Por Mariana Mascarenhas - Redação A12 Em Opinião Atualizada em 17 MAR 2020 - 08H27

Quando as fake news se propagam mais rápido do que o coronavírus

Elas têm se alastrado pelos quatro cantos do planeta, causando alarde não somente nas regiões aonde chega, como na população mundial de modo geral. Trata-se das doenças respiratórias ocasionadas pelo novo coronavírus? Não exatamente, mas de algo relacionado a elas, cuja velocidade de propagação é muito superior à disseminação do vírus: as informações falsas ou as chamadas fake news.

FGC/ Shutterstock
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Aqui no Brasil, elas
ganharam repercussão ainda maior depois que o primeiro caso da doença apareceu em São Paulo, após confirmação oficial do Ministério da Saúde, no dia 26 de fevereiro de 2020. Outro dado alarmante para os brasileiros é o crescimento exponencial de casos suspeitos que, após a primeira confirmação, chegaram a 1500% em menos de 24 horas, o equivalente a 132 pessoas – segundo informações divulgadas pelo ministério no dia 2 de março de 2020. Após uma mudança no método de contabilização, o número de casos suspeitos se elevou para 433.

O salto repentino de notificações sobre brasileiros com risco de terem contraído o vírus acabou gerando críticas por uma parte da população, que passou a especular sobre a possibilidade do governo estar omitindo informações quanto ao número de contaminados, os quais, segundo tais afirmações, seria muito maior. Entre fatos e boatos, as especulações se mesclam às fake news que acabam ecoando de forma muito mais potente, graças às redes sociais e ao Whatsapp.

Diante de tanta informação inverídica ou de caráter duvidoso, o Ministério da Saúde criou um número de Whatsapp – (61) 99289-4640 – para receber mensagens virais da população, que serão analisadas pelas áreas técnicas e respondidas se são verdadeiras ou não. O serviço já recebeu mais de 6500 mensagens desde o começo da divulgação dos casos da doença. Deste número, 90% estão relacionadas ao novo coronavírus e 85% eram falsas. Dentre as inverdades mais propagadas, há uma lista de indicativos que ajudariam na prevenção do vírus, como chá de abacate com hortelã, vitamina C, chá imunológico, medicamentos específicos, etc.

Até o Papa Francisco virou alvo de notícias falsas sobre a possibilidade de ter contraído o coronavírus, após ele ter cancelado audiências pelo 3º dia seguido, no Vaticano, devido a uma leve indisposição. Como a Itália já enfrenta uma epidemia, com 323 casos confirmados e 4 mortes, bastou tais dados para que falsas informações sobre o pontífice se alastrassem pelas redes.

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:: Papa Francisco lembra vítimas afetadas pelo coronavírus

Assunto mais comentado do momento e presente em mais de 50 países até agora, a propagação do coronavírus ocasiona um alarde maior do que o devido, em razão da forma como as redes sociais disseminam as informações, o que acaba, até mesmo, prejudicando a economia mundial. Isso porque o surto da doença tem afetado as bolsas de valores, paralisado produções, especialmente na China e, consequentemente, afetando o fornecimento de produtos chineses em outros países, bem como a exportação destes para a China, como é o caso do Brasil.

Todavia, não podemos nos esquecer de que a humanidade já enfrentou surtos de doenças bem piores, como a gripe espanhola, que deixou 50 milhões de mortos pelo mundo, entre 1918 e 1920 e, mais recentemente, em 2014, o ebola deixou um saldo de 11 mil mortos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), atingindo, principalmente, os países africanos Libéria, Guiné e Serra Leoa. É fato que, com o avanço da Medicina, a tendência é que a taxa de mortalidade em decorrência dessas epidemias seja cada vez menor, mas a popularização das redes sociais e a velocidade das informações engrandece tudo o que é divulgado.

E, mesmo quando se trata de informações verdadeiras, a seletividade midiática e a repetição de determinados dados em detrimento de outros acaba por reforçar no público um pânico maior. Um exemplo: de acordo com a OMS, a taxa de mortalidade do novo coronavírus é de apenas 2,3%, podendo chegar a 14% em pessoas com mais de 80 anos. Ainda de acordo com a Organização, a China já registra 80 mil infectados e 2,7 mil mortos. Embora o índice de letalidade seja pequeno e o vírus seja mais agravante em idosos e doentes, a repetição do número de chineses mortos pode levar os cidadãos a não pensarem racionalmente nos dados e a se assustarem com tal número.

No Brasil, por exemplo, os infectologistas têm alertado para a população manter a calma e tomar medidas de higiene básicas, como lavar as mãos com água e sabão frequentemente, cobrir o rosto com um lenço ao espirrar, usar álcool gel, etc. Sem contar que o clima tropical brasileiro dificulta a propagação do vírus. No entanto, o brasileiro parece realmente estar mais tranquilo, pois, de acordo com a Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP/FGV), 34% das menções ao coronavírus no Twitter são piadas, como os famosos memes.

Portanto, tendo os cuidados de higiene necessários e não compartilhando mensagens falsas ou duvidosas – para isso, é sempre importante checar a veracidade das fontes, pesquisando em outras mídias e também analisando o perfil dos entrevistados – uma leve brincadeira do bem não faz mal a ninguém.

Escrito por
Mariana Mascarenhas
Mariana Mascarenhas - Redação A12

Jornalista e Mestra em Ciências Humanas. Atua como Assessora de Comunicação e como Articulista de Mídias Sociais, economia e cultura.

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