Por Luiz Raphael Tonon Em Artigos Atualizada em 26 JUL 2019 - 14H46

O cantor das glórias de Maria

Reprodução.
Reprodução.

Dona Ana Catarina Cavalieri e Dom Giuseppe Félix de Ligório eram católicos devotos, instruídos na fé e que frequentavam a Santa Missa quase diariamente desde muito antes de se casarem. Contraíram matrimônio quando ambos tinham vinte anos de idade e logo nasceu-lhes o primogênito: Afonso, nome que o pai emprestara dos altivos monarcas espanhóis que dominaram o Reino de Nápoles por muitos anos. Dos espanhóis o pequeno Afonso não herdara somente o nome, mas também a singular devoção mariana. Dos vários "Afonsos" que governaram a Espanha, todos foram grandes devotos de Nossa Senhora e muitos traziam o Rosário preso à cintura, junto de suas espadas, pois afinal esta também é uma arma eficaz! Mais eficaz que uma espada que pode rasgar a pele, o Rosário têm o poder de rasgar os céus. Anos mais tarde o pequeno Afonso também traria o Rosário na cintura e faria com que seus Redentoristas também o trouxessem na cinta como parte de seu hábito religioso.

Seus pais tinham os jesuítas como diretores espirituais. Assim que o pequeno Afonso nasceu receberam a visita de São Francisco Solano, missionário jesuíta que tomou a criança no colo e que proferiu uma misteriosa sentença: "Esse menino será grande, se tornará bispo e fará grandes coisas por Deus". Na história de Santo Afonso essa profecia se revelou cada vez mais verdadeira. Ainda criança recebeu quatro grandes amores que o influenciariam de modo definitivo na fundação de sua família religiosa: do pai recebeu o amor pela Paixão de Cristo e por sua Encarnação, da mãe a devoção profundíssima à Nossa Senhora a quem se consagrou muito jovem e de ambos, pai e mãe recebeu o amor à Eucaristia. A mãe de Santo Afonso pertencia a mais de uma confraria em honra de Nossa Senhora, na casa da família o oratório era dedicado à Virgem Santíssima, as filhas mulheres todas tinham "Maria" em seu nome e os filhos homens foram incentivados pela mãe a ingressar nas confrarias de Nossa Senhora, meio eficaz de desempenhar algum apostolado na realidade de Igreja da época. A reza do Rosário era diária e mesmo Dom Giuseppe que chefiava as galeras reais de Nápoles e permanecia muito tempo no mar não descuidava da reza diária do Rosário e da meditação da paixão de Cristo.

Santo Afonso ainda criança e depois como adolescente tinha grande prazer em ornar as imagens de Nossa Senhora é de venerá-las em sua casa ou fora dela. Nas igrejas por onde passava, primeiro ia visitar o Santíssimo Sacramento, depois, sempre buscava uma imagem de Nossa Senhora que agradasse à sua devoção.

Aos dezesseis anos formou-se em Direito Civil e Eclesiástico e desempenhou brilhantemente sua profissão por dez anos, quando num caso gravíssimo que envolvia nada menos que dois nobres, sendo um deles o sobrinho do papa se deparou com uma gritante injustiça. Nesse litígio, o juiz foi comprado e por uma vírgula posta em um período linguístico que dava dupla interpretação ao texto de Afonso, o juiz deu ganho ao adversário, como já havia combinado previamente. Frustrado ao perceber as falhas da justiça humana saiu decidido a mudar de vida e a não pisar mais nos tribunais. Nesse momento supremo buscou sua Mãe Santíssima diante de quem depôs sua espada de nobre e se comprometeu em consagrar sua vida inteiramente ao serviço de Cristo. 

Nos momentos mais decisivos de sua vida Nossa Senhora esteve sempre presente e de forma mais constante através de três expressões devocionais: a Imaculada Conceição, Nossa Senhora das Dores e Nossa Senhora do Bom Conselho. A Imaculada Conceição de Nossa Senhora, mesmo antes da definição do dogma ocupava sua atenção e devoção ao ponto de Santo Afonso fazer o voto de derramar o próprio sangue, se preciso fosse pela honra e defesa deste privilégio Mariano. Nossa Senhora da Conceição foi dada por Santo Afonso como padroeira principal dos Redentoristas. Nossa Senhora das Dores foi uma devoção cultivada por Santo Afonso como consequências natural de seu amor pela Paixão de Cristo e pela missão corredentora de Maria aos pés da Cruz. Em sua cela, desde que se fez sacerdote, Santo Afonso sempre conservará uma pintura de Nossa Senhora das Dores, a "Adoloratta", como dizem os italianos. Por fim, tinha sobre sua mesa, como que a inspirar e supervisionar tudo o que escrevia um quadrinho de Nossa Senhora do Bom Conselho.

Em 1750, o grande doutor da Igreja publicou sua obra mestra de mariologia: "Glórias de Maria". Depois dela e antes dela já havia publicado e continuou a publicar várias outras obras ascéticas e de piedade com temática mariana, além de dezenas de musicas e canções populares com este mesmo tema. De suas canções marianas, a mais famosa é "Dolce esperanza mia", traduzida no Brasil como "Dulcíssima Esperança". Das muitas canções em honra da Virgem Santíssima  compostas por Santo Afonso, algumas se perderam e hoje só os anjos as conhecem e cantam no céu para Nossa Senhora, mas muitas outras chegaram até nós, todas carregadas de uma paixão para com Maria Santíssima que servem de ânimo a qualquer pessoa que tenha ainda algum temor de se tornar devota de Maria.

Portanto, na vida de Santo Afonso não é possível explicar quando ou como seu amor à Nossa Senhora começa e quais caminhos percorre, pois o amor à Nossa Senhora perpassou sua existência de modo a ficar difícil, senão impossível de falar de Afonso sem falar de Maria, sua Mãe que sempre o conduziu ao Redentor. Sem medo de exageros, podemos afirmar que a vida de Santo Afonso foi um longo cantar das glórias de Maria, sua e nossa Mãe, a qual após cumprir sua jornada veio buscá-lo na hora do Ângelus, exatamente ao meio dia do dia primeiro de agosto de 1787. Ele contava noventa anos, nas mãos trazia o rosário, ao pescoço o escapulário de Nossa Senhora do Carmo, nos lábios o nome de Maria e no coração a certeza de que "o verdadeiro devoto de Maria não se perde jamais".

 

Luiz Raphael Tonon é professor de História, Filosofia, Sociologia e Ensino Religioso, gestor do Núcleo de Teologia do IFE-Campinas, leigo consagrado da Comunidade Católica Pantokrator, colaborador do Museu de Arte Sacra de Campinas-SP e membro da Academia Marial de Aparecida.

Leia também: Um apaixonado pela Santíssima Virgem

 

1 Comentário

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

0

Boleto

Carregando ...

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por Luiz Raphael Tonon, em Artigos

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.

Carregando ...