Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 26 MAR 2019 - 12H48

Deus ou dinheiro? Opção absoluta e mutuamente excludente

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25º Domingo do Tempo Comum

Lc 16,1-13

Quem, de fato, quer seguir a Jesus deverá fazê-lo atento e fiel à sua Palavra: “, onde nem traça, nem ferrugem as podem destruir, nem os ladrões conseguem assaltar e roubar. Pois onde estiver o teu tesouro aí estará também o teu coração! (Mt 6,20-21). É loucura “ajuntar tesouros para si e não ser rico para Deus” (Lc12,21). Em verdade, o pobre coração humano tanto mais vazio de Deus quanto mais cheio de si, jamais achará riqueza maior que a Palavra do Senhor, o patrão da vida. Eis o único tesouro a não perder jamais. Por outro lado, quem escapa ileso às tentações de servir e procurar o dinheiro antes que a Deus?

Em São Lucas lemos a passagem na qual Jesus elogia a esperteza de um administrador (ecônomo) infiel. Surpreendido pelo patrão e recebendo dele o “aviso prévio”, foi prudente em preparar a saída cooptando a amizade dos demais empregados. Sem dúvida, a história do administrador infiel pode ser abordada por diversos ângulos. Todos, no entanto, subentendem um mesmo princípio teológico do Cristianismo: “Buscai o Reino de Deus e sua justiça e tudo o mais vos será dado por acréscimo”. (Mt 6,33). Assim, o conteúdo catequético do texto quer orientar os cristãos no uso dos seus bens ou riquezas no mundo.

Tendo em mente este princípio de fé, podemos refletir esta narrativa de Lucas a partir do olhar poético-existencial. A passagem do administrador infiel nos questiona sobre “o como” estamos administrando “os dons e as dádivas que Deus nos deu”. Estamos esbanjando, desperdiçando nossas qualidades, nossas capacidades em ações indiferentes ao projeto do Reino de Deus e a sua justiça? De que modo permanecemos fiéis neste compromisso assumindo-o conscientemente?

Lucas mostra-nos a preocupação do administrador avisado de demissão por ‘justa causa'. Sua esperteza mundana o fez perceber que ter amigos interesseiros era melhor do que ter dinheiro. A amizade dá um suporte que o dinheiro por si mesmo não dá. Como por exemplo: o retorno digno à vida social, um lugar onde repousar a cabeça, ou uma casa amigável para acolhê-lo. Essa esperteza elogiada por Jesus revela a seguinte sabedoria: quem partilha o que tem e serve aos outros, jamais estará sozinho. Poderá ser ajudado por eles quando seu poder for reduzido a pó. Sendo assim, saber administrar os dons e riquezas pessoais é saber usá-los no serviço ao próximo, promovê-lo e humanizá-lo. No serviço ao próximo garantimos a fidelidade do uso de nossos dons conforme o projeto de Deus e, por isso, tudo o mais que precisarmos nos será dado por acréscimo. Teremos sempre o retorno do próximo, o bem que eles nos confiarão e que é igualmente nosso, mas que é dado nesta relação: o da partilha do bem comum no Reino de Deus.

No viés sociológico, o texto já pressupõe uma estrutura socioeconômica de mundo que é por si corrupta. O dinheiro discrimina e é injusto em sua distribuição. A pessoa goza do valor que lhe dá o dinheiro e o poder. Dinheiro e poder que são sempre o privilégio de uma minoria subjugam nações inteiras. O texto nos ensina, então, que o cristão (ã) não precisa temer e relevar a lógica corrupta e materialista que governa o mundo. Não precisa se refugiar no deserto. E nem viver a radicalidade profética de João Batista que se vestia de pele de cordeiro e comia gafanhotos para anunciar a vinda do Reino de Deus na pessoa do Messias. Mesmo não assumindo a lei do mercado, o cristão (ã) pode estar inserido neste mundo, pode ter poder e riqueza, conquanto seja esperto como o são os filhos do mundo. Conhecendo a realidade sócio-política e econômica que se vive, conhecendo os atos concretos de discriminação e corrupção que a grande massa suporta todos os dias; o cristão (ã), fazendo parte dela ou não, deve usar seus recursos com argúcia, prudência e esperteza. Fará isso administrando aquilo que recebe do mundo para o bem, isto é, para o serviço ao próximo.

 

Não foi desse modo que viveu Maria, a Virgem prudente e fiel?

Se Jesus nos diz: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Lc 20,25) daremos, então, ao mundo o que lhe pertence. Se a esperteza lhe pertence, nos serviremos dela contra ele mesmo, para dar a Deus o que é de Deus. Ou seja, de todas as coisas passageiras e ilusórias do mundo, faremos delas obras duradouras e seguras nas moradas eternas. Assim, não serviremos ao mundo, mas a Deus ainda que estejamos vivendo as provações que nos impõe o ritmo moderno da vida mundana.

Não foi desse modo que viveu Maria, a Virgem prudente e fiel? Ela deixou de investir seu futuro como sonhava uma mocinha da Judéia naquele tempo, costumes e cultura. Investiu sua vida não no dinheiro e bens materiais agindo com esperteza. Mas por doação radical de si, renunciou-se e assumiu o servir a Deus e a nós para que o Messias-Salvador pudesse nela vir até nossa “casa”.

Pe. Antonio Clayton Sant'Anna, CSsR
Ana Alice Matiello

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