Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 26 MAR 2019 - 12H47

A oração sincera nos relaciona a Deus em total humildade

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30º domingo comum do ano C -  Lucas, 18,9-14

Trabalhos, negócios e preocupações nos desgastam. Cada domingo traz a chance da renovação interior com o apoio da comunidade orante. Nela a Palavra de Deus ouvida e rezada nos faz repensar o que temos feito para servir a Deus. “Quem serve a Deus como Ele o quer, será bem acolhido e suas súplicas subirão até as nuvens. A prece do humilde atravessa as nuvens”. (Eclo,35-21- 1ª leitura). Na missa abrimos o coração à Palavra de Deus. Ela nos corrige, purifica e refaz o humanismo público. Neste domingo uma parábola de Jesus separa a religiosidade sincera da falsa. O relacionamento humilde com Deus nos propicia critérios para julgarmos as pessoas e seus valores não pelas aparências. Estas nos enganam, diz o provérbio popular. E nós somos inclinados a enganar os outros também com aparências de bondade, retidão e moralidade. Queremos projetar para os outros a nossa boa imagem, mas partindo do juízo que temos sobre nós mesmos. Sempre um juízo em causa própria que condena facilmente o próximo julgado por competição, interesses, inveja.

  

Foto de: Ronaldo Nezo.

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Esconder-se atrás de boas aparências é mascarar
o caráter com o fingimento ou a ficção.

Enfim, hoje convivemos com esta realidade cultural: o que importa é o aparecer, não é o ser! Vale o culto das aparências. Desde que assumiu o papado Francisco tem verberado com veemência o afã atual de padres e leigos em busca do carreirismo na Igreja. É o brilho das vaidades. A propaganda e a ostentação vaidosa falseiam a realidade e nos enganam, mas ninguém é justificado perante Deus por isso. Esconder-se atrás de boas aparências é mascarar o caráter com o fingimento ou a ficção. O culto das aparências apenas incentiva a esperteza, a mentira, a desconfiança. Jesus nos mostra quem será verdadeiramente aceito e justificado por Deus. O texto do evangelho no 30º domingo comum do ano C constrói o humanismo em nossas relações com os outros. Leia: Lucas, 18,9-14.

A parábola é de fácil compreensão, grande alcance religioso e psicológico. Tem endereço: “alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros” (v.9). Refere-se aos fariseus e grupos da elite no tempo de Jesus. Mas, permite que façamos uma autoanálise justa, sincera e isenta. É a pré-condição da oração e relacionamento com os outros. No tempo de Jesus os fariseus julgavam ser os únicos aceitos por Deus e viam com maus olhos todos os demais. Inclusive os chamados “publicanos”. Quem eram eles? Funcionários públicos judeus, mas a serviço do fisco romano. Vistos como pecadores públicos devido às injustiças talvez praticadas na coleta dos impostos e ao colaboracionismo com os invasores do País. Deviam ser evitados e condenados por esse mau exemplo de vida.

 

A palavra “fariseu” significa: alguém que não se mistura, tendo-se como autêntico e puro.

Suposta a discriminação social e religiosa, os dois homens que foram ao Templo rezar representam os extremos da sociedade judaica. Os fariseus eram um grupo da elite. Seguiam à risca as observâncias rituais da Lei mosaica. A palavra “fariseu” significa: alguém que não se mistura, tendo-se como autêntico e puro. Os publicanos, mesmo se por acaso honestos, eram vítimas do preconceito. Tidos infiéis porque a serviço dos estrangeiros. 

A oração do fariseu apoiou-se primeiro no agradecimento, mas tornou-se o autoelogio de alguém prestando contas a Deus. Orgulhoso de si alegou pretensos méritos na comparação com os outros. Viu-se como homem de bem, íntegro e de ilibada moral, na linguagem política habitual. Na verdade nem precisava pedir perdão de pecado algum. Ao contrário, Deus lhe ficara devedor de uma extensa lista de créditos. Já o publicano distante do altar, confessava a consciência da culpa perante um Deus justo e santo. Nada tinha para se gloriar nem comparar com alguém mais pecador. Na humilhação íntima da consciência faltava-lhe até a coragem de erguer os olhos ao rezar. Antes pensava em seus pecados, batia no peito cheio de arrependimento e entregava-se à misericórdia do Senhor.

Foto de: Editora Cléofas.

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“Fazer da vida uma oração”

Jesus concluiu que o publicano rezou de verdade, não o fariseu que fôra ao Templo para aparecer, movido por carreirismo, presunção e orgulho pessoal. De fato nem rezou! A lição da parábola ficou na sentença do Mestre alertando seus discípulos de todos os tempos com a sentença: “Quem se eleva será humilhado, quem se humilha será elevado (perante Deus)” (v.14)

Até mesmo do ponto de vista psicológico a oração cristã é recurso útil que nos faz mais conscientes de nossos limites e nos ajuda a ver as intervