] Anotações em aula sobre ´Teorias, Técnicas e Métodos em Musicoterapia”, sob a orientação da Professora Rejane Barcellos