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A devoção de São Clemente à Cruz de Cristo

Para o Santo Redentorista, a Via Sacra não era meramente uma reflexão sobre a dor e o sacrifício de Jesus, mas um convite a se inserir nessa jornada

Escrito por Natan Gomes

21 JUN 2025 - 05H00

Divulgação

São Clemente Maria Hofbauer, o "Apóstolo de Viena", personificou uma devoção profunda à Cruz de Cristo ao longo de sua vida.

Para Hofbauer, a Cruz era muito mais do que apenas um símbolo visto em igrejas ou pinturas; era uma realidade viva e abrangente, um marco para o caminho que Jesus percorreu e um lembrete de que amor e sofrimento estão frequentemente inseparavelmente interligados.

Ele considerava o sofrimento de Jesus não apenas um evento histórico, mas uma verdade eterna que deveria estar presente na vida de cada cristão. Sua abordagem à Cruz foi moldada pelas palavras de Jesus:

"Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me". (Mateus 16, 24).

A vida de oração de Hofbauer frequentemente envolvia uma contemplação silenciosa da Via Sacra.

Nesse exercício meditativo, ele encontrou o que parece ser um ponto de ancoragem espiritual, ajudando-o a suportar os muitos desafios de sua própria vida com calma e força interior.

Para ele, a Via Sacra não era meramente uma reflexão sobre a dor e o sacrifício de Jesus, mas um convite a se inserir nessa jornada. Cada estação continha uma lição, um passo mais perto de Deus e da salvação — um chamado para tomar a própria cruz como Jesus.

Thiago Leon Thiago Leon São Clemente Maria Hofbauer, santo redentorista


As palavras de Paulo em sua Carta aos Gálatas captam bem essa mentalidade:

“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”. (Gálatas 6,14).

Mas o que a cruz realmente significa?

Para alguns, pode ser apenas um emblema religioso, para outros, uma joia e, para alguns, uma relíquia de outra era.

Para Clemente Maria Hofbauer, no entanto, a cruz era o cerne de sua fé e existência. Ele entendia que o sofrimento de Jesus não era o fim, mas o começo — uma passagem, uma jornada das trevas para a luz.

Nesse duplo significado, Hofbauer encontrou grande força — aceitar o sofrimento sem se deixar aprisionar por ele, abraçar a fraqueza sem se desesperar e encarar os erros do passado como passos no caminho da redenção.

As palavras do apóstolo Paulo em sua carta aos Coríntios descrevem perfeitamente essa perspectiva:

“Porque a mensagem da cruz é loucura para os que perecem, mas para nós, que somos salvos, é poder de Deus” (1 Coríntios 1,18).

O poder da Cruz manifestou-se vividamente na vida de Hofbauer. Desde suas origens humildes na Morávia até seus estudos em Viena, sua missão em Varsóvia e, finalmente, novamente em Viena, ele encontrou resistência, rejeição, pobreza e desprezo.

Reprodução Reprodução No sinal da cruz, Hofbauer também encontrou um caminho para conectar pessoas de diferentes culturas, línguas e padrões sociais


No entanto, como a própria Cruz — firmemente enraizada na terra e alcançando o céu — Hofbauer permaneceu firme em sua dedicação a Deus e à humanidade.

Ele viu que as dificuldades da vida — pobreza, perda, privação — são, em última análise, parte da jornada, moldando um cristão e revelando as profundezas do amor de Cristo.

"Mas Deus prova o seu amor para conosco: Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores" (Romanos 5,8).

No sinal da cruz, Hofbauer também encontrou um caminho para conectar pessoas de diferentes culturas, línguas e padrões sociais. Em Varsóvia, onde assumiu a direção da igreja nacional alemã de São Bento, seus cultos e sermões frequentemente reuniam pessoas de diversas origens e classes sociais.

Sua maneira de pregar, rezar e celebrar a Eucaristia atraía as pessoas, pois elas sentiam que sua devoção era autêntica. Ele vivia o que pregava e pregava o que vivia — a cruz como símbolo de amor incondicional.

Finalmente, em Viena, onde encontrou refúgio após muitas dificuldades, continuou sua missão, recebendo o título de "Apóstolo de Viena". Ali, mais uma vez, sua capacidade de brilhar em meio aos desafios ficou evidente, servindo de modelo e espalhando o Evangelho no coração de muitos.

Para Hofbauer, a cruz era mais do que um tema teológico ou um símbolo da tradição cristã. Era a fonte de força espiritual que o chamava repetidamente a servir aos outros, fundar escolas, cuidar dos pobres e apoiar os necessitados tanto em Varsóvia quanto em Viena.

Dessa fonte espiritual brotaram sua empatia única, sua compreensão do sofrimento alheio e sua capacidade de oferecer conforto onde palavras por si só não bastavam.

Ele compreendia que a cruz não era apenas um símbolo de sofrimento, mas também de esperança — uma esperança que dava a ele e a seus contemporâneos a força para prosseguir, mesmo quando a jornada parecia infinitamente difícil e árdua.

As palavras de Pedro ressoam profundamente aqui:

“Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para o pecado, vivêssemos para a justiça. Por suas feridas vocês foram curados” (1 Pedro 2:24).

Hoje, enquanto passamos por um mundo cheio de distrações, crises e incertezas, a Cruz — entendida como Hofbauer a entendia — também pode servir de âncora para nós. Ela nos lembra que a tristeza e a alegria muitas vezes se entrelaçam, que o caminho para a ressurreição passa pela escuridão.

Assim como Hofbauer fez em sua vida cotidiana, nós também podemos aprender a carregar nossa própria cruz com dignidade e confiança, confiando que Deus caminha ao nosso lado e que nenhum sofrimento é sem sentido.

Ao incorporar a Via Sacra em nossa prática diária de oração e contemplação silenciosa, podemos encará-la como um exercício espiritual que nos ensina humildade, promove a compaixão e nos lembra que podemos esperar pela luz de Deus mesmo nos momentos mais sombrios.

O legado de Hofbauer permanece como um testemunho de que a Cruz não é um capítulo fechado, mas uma realidade viva que tem guiado os cristãos através dos tempos.

A Cruz nos chama a negar a nós mesmos, a colocar as necessidades dos outros acima das nossas e a lembrar que a verdadeira força reside na entrega a Deus.

Talvez encontremos uma resposta nas palavras de Gálatas sobre por que a Cruz teve tanto significado para Hofbauer — e ainda tem para nós: "Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo."

.:: Conheça a espiritualidade de São Clemente Maria Hofbauer ::.

Fonte: Província Redentorista São Clemente

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