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Nossa Senhora do Carmo e a Misericórdia

Escrito por Dom Orani João Tempesta, O.Cist.

13 JUL 2016 - 08H34 (Atualizada em 16 JUL 2021 - 09H22)

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No dia 16 de julho, celebramos a memória mariana de Nossa Senhora do Carmo. São muitos os textos da Ordem do Carmo e de histórias sobre o assunto, que se tornou de domínio público.

Ao adentramos na história da Igreja, encontramos uma linda página marcada pelos homens de Deus, mas também pela dor, fervor e amor à Virgem Mãe de Deus: é a história da Ordem dos Carmelitas, da qual testemunha o cardeal Piazza: “O Carmo existe para Maria, e Maria é tudo para o Carmelo, na sua origem e na sua história, na sua vida de lutas e de triunfos, na sua vida interior e espiritual”.

A palavra Carmelo vem do hebraico, “carmo”, e significa vinha; e “el” significa Senhor; portanto, “Vinha do Senhor”. Este nome nos aponta para a famosa montanha que fica na Palestina, donde o profeta Elias e o sucessor Elizeu fizeram história com Deus e com Nossa Senhora, conforme uma interpretação piedosa foi prefigurada numa pequena nuvem. (Cf. 1 Rs 18,20-45).

O Monte Carmelo, na Palestina, é o lugar sagrado do Antigo e Novo Testamento. É o Monte em que o Profeta Elias evidencia a existência e a presença do Deus verdadeiro, vendo os 450 sacerdotes pagãos do Baal, fazendo descer do céu o fogo devorador. (I Reis, 18, 19ss). É, ainda, o Profeta Elias que implora do Senhor chuva benfazeja, depois de uma seca de três anos e três meses. (1Rs, 18, 45). É no Monte Carmelo que a tradição colocou a origem da Ordem Carmelitana. Ali viviam eremitas entregues à oração e à penitência.

Devido a perseguições aos cristãos na Terra Santa, o grupo de eremitas do Monte Carmelo acabou vindo para a Europa, se estabelecendo na Inglaterra. Aí se uniu a eles um eremita chamado Simão Stock: 

Na Inglaterra, vivia um homem penitente, como o Profeta Elias, austero como João Batista. Chamava-se Simão. Mas, diante de sua vida solitária na convexidade de uma árvore no seio da floresta, deram-lhe o apelido de Stock.

Já vivendo com os eremitas do Carmelo, e depois por passar várias dificuldades em sua vida, São Simão teve a inspiração e confirmação mariana de sua vida e sua ordem no dia 16 de julho de 1251. Ele suplicava com maior empenho à Mãe do Carmelo sua proteção, recitando a bela oração por ele composta:

“Flor do Carmelo, vinha florífera, Esplendor do céu, Virgem fecunda, singular.
Ó Mãe benigna, sem conhecer varão, aos Carmelitas dá privilégio, Estrela do Mar”!

Rodeada de anjos, em grande cortejo, apareceu-lhe a Virgem Santíssima, revestida de esplendor, trazendo nas mãos o Escapulário.

Terminada esta oração, levanta os olhos marejados de lágrimas, vê a cela encher-se, subitamente, de luz. Rodeada de anjos, em grande cortejo, apareceu-lhe a Virgem Santíssima, revestida de esplendor, trazendo nas mãos o Escapulário, dizendo a São Simão Stock, com inexprimível ternura maternal:

“Recebe, diletíssimo filho, este Escapulário de tua Ordem como sinal distintivo e a marca do privilégio que eu obtive para ti e para todos os filhos do Carmelo; é um sinal de salvação, uma salvaguarda nos perigos, aliança de paz e de uma proteção sempiterna. Quem morrer revestido com ele será preservado do fogo eterno”.

A devoção ao escapulário na história da Igreja é muito parecida com a do rosário, constituindo-se numa das mais antigas e populares formas de devoção à Virgem Maria. O escapulário é um sacramental, ou seja, uma realidade visível, que nos conduz a Deus, com sua graça redentora, seu perdão e promessas. Santa Tereza (reformadora da Ordem das Freiras Carmelitas, juntamente com São João da Cruz) dizia que portar o escapulário era estar revestido com o hábito de Nossa Senhora.

A Bem-Aventurada Virgem Maria, Nossa Senhora do Carmo, aparece na vida de São Simão com um grande olhar de misericórdia e compaixão. Com a vida de Nossa Senhora do Carmo, percebemos o quanto ela olha para os seus e se compadece. Maria é a mulher da misericórdia e a mulher que sempre estende as mãos para ajudar os seus filhos que passam por necessidades e dificuldades.

Peçamos a Nossa Senhora do Carmo que nos ajude a caminhar na misericórdia, no amor, na paz e na fraternidade. Neste Ano Jubilar, esta devoção mariana quer nos ajudar a não desanimarmos diante das perseguições, e procurar, revestidos de Maria, continuar firmes no Senhor, confiando em sua providência.

Com a experiência da misericórdia de Deus, temos a certeza de sermos sinais dessa mesma misericórdia aos outros. Que diante das “secas das vidas de tantas pessoas” o Senhor nos ajude a profetizar que a “nuvem de chuva que chega” nos vem pela intercessão de Maria para que sejamos fiéis seguidores do Senhor mesmo com tantos falsos profetas ao redor.

Que a vida de oração no monte de Deus nos acompanhe nesses dias, para “contemplar o Deus misericordioso”. Que a Virgem Mãe nos ampare em todas as dificuldades.

Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós!

Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
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