Catequese

Por que ler a Bíblia?

Escrito por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R.

21 SET 2015 - 13H58 (Atualizada em 30 SET 2021 - 09H55)

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1) Por que ler a Bíblia? 

 A Bíblia é o livro da vida. A vida humana conhece e experimenta o sofrimento, a provação, a tentação. A Palavra de Deus é anunciada, é “ingerida” e vivida nas alegrias e dores do nosso viver. Precisamos aprender não só a ler, mas também a iluminar com a ela as angústias, aflições e desânimos da fraqueza humana.

Em todos os livros bíblicos aparece o clamor suplicante do justo perseguido, levantando o olhar para Deus em busca de socorro. Acolhida, a Palavra explica, refaz, e gera continuamente caminhos novos na vida. Os Evangelhos mencionam essa experiência inclusive na vida de Jesus, dos seus apóstolos e primeiras comunidades cristãs. Dom Raymundo Damasceno Assis, cardeal e arcebispo emérito de Aparecida, nos diz:

 muito importante cultivar o hábito de leitura da Bíblia, especialmente no mundo de hoje, marcado pelo individualismo e pelo relativismo ético, por incertezas e divergências diante de tantas opiniões sobre temas fundamentais como a vida, a verdade, a família".

2) Somente o contato com os Evangelhos poderá fazer emergir a pessoa de Jesus Cristo, suas palavras e suas ações, como figura central para a vida cristã?

Os quatro evangelhos foram pensados e redigidos conforme o esquema pessoal e a intenção de cada evangelista (Mateus, Marcos, Lucas e João). Mas, eles dão um grande destaque às narrativas da Paixão, morte e ressurreição do Senhor. No mistério pascal está a centralidade da Sagrada Escritura. É o querigma, ou seja, o anúncio essencial da pessoa, ensino e práxis de Jesus Cristo.

O discipulado (vida cristã) só existe por Cristo, com Cristo e Nele. “Para mim, o viver é Cristo!”, escreve São Paulo em Filipenses 1, 21. Mas, não é a letra, e sim o “espírito” desse viver (2 Cor 3, 6), que faz emergir nas opções e comportamentos o “homem novo”, criado segundo Deus na justiça e santidade verdadeiras (Ef 4, 24). Jesus é o primogênito dos que amam a Deus por Ele (Rm 8, 29). As “sementes do Verbo” estão presentes em todas as culturas onde se buscam a verdade, a justiça, a caridade. “Deus pode, por caminhos dele conhecidos, levar à fé todos os homens que sem culpa própria ignoram o Evangelho”.

3) Poderia dar dicas de como ler a Bíblia de forma eficaz?

Tudo o que é feito de modo sistemático e organizado com inteligência, boa vontade e perseverança tem proveito e eficiência. Também a leitura da Bíblia. Mas, sendo palavra falada e “falante” de Deus, a Bíblia se explica por si mesma. Ele nos está falando no momento exato em que lemos ou escutamos sua Palavra.

Leia MaisDia Nacional da Bíblia Ela fala de dentro de si mesma, a partir do seu próprio conteúdo. Se lhe dermos a devida atenção, ela vai nos interpelar e questionar nossas atitudes. Na medida em que houver uma leitura feita com oração, humildade e perseverança, o texto vai sendo compreendido.

4) O texto sagrado permite passar de uma fé alimentada principalmente pela piedade devocional e práticas festivas para um contato real com a Palavra de Deus?

Ao menos essa é uma oportunidade comum e popular, num mundo midiático onde o consumismo e a pressa sufocam o tempo e as iniciativas espirituais. É claro que é preciso crescer no interesse, no esforço continuado, na consciência do contato com a revelação divina. Aproveitar as ocasiões oferecidas na comunidade. Ter participação mais ativa.

Nesse sentido é desejável, oportuno e útil algum estudo pessoal ou em comum; cursos breves, reflexões oportunas em palestras, etc.

5)   Acredita que a Bíblia é bem interpretada pelos cristãos?

Difícil mensurar resultados subjetivos. É inegável que a Bíblia passou às mãos do povo cristão. Continua presente nas livrarias e nos corações. “A Bíblia tem sido lida, discutida, estudada e contemplada por grandes contingentes de pessoas em todo o mundo. Tornou-se extremamente importante e fecunda na vida diária das pessoas envolvidas nas Comunidades Cristãs de Base e nos círculos bíblicos na América Latina, na África, na Europa...” (Concilium, Revista Internacional de Teologia, 335, pg.5).

É livro procurado e muito difundido, principalmente após o Concílio Vaticano II. Já são cinco décadas de renovação bíblica na teologia e na vida da Igreja. Mas, é urgente “aprender a ler a Bíblia”. Sem interpretações fundamentalistas (ao pé da letra); sem “achismos”, sem valorizar demais as tendências emotivas ou de autoajuda, tão à moda nos chamados cultos eletrônicos. O católico sempre leva em conta a Tradição e o Magistério da Igreja na leitura e interpretação do texto bíblico.

6)   Na prática, setembro ajuda a alavancar de modo eficiente a leitura da Bíblia nas comunidades? Quais são os reflexos positivos e concretos para a vida das comunidades eclesiais espalhadas pelo país?

Em setembro, há um esforço católico em conjunto nas Dioceses e paróquias para homenagear e conhecer mais a Bíblia. Desde 1971, cada ano tem seu tema e lema, com indicação do livro ou texto bíblico a ser refletido nas comunidades. Grupos se organizam e mobilizam nas mais diversas áreas: Liturgia, Estudos bíblicos, Comunicação, etc. durante o mês, que é encerrado com o Dia da Bíblia (30 de setembro), dia de São Jerônimo, modelo exemplar de estudo e amor a Sagrada Escritura. É dele a frase: "ignorar a Sagrada Escritura é ignorar o próprio Cristo".

As pastorais cobram novo impulso por toda a parte nos círculos bíblicos e celebrações de setembro. O culto humilde, fiel e continuado à Palavra de Deus é termômetro da vitalidade espiritual e da prática sincera do Evangelho.

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A Bíblia é um livro, ao mesmo tempo, fácil e difícil

Entretanto, a Bíblia é um livro, ao mesmo tempo, fácil e difícil. Fácil porque, para ser lida com real proveito, a condição essencial é a fé. E essa é “dom de Deus”. Difícil porque a leitura da Bíblia exige tempo, dedicação, paciência. Só uma leitura humilde, constante e cheia de fé abre-nos os tesouros da Palavra.

Nos últimos 50 anos, o livro mais editado, lido e vendido no mundo é a Bíblia. Está em primeiro lugar disparado no ranking estatístico. E ela continua levantando questões e desafios fundamentais para toda a Igreja.

Por exemplo: como identificar a “Palavra de Deus”, sua voz, com as numerosas e diversas vozes humanas que permeiam os textos sacros de épocas e culturas tão diferentes? A Palavra tornou-se carne: nossa carne!

 

 Pe. Antonio Clayton Sant'Anna
Entrevista para o jornal Santuário
setembro de 2015
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