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A canonização do primeiro santo do “Novo Mundo”

Fiéis norte-americanos fizeram a mesma rota marítima de São João Nepomuceno Neumann no dia da cerimônia de canonização, em 19 de junho de 1977

Escrito por Pe. José Inácio Medeiros, C.Ss.R.

19 JUN 2025 - 05H00

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“Jamais me arrependi de ter me dedicado à Missão na América” (S. João Neumann)

Logo após sua morte, ocorrida em 5 de janeiro de 1860, estando com apenas 48 anos, o túmulo do bispo Dom João Nepomuceno Neumann, na cripta da igreja redentorista de São Pedro e São Paulo, passou a ser visitado e venerado por uma multidão de fiéis. Logo começaram também a circular notícias de supostos milagres e graças alcançadas, sobretudo, de curas milagrosas obtidas pela sua intercessão.

Os Missionários Redentoristas em comum com a diocese decidiram entrar com o processo que poderia levar à sua “Beatificação”, a partir de Filadélfia, sua diocese nos Estados Unidos, em 5 de maio de 1886, 26 anos após a sua morte. A diocese havia sido elevada ao grau de arquidiocese em 1875, e o bispo Dom James Wood, coadjutor e depois sucessor do Servo de Deus, estava vivo quando da abertura do processo que levaria à sua canonização.

Motivação do processo

A causa que poderia levar primeiro à proclamação das virtudes heroicas do Servo de Deus, depois de sua santidade, era uma causa bem recente e por esta razão poderia ser comprovada por testemunhos de pessoas que com ele conviveram ou que o haviam conhecido.

O testemunho dessas pessoas deveria ser objetivo, preciso e detalhado, colocado nas circunstâncias do tempo e do lugar para não deixar que surgisse alguma dificuldade que o impedisse de ser elevado às honras dos altares.

Além disso, os testemunhos deveriam ser múltiplos e coordenados entre si, passando de sua infância até sua morte, sem deixar lacunas, pontos obscuros ou escondidos. Com o trabalho de análise e síntese, começou a ser preparado um quadro completo de sua vida e de suas virtudes a ser colocado para exame, permitindo um julgamento humanamente adequado sobre o nível de perfeição alcançado e sobre seu papel como guia para a posteridade.

Primeiros passos do processo

Aberto o processo, em Filadélfia, 47 testemunhas presenciais e quatro depoimentos orais foram examinados, enquanto em Budweis, sua cidade natal, outras 12 testemunhas oculares, incluindo duas de suas irmãs, também foram interrogadas.

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As análises dos testemunhos foram encerradas em 8 de março de 1888, em Budweis e no dia 24 de outubro, em Filadélfia. Ao lado disso, um interrogatório que durou apenas um dia foi realizado em Roma, na Casa Geral dos Missionários Redentoristas, no dia 4 de fevereiro de 1891, inquirindo o Pe. Edward Douglas, que o Servo de Deus havia conhecido durante sua peregrinação em Roma, em 1854. Essa consulta foi preparada pelo novo Postulador Geral da Congregação, Pe. Claudio Benedetti, que na época ainda residia em Monterone.

Proclamação das virtudes heroicas e beatificação

Com o bom andamento do processo, parecia que a proclamação das virtudes heroicas do Venerável João Neumann seria apenas um prelúdio de sua iminente beatificação, mas não foi bem isso que aconteceu, pois o processo precisou demorar um pouco mais enquanto se aguardava a decisão do milagre necessário para a beatificação.

O superior geral dos Redentoristas, Pe. Patrick Murray, aludiu a isso de maneira bastante explícita na manhã do dia 1 de dezembro de 1921, no discurso em ação de graças ao Santo Padre. De fato, a esperança estava bem viva, reforçada pela comprovação dos milagres atribuídos à sua intercessão, desde a época do processo apostólico de suas virtudes.

Os milagres tiveram Filadélfia como lugar de comprovação, tendo o vice-postulador nomeado Pe. Giuseppe Wissel como porta-voz, sempre em acordo com o postulador Pe. Benedetti. No dia 24 de outubro de 1897, ele escreveu dizendo que já tinha as descrições de milagres prontos.

Então, em 1898, houve 43 casos milagrosos; um ano depois, em 1899, falou de dois novos milagres, um dos quais aconteceu diante de seus olhos. Havia, porém, a dificuldade de escolher quais milagres deveriam ser incluídos nos processos sobre as virtudes, além, é claro, da dificuldade de encontrar médicos dispostos a fazer declarações sobre a “intervenção do Alto”, e pior ainda, que aceitassem se apresentar para testemunhar em tribunal.

Depois de grande hesitação sobre quais milagres escolher, finalmente inseriu quatorze deles no processo. Para outro milagre, ocorrido em 1911, quando o julgamento sobre as virtudes já tinha sido encerrado, foi realizado um julgamento particular em Filadélfia entre 31 de outubro de 1918 e 30 de maio do ano seguinte.

