Santo Padre

A entrevista do Papa a Revista La Civiltà Cattolica

Os encontros do Papa Francisco com os jesuítas durante suas viagens apostólicas são publicados em formato de entrevista

Escrito por Redação A12

21 SET 2021 - 09H13 (Atualizada em 21 SET 2021 - 09H58)

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O medo de ser livres, os perigos do que é abstrato comparado com a vida concreta, o estilo de proximidade com o povo de Deus. Estes são alguns dos pontos ao longo dos quais se desenrolou a conversa de Francisco com os jesuítas eslovacos, relatada nesta terça-feira (21) pela revista La Civiltà Cattolica.

No encontro ocorrido, o diálogo também foi conduzido em linguagem franca. O Papa foi questionado sobre sua saúde: "Ainda vivo. Apesar do fato de que algumas pessoas me queriam morto", disse Francisco, num tom de ironia, acrescentando que ele está ciente de que houve até mesmo encontros entre prelados, que pensavam que o Papa estava mais grave do que estavam dizendo: "Eles estavam preparando o conclave", referindo-se à cirurgia de julho passado, lembrando como foi um enfermeiro que o convenceu a se submeter a ela.

As palavras do Papa vão da saúde à pastoral, recomendando aos jesuítas quatro tipos de aproximação para seu trabalho na Eslováquia.

- A proximidade de Deus;

- A proximidade entre os irmãos;

- A proximidade com o bispo e o Papa (falando diretamente e não pelas costas);

- A proximidade com o povo de Deus.

A este respeito, ele se refere ao que ele chama "a coisa mais bela que um Papa disse aos jesuítas", ou seja, o discurso de São Paulo VI à Congregação Geral XXXII sobre o fato de que onde há encruzilhadas de estradas, ali estão os jesuítas: 

"Vamos criar problemas. Mas o que nos salvará de cair em ideologias estúpidas é a proximidade ao povo de Deus".

Leia MaisO hipócrita não sabe amar, diz PapaMedo das encruzilhadas

Respondendo a outra pergunta, o Papa se detém sobre o sofrimento da Igreja neste momento, a "tentação de voltar atrás". Ele a define "uma ideologia que coloniza as mentes". Não é um problema universal, mas específico das Igrejas de certos países.

Na avaliação do Papa, em um mundo tão condicionado por dependências e virtualidades, nos assusta sermos livres. Ele também falou sobre isso em seu primeiro encontro público em Bratislava, usando como exemplo o Grande Inquisidor de Dostoievsky: 

"Assusta-nos avançar em experiências pastorais, para fazer as pessoas entenderem que os casais em segunda união não estão já condenados ao inferno. Temos medo de acompanhar as pessoas com diversidade sexual. Temos medo do cruzamento dos caminhos de que Paulo VI falou. Este é o mal deste momento. Buscar o caminho na rigidez e no clericalismo, que são duas perversões".

Para o Papa, o Senhor pede hoje à Companhia que seja livre, com oração e discernimento. Isto não é elogio à imprudência: o que Francisco aponta é que andar para trás não é o caminho certo, enquanto que andar para frente, em discernimento e obediência, o é.

A ideologia de gênero é perigosa

Uma das questões diz respeito à colonização ideológica e ao gênero. "A ideologia tem sempre um fascínio diabólico, como vocês dizem, porque não está encarnada", responde o Papa, salientando que vivemos em uma civilização de ideologias e que devemos desmascará-las em suas raízes.

"A ideologia de gênero da qual você fala é perigosa, sim. Como entendo, é perigosa porque é abstrata em relação à vida concreta de uma pessoa, como se uma pessoa pudesse decidir abstratamente, à sua vontade, se - e quando - será um homem ou uma mulher. A abstração para mim é sempre um problema".

O Papa, lembra, no entanto, que isto não tem nada a ver com a questão homossexual. “Se existe um casal homossexual, podemos fazer um trabalho pastoral com eles, ir em frente no encontro com Cristo".

Quando fala de ideologia, explica, fala sobre "a abstração pela qual tudo é possível, não a vida concreta das pessoas e sua situação real".

Prefiro pregar

Sobre o diálogo judaico-cristão, deve-se evitar que ele se rompa através de mal-entendidos, como às vezes acontece, afirma o Papa: "Pessoalmente, posso merecer ataques e insultos porque sou um pecador, mas a Igreja não merece isto”.

O Papa sabe que também há clérigos que fazem comentários desagradáveis sobre ele, e ele confessa que às vezes lhe falta paciência, especialmente quando fazem julgamentos sem entrar em um verdadeiro diálogo. Ele assegura que vai adiante, no entanto, sem entrar no mundo deles de ideias e fantasias. "Prefiro pregar", disse.

Ele também lembra que alguns o acusam de não falar sobre santidade, mas sempre sobre questões sociais e de ser "um comunista". E, no entanto, afirma: "Escrevi uma Exortação Apostólica inteira sobre santidade, a Gaudete et Exsultate".

A decisão sobre o vetus ordo

Francisco então se detém em sua decisão, resultado de uma consulta com todos os bispos do mundo, de parar o automatismo do rito antigo para retornar às verdadeiras intenções de Bento XVI e de João Paulo II. De agora em diante, aqueles que querem celebrar com o vetus ordo devem pedir permissão a Roma.

Ele então relembra a experiência de um cardeal a quem dois padres recém-ordenados foram pedir para estudar latim a fim de celebrar adequadamente. O Papa recorda as palavras com as quais o cardeal lhes respondeu, com um "senso de humor", exortando-os a estudar primeiro o espanhol, e também o vietnamita, considerando os fiéis presentes na diocese: 

“Eu faço o que sinto que devo fazer. É preciso muita paciência, oração e caridade".

Entender as causas das migrações

Sobre o tema da imigração, Francisco reiterou que é necessário não só acolher os migrantes, mas também protegê-los, promovê-los e integrá-los, e que também é necessário compreender plenamente as causas do fenômeno, compreender o que está acontecendo no Mediterrâneo e quais são os jogos das potências que fazem fronteira com o mar para o controle e a dominação.

Fonte: *Com informações da Vatican News

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