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Segunda dor de Maria Santíssima - A fuga para o Egito

Escrito por Academia Marial

04 MAR 2023 - 09H00 (Atualizada em 23 FEV 2024 - 15H13)

Segunda dor de Maria Santíssima

A fuga para o Egito

(Evangelho Segundo Mateus 2,13-18)

“Depois que os magos partiram, o Anjo do Senhor apareceu em sonho a José, e lhe disse: “Levante-se, pegue o menino e a mãe dele, e fuja para o Egito! Fique lá até que eu avise. Porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo.” José levantou-se de noite, pegou o menino e a mãe dele, e partiu para o Egito. Aí ficou até a morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor havia dito por meio do profeta: “Do Egito chamei o meu filho.”

O Evangelista Mateus, logo após a narrativa da visita dos Magos, coloca em destaque a figura de José, esposo de Maria e pai adotivo de Jesus Cristo. José entra em ação para cumprir uma missão que não parte de iniciativa própria, mas age de acordo com as ordens que recebe em sonho do anjo de Deus: “Levante-se, pegue o menino e a mãe dele, e fuja para o Egito! Fique lá até que eu avise. Porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo.” (Mt 2,13).

O medo de perder o poder para o real recém-nascido coloca Herodes em posição de destaque nas cenas dos Evangelhos. Sua fúria desmedida já se fizera sentida ao matar a esposa Mariane; sua mãe, Alexandra; seus três filhos, Aristóbulo, Alexandre, Antípates e metade dos membros do Sinédrio e diversos tios, primos e outros parentes que apresentavam ao seu ponto de vista alguma ameaça ao poder que detinha sobre o comando do Império. Tal era a grandeza de sua fúria para se manter no poder que fez com que o historiador Flávio Josefo o denominasse “monstro implacável”. O Imperador Augusto disse que “era melhor ser um porco de Herodes do que filho dele”.

A pergunta dos Magos, “onde está o recém-nascido rei dos judeus?” (Mt 2,2), coloca Herodes novamente em pânico. Ele bem sabia que mesmo sendo um estrangeiro filho de pai edomita e mãe árabe, e não possuindo títulos e nem mesmo o direito de assumir o trono, desde que os romanos o colocaram no poder chamavam-no de “Rei dos Judeus”. A ordem de Herodes aos Magos deram, “vão, e procurem obter informações exatas sobre o menino. E me avisem quando o encontrarem, para que também eu vá prestar-lhe homenagem” (Mt 2,8), é descumprida e os Magos voltam por outro caminho para a sua terra natal, deixando novamente em fúria o implacável Herodes.

A revolta de Herodes se desencadeará na fuga da Sagrada Família de Nazaré para o Egito para proteger a vida agora ameaçada do Menino de Deus. Jesus, Maria e José viverão agora como refugiados até que o Anjo do Senhor lhes dê a ordem de retornar para a sua terra. Em Belém e em todo o território ao redor a profecia de Isaías se cumpriu a profecia: “Em Ramá ouviu-se uma voz, choro e grande lamentação; é Raquel chorando seus filhos, e não quer ser consolada, porque já não existem” (Mt 2,18). Herodes ordenara o extermínio das crianças com menos de dois anos na certeza de que junto eliminaria o Cordeiro Inocente, o Cristo.

José, obediente e decidido, ao despertar reconhece o seu papel como chefe da família de Nazaré, toma consigo a mãe e o menino e parte numa jornada na qual enfrentará perigos e desafios para salvar a vida Daquele que “vai salvar o seu povo dos seus pecados” (Mt 1,21). Santo Alberto Magno contempla a oração de Maria diante da fuga: “Ó Deus, assim deve fugir dos homens aquele que veio para salvá-los?”.

“Logo conheceu a aflita Mãe como já começava a verificar-se no Filho a profecia de Simeão: Eis aqui está posto este Menino como alvo a que atirará a contradição (Lc 2,34). Viu que, apenas nascido, já o perseguiam e queriam matar. “Que pesar para o coração de Maria”, escreve São Pedro Crisólogo, “ao ouvir a intimação do cruel exílio, ao qual ela e o Filho eram condenados. Foge dos teus para os estranhos, do Templo do Verdadeiro Deus para a terra dos ídolos! Há lástima que se compare à de uma criança que, apenas nascida, já se vê obrigada a fugir, levada nos braços de sua Mãe?”¹

Segundo textos apócrifos, os poucos dias e noites que Maria e José atravessam o deserto em direção ao Egito não são marcados por grandes milagres. “Malgrado o medo que os estreita, Maria e José são sensíveis a estas vastas extensões silenciosas, à irradiação da luz sobre a areia e os rochedos, à frescura das copas das árvores, à escuridão imensa e fervilhante de estrelas.