Divulgação Divulgação Corpo de São João Neumann permanece em um caixão de vidro no altar da igreja na Filadélfia


O decreto necessário sobre os escritos para que o processo de beatificação, pudesse prosseguir foi aprovado em 1921, pelo Papa Bento XV, acatando a “heroicidade de suas virtudes”, abrindo caminho para a sua beatificação que somente aconteceria em 1963, durante o Concílio Vaticano II.

Primeira beatificação realizada pelo Papa Paulo VI

A beatificação do redentorista João Nepomuceno Neumann foi a primeira realizada pelo Papa Paulo VI, durante o Concílio Vaticano II. Há pouco tempo ele havia sucedido ao Papa João XXIII. Sua beatificação trouxe, nos dizeres do próprio Papa "um raio de nova glória para o episcopado católico, reunido no Concílio Ecumênico em torno do Sucessor de Pedro e, por isso mesmo, foi notável a presença – além do Sacro Colégio – de patriarcas, arcebispos e bispos, para honrar o seu irmão tão distinto pela virtude e pelo zelo".

O arcebispo John Kroll, de Filadélfia, concelebrou o rito solene, por privilégio especial, como sucessor direto do beato na Sé da Filadélfia. Os estudantes do Colégio Norte-Americano e os clérigos redentoristas estavam servindo no altar.

À tarde, o Santo Padre, depois de venerar as relíquias do novo Beato, dirigiu um discurso especial aos representantes do Sacro Colégio, do episcopado, do clero, dos fiéis de Filadélfia e de outras dioceses dos Estados Unidos, e à Congregação do Santíssimo Redentor, presidida pelo Superior Geral, Pe. William Gaudreau, exaltando Neumann como "um dos bispos que prepararam o quadro da hierarquia católica nos Estados Unidos, nele infundindo aquelas virtudes de dedicação, zelo, praticidade eficiente e fidelidade absoluta que ainda distinguem o venerável e exemplar Episcopado americano".

Da parte do Sumo Pontífice, um pensamento especial encerrou o discurso e foi "para a família religiosa do Santíssimo Redentor, que vê sua tradição de santidade expressa naquele que foi o primeiro redentorista professo dos Estados Unidos".

Continuação do processo que levou à sua canonização

Em 25 de fevereiro de 1965, o episcopado norte-americano dirigiu um apelo ao Santo Padre para que a causa do Beato Neumann fosse retomada. A carta, assinada por dez cardeais e por cerca de duzentos arcebispos e bispos, foi como que um coro triunfal que se elevava de sua terra adotiva.

Em sua carta, os bispos afirmavam que "o culto do beato se espalhou por toda parte nos Estados Unidos da América. Sua missa e ofício foram introduzidos em muitas dioceses. Sua festa é celebrada com grande afluência de fiéis. Sua imagem e relíquias se espalharam em grande quantidade entre os fiéis. Suas virtudes e santidade despertam grande admiração em sacerdotes, religiosos e leigos, e de vários lugares há notícias de graças e milagres sempre novos atribuídos à sua intercessão".

Os votos do episcopado norte-americano foram assumidos pelos Cardeais responsáveis pelas Causas dos Santos, que se reuniram com os consultores na Congregação Plenária no dia 13 de julho do mesmo ano, no Palácio do Vaticano; sendo depois ratificados pelo Sumo Pontífice com o decreto de 13 de novembro.

Divulgação Divulgação Oração de Paulo VI pelo novo Santo


Por fim, o mesmo Pontífice fixou a data de sua solene canonização para o dia 19 de junho de 1977, no consistório de 20 de dezembro, na presença de numerosos cardeais, bispos e prelados, que tinham vindo oferecer-lhe os seus votos de natal
.

A súplica em favor da causa, lida pelo decano do colégio de advogados consistoriais, Giuseppe Torre, foi respondida, em nome do Santo Padre, pelo abade Carlo Egger da Secretaria de Estado, que delineou a figura do Beato João Nepomuceno Neumann com as seguintes palavras: "S. Alfonsi alumnus et sectator acerrimus, apostolatus operibus, quibus tantummodo Divini Redemptoris lucra quaesivit, praefulsit, ma- :idme ut Praesul Sedis Philadelphiensis, quam apte disposuit magnisque incrementis adauxit”. O consentimento unânime dos cardeais, arcebispos e bispos presentes e a satisfação demonstrada pelo Santo Padre foram uma grande luz que encerrava um processo depois de mais de noventa anos de árduo caminhar.

Finalmente, em 19 de junho de 1977, na cerimônia de canonização assistida por uma multidão de fiéis norte-americanos, que fizeram a mesma rota marítima de São João Nepomuceno Neumann, só que em sentido inverso, Paulo VI, hoje também canonizado como santo da Igreja, decretou o dia 5 de janeiro para seu culto litúrgico.

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Falando das virtudes do novo santo, assim se expressou Paulo VI em sua canonização: “Ele estava sempre junto aos doentes, gostava de se encontrar com os pobres, era amigo dos pecadores e hoje é a honra de todos os emigrantes”.

.:: São João Neumann: homem comum que fez coisas extraordinárias ::.

Fonte: Instituto Histórico Redentorista

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