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Quando as férias não são para todos: o peso invisível da maternidade

Karla Maria (arquivo pessoal)

Escrito por Karla Maria

22 DEZ 2025 - 12H14 (Atualizada em 22 DEZ 2025 - 16H22)

Reprodução/Adobe Stock:nicoletaionescu

As férias escolares chegaram, e com elas, as famílias enfrentam distintos desafios: se por um lado, pais e mães preparam as malas para o merecido descanso e buscam propiciar experiências únicas a seus filhos, por outro, lares geridos apenas por um genitor buscam conciliar a vida real de demandas profissionais com a necessidade de garantir um espaço de segurança e lazer para os pequenos.

No Brasil, mais de 11 milhões de mulheres cuidam de seus filhos sozinhas, registrando um aumento de 17,8% na última década. O levantamento é do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, e aponta também que, dentre essas mulheres, que enfrentam o desafio de educar sozinhas, 90% delas são negras, e que quase 15% dos lares brasileiros são chefiados exclusivamente por mães e 72,4% não contam com qualquer rede de apoio próxima.

O que significa dizer que o corre-corre das crianças não preenche apenas as casas e horas, mas sim uma lista mental sem fim de preocupações e organizações que desafiam os estrategistas mais habilidosos em garantir: refeições, brincadeiras, sono, higiene, segurança em tempo integral, enquanto o responsável – sem férias – trabalha, pesquisa, produz.

“As mães devem se permitir ter momentos de lazer com os filhos, de modo que o momento em que estejam trabalhando e focadas no seu trabalho, a criança se sinta segura para permanecer entretida com os seus brinquedos, sem atrapalhar a rotina da mãe no trabalho. Algumas lidam com rede de apoio, conseguem alguns dias de descanso, outras fazem home office, mas a sensação é sempre de que falta algo, de que não somos capazes”, avaliou Thaís Rufatto dos Santos, psicopedagoga e mãe atípica do pequeno Miguel, de 8 anos.

Mães atípicas e a sobrecarga do cuidado

Mães atípicas, como a Thaís, convivem com mais camadas de atenção e vigilância, já que cuidar de um bebê ou criança com deficiência, transtornos do neurodesenvolvimento, condições crônicas ou outras necessidades específicas exige um esforço emocional, físico e financeiro significativo. A agenda lotada de terapias ou a busca por elas nos serviços públicos, em muitos casos, impedem a mulher de ter vida para além dos cuidados com o filho.

Um estudo intitulado “Do cuidado à autonomia”, denuncia que 86% dos cuidados com a pessoa com deficiência são assumidos pela mãe. “Além da ausência paterna em muitos casos, essas mães ainda enfrentam julgamentos, preconceitos e a falta de uma rede de apoio real. A sobrecarga burocrática, somada à busca constante por recursos e tratamentos, intensifica o burnout materno de mães atípicas”, escreve Luciana Garcia, no artigo Burnout materno em mães de crianças atípicas: causas, sinais e como ajudar. Ela é jornalista certificada em neurociências e Disciplina Positiva, mãe atípica da Maya, madrasta da Bárbara e da Valentina.

Entre o cuidado e a identidade da mulher

Enquanto escrevo esta coluna, observo meu pequeno de 2 anos e 2 meses pintar uma folha em branco. Ele está com o pai no sofá, e ambos distraídos não fazem ideia de como aqueles instantes sem uma interrupção são importantes humana e profissionalmente para a mãe, que não é só mãe. Vale lembrar. Pesquisas revelam que uma mãe é interrompida a cada 3 minutos, provocando impactos. A propósito: João é o nome do meu filho, que nasceu dia 12 de outubro, como graça de Nossa Senhora Aparecida, mas essa é uma outra pauta...

Outro dado bastante relevante e assustador do cenário do cuidado das crianças brasileiras é que quase 500 crianças são registradas por dia no país, sem o nome do pai. A informação é da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen).

“Vivemos em uma sociedade patriarcal, na qual o ‘peso de ser boa mãe’, desde sempre, recaiu para as mulheres, sendo assim, a sociedade coloca na mulher a ‘carga de super-heroína’, tendo que dar conta de tudo, mas ela, dentro do tempo que ela tem, e na qualidade do tempo que deposita na ‘manutenção da maternidade solo’, já é essa ‘mãe heroína’, pois é através do trabalho que ela exerce que proporciona qualidade de vida para a criança”, explica Thaís.

Caminhos possíveis no cotidiano

Dada a realidade imposta por tantas e distintas causas, como lidar em casa com as crianças? Nossa psicopedagoga dá algumas pistas. A primeira é o brincar. Deixar os brinquedos à disposição para ela se entreter. Destoando de uma onda significativa de colegas, Thais se diz a favor do uso controlado de telas. “Elas [as telas] também são nos dias de hoje, um ‘poderoso meio de entretenimento’, para as crianças se distraírem e as mães trabalharem tranquilamente”.

A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças de menos de 2 anos não devem ser expostas a telas. Já as crianças entre 2 e 5 anos, o tempo de tela deve ser de ao máximo de 1 hora/dia, sempre com supervisão. Entre 6 e 10 anos, o tempo de telas deve ser de ao máximo de 1 a 2 horas/dia. Por fim, aos adolescentes entre 11 e 18 anos, o tempo de telas e jogos deve ser limitado a 2 a 3 horas/dia.

A psicopedagoga também sugere que as crianças participem de atividades da rotina doméstica, como desde lavar a louça até fazer comida, “para que desde pequenas sejam preparadas para a vida adulta, tendo como exemplo as tarefas domésticas aprendidas através das observações das mães”.

O ar livre é importante, por isso é fundamental levá-las aos parques, mas desde que a criança goste de brincar com outras crianças, ressalva Thais. “Como opção, também há o playground de apartamentos, brinquedotecas, e também o parque dos shoppings centers e os ‘playlands’”.

Autocuidado como presente

Às vésperas do Natal e de 2026, a sugestão de presente para as mães é o autocuidado com a incorporação de alguns hábitos, é o que orienta a psicopedagoga e educadora parental Isa Minatel, em reportagem publicada na Vida Simples. Lá e aqui, ela aconselha:

1. respiração quadrada (inspira 4, segura 4, solta 4, segura 4): reduz cortisol rapidamente;

2. descarga corporal: caminhar, espreguiçar, mover o corpo para liberar tensão;

3. regra dos três minutos de presença total com a criança: diminui conflitos e evita escaladas desnecessárias;

4. micro-pausas de 30 segundos ao longo do dia para voltar para si;

5. ambientes preparados: quando a casa funciona para a criança, o adulto gasta menos energia controlando.

add_box Férias e a construção de relações em família

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Karla Maria (arquivo pessoal)
Karla Maria

Jornalista e escritora, autora de quatro livros que tratam sobre fé e direitos humanos, cada um a seu modo. É mestranda em História na Unesp. Foi finalista do Prêmio Vladimir Herzog 2024, é TEDx Speaker, mãe do pequeno João, antirracista e devota de Nossa Senhora Aparecida. (@karlamariabra)

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Por Redação A12, em Opinião

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