Por Pe. Ferdinando Mancílio, C.Ss.R. Em Artigos Atualizada em 03 ABR 2019 - 09H42

O Povo de Deus, povo peregrino

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Pensando em nossa América Latina, com sua variedade de povos e costumes, vislumbramos uma riqueza imensa de vida, de fé e de sonhos.

Nossa vida é de peregrinos, algo enraizado em nossa existência. Nenhum ser humano é capaz de se estabelecer numa quietude sem fim. Ele é como a fonte que não para de jorrar a água, mesmo sem saber onde ela vai parar ou a quem vai servir.

Somos um povo de caminheiros. Já no Antigo Testamento, Abraão foi convidado por Deus a deixar sua terra e ir para a terra que ele havia lhe prometido (Gênesis,12). Moisés, por sua vez, teve de deixar seu lugar privilegiado e partir para o Egito e se fazer irmão do povo oprimido. No Novo Testamento, o maior grau dessa peregrinação inerente no ser humano é a vinda de Jesus, o Filho de Deus, que veio estabelecer sua tenda, sua morada no meio de nós. Ele nasceu em Nazaré e Maria sua Mãe, se fez a serva do Senhor.

O Santuário de Nossa Senhora Aparecida, Santuário Nacional, enorme em seu tamanho, abriga uma imagem pequenina, de apenas 36 cm. A primeira mensagem que vem ao coração do peregrino certamente é esta: “Fazer-se pequeno, humilde, simples”, assim como são os povos da América Latina. Maria proclamou seu Magnificat na casa de Isabel. Ali ela proclama a grandeza do Deus Salvador em que colocou sua fé e esperança. Nasce ali a espiritualidade dos pobres, dos simples, daqueles que são reconhecidos pelo Deus da Vida. Maria reconhece as grandes coisas que o Senhor realizou no seu povo, nos pobres, nos marginalizados e nos injustamente oprimidos.

Cada santuário, assim como o de Aparecida, mostra-nos a aceitação do nada do homem diante da grandeza de Deus. Espelhamos isso em Nossa Senhora, como o coração que se esvazia e que se doa. Nos corações que se esvaziam de si mesmos é que Deus trabalha para mostrar aos poderosos a salvação dos pequenos.

Desse modo, ninguém pode negar, subestimar ou negligenciar a fé daquele que vem a pé, ou entra de joelhos no santuário ou ainda vai acender sua vela com muita fé, independentemente de sua origem raça ou lugar. Nossa mente intelectualizada, ou simplesmente dominada pela razão, pode negar ou não saber medir o tamanho de um coração pequeno que se coloca diante da grandeza de Deus. A imagem pequenina ensina-nos a tornarmo-nos humildes, simples e pequenos diante de Deus e diante do irmão. Maria trilhou esse caminho e ensina-nos a fazer o mesmo. Ser romeiro é ser querido por Deus, por isso, nenhuma atmosfera que possa subestimar esses peregrinos pode aninhar no coração daqueles que o recebem.

Na América Latina e no Brasil particularmente, onde a Igreja é marcada por grande massa de povo, pobre e marginalizado, há plena identificação com essa Mulher pobre e simples de Israel, “embora vestida de sol como o arrebol”. Ela, fazendo-se pequena diante de Deus, conseguiu a maior grandeza humana. Pobreza que gera grandeza e nobreza.

Assim, o peregrino depara-se com a grandeza e a beleza desse Santuário Nacional, mas se confronta com a pequenez da Imagem que nele faz morada. Admira e se extasia diante do tamanho, a altura e suas proporções, mas emociona-se, comove-se diante da Imagem pequenina, tirada das águas do rio Paraíba quase 300 anos atrás.

Como medir esse índice de liberdade que se passa no coração do peregrino motivado pela fé, pela esperança e por seu amor para com Deus? Não é, portanto, o Santuário, um lugar de milagres sem fim e de coisas estupendas ou grandiosas? O silencioso rio Paraíba, naqueles idos do século XVIII, guardava uma Imagem tosca e simples. Hoje o Santuário Nacional, como o rio Paraíba, guarda uma imagem silenciosa, mas que grita ao coração do povo brasileiro e no de cada peregrino que a busca com sinceridade. Aqui está o silêncio que ecoa mais forte que qualquer outra voz: é a voz de Maria, a Senhora Aparecida!

 

 

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