Quem acompanhou o funeral do Papa Francisco pôde notar, entre tantos gestos e detalhes comoventes, algo profundamente simbólico: teus sapatos. Não eram vermelhos e aveludados, como a tradição papal de outros tempos.
Eram sapatos simples, pretos, gastos, surrados. Sapatos que falavam sem palavras. Porque bendito são os pés do mensageiro.
Francisco, teus sapatos, percorreram o metrô de Buenos Aires, rodearam periferias esquecidas, adentraram casas humildes e tocaram o chão da pobreza e da esperança.
Foram cúmplices silenciosos da tua missão profética, levando-te até famílias necessitadas, guiando-te para tocar corações e sentimentos que clamavam por uma palavra de consolo.
Francisco, teus sapatos, atravessaram fronteiras: caminharam sobre tapetes de governantes e sobre as pedras dos casebres, enfrentaram vales e montanhas, subiram púlpitos e desceram a realidade. Não para a glória de discursos vazios, mas para incomodar, para sacudir consciências adormecidas.
Francisco, teus sapatos, “semearam” o Evangelho nas estradas e vielas do mundo. Foram instrumentos de cuidado, de encontro, de compaixão.
Em 47 países visitados, em cada caminhada pela Praça de São Pedro, teus pés não buscavam aplausos, mas rostos: crianças a serem tocadas, idosos a serem abraçados, vidas a serem elevadas.
Francisco, teus sapatos peregrinaram até Lampedusa, início do teu pontificado, para lançar flores ao mar, em memória dos migrantes que se lançaram em busca de vida e encontraram morte. Lá, teus passos pregaram uma homilia mais eloquente do que qualquer palavra: a denúncia da indiferença global.
Francisco, teus sapatos te levaram até o confessionário, onde te fizeste pequeno para experimentar a grandeza da misericórdia. Ali, de joelhos, recebeste o perdão que depois ofereceste ao mundo inteiro.
Daquela experiência brotou teu pontificado: um papa da misericórdia, um pastor que nunca se cansou de repetir que Deus não se cansa de perdoar.
Francisco, teus sapatos também subiram, 126 vezes, os degraus até Santa Maria Maior. Levaram flores àquela que é tua mãe, nossa mãe, a Mãe da Igreja. E ali, na simplicidade dos gestos, teus olhos se deixaram ver por Maria, como quem precisa de força para continuar o testemunho dos apóstolos.
Francisco, teus sapatos se curvaram para lavar os pés de presidiários, refugiados, mães solteiras e pessoas esquecidas pelo mundo. Ajoelharam-se diante da miséria humana sem medo de se sujar, porque sabiam que ali, no chão da humilhação, floresce a dignidade.
Cada joelho dobrado foi semente de misericórdia, cada gesto humilde foi revolução silenciosa, pregando com o corpo aquilo que tantas palavras não ousam dizer.
Francisco, teus sapatos são incentivo de uma Igreja sempre em saída, desinstalada, peregrina. Não foram feitos para palácios nem para salas confortáveis, mas para as estradas empoeiradas, para as praças cheias, para as fronteiras da dor e da esperança.
Cada passo teu gritou ao mundo que a fé não é ornamento, mas impulso, movimento, travessia, encontro. Tu fizeste da tua caminhada um caminho para tantos outros caminharem.
Francisco, teus sapatos, agora repousando, ainda continuam a nos ensinar. Apontam para onde devemos ir: para os esquecidos, para os últimos, para Deus. E nos lembram que a verdadeira grandeza da Igreja não está nos sapatos que reluzem, mas nos pés que se desgastam de tanto amar.
Porque teus sapatos, Francisco, são profecia viva de quem escutou o chamado: "vai e reconstrói a minha Igreja".
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