É a própria criação que os envolve com sua presença — não a criação amável, viva e como que civilizada que eles conheceram até aqui — mas o poema radioso e concreto da luz, do céu e da terra, em sua nudez original. Ali eles experimentam uma espécie de desnudamento novo, como também a proximidade da Majestade criadora”.² São Boaventura se pergunta sobre esta dura viagem: “De que se alimentavam? Onde passavam as noites? E de que outra coisa podiam alimentar-se, senão de um pedaço de pão duro, trazido por São José, ou mendigado?”. Quanto a Maria guardava todas estas coisas em seu coração (Lc 2,19).

A piedade popular faz disso eco em quadros e composições poéticas, com a finalidade louvável de enaltecer o cuidado da Providência divina. A verdade é que se tratou de uma fuga em todo o trajeto, na qual, aos sofrimentos físicos, juntava-se o temor de serem alcançados em qualquer momento por algum pelotão de soldados. Só quando chegaram a Rhinocolura, na fronteira entre a Palestina e o Egito, puderam seguir mais tranquilos.

A tradição não é unânime sobre o lugar da residência da Sagrada Família no Egito: Menfis, Heliópolis, Leontópolis…, pois no amplo delta do Nilo floresciam muitas comunidades judaicas. Integraram-se numa delas, como emigrantes, e ali José encontraria um trabalho que lhe permitisse sustentar dignamente, ainda que modestamente, a sua Família”.³

Santo Anselmo é da opinião de que a Sagrada Família habitou na cidade de Heliópolis, no Egito. Consideremos a extrema pobreza que Jesus, Maria e José viveram nos sete anos que ali permaneceram, como afirma Santo Antonino, Santo Tomás e outros.

Naquele lugar, eram estrangeiros, desconhecidos, sem parentes ou amigos a quem recorrer, sem salários, sem dinheiro. São Basílio dizia que os três peregrinos sustentavam-se com dificuldade, com os seus pobres trabalhos. Landolfo de Saxônia escreve que a Virgem Maria se achava em tão grande pobreza — que isto seja dito para consolação dos pobres — que, algumas vezes, não tinha nem sequer um pouco de pão, que o Filho lhe pedia, obrigado pela fome… Pobre mãe! Quanto não devia ela sofrer, tanto na viagem como durante a sua permanência naquele país distante, entre os infiéis!4

“Foram meses de trabalho escondido e de sofrimento silencioso, com a nostalgia da casa abandonada e, ao mesmo tempo, com a alegria de ver crescer Jesus são e forte, longe do perigo que o ameaçava. À sua volta, contemplavam muita idolatria, tantas figuras de deuses estranhos com figuras de animais. Mas Maria sabia que Jesus Cristo tinha vindo ao mundo também por aquelas pessoas, também para elas era a Redenção. E a Virgem abraçava-os em seu coração maternal.5”


Bibliografia:

1.LIGÓRIO, Afonso maria. Glórias de Maria. 3 ed. — Aparecida, SP: Editora Santuário,1989.

2.CAFFAREL, Henri. Recebe Maria como tua esposa. — Aparecida, SP: Editora Santuário,2009.

3.LOARTE, J.A. Vida de Maria (10): A Fuga para o Egito. Opus Dei, 2022. Disponível em: < https://opusdei.org/pt-br/article/vida-de-maria-x-a-fuga-para-o-egito/ >. Acesso em: 10 Janeiro de 2023.

4. A fuga de Jesus, Maria e José para o Egito. Canção Nova, 2017. Disponível em: < https://blog.cancaonova.com/tododemaria/a-fuga-de-jesus-maria-e-jose-para-o-egito/#_ftn2>. Acesso em: 10 de Janeiro de 2023.

5.LOARTE, J.A. Vida de Maria (10): A Fuga para o Egito. Opus Dei, 2022. Disponível em: < https://opusdei.org/pt-br/article/vida-de-maria-x-a-fuga-para-o-egito>. Acesso em: 10 de Janeiro de 2023.

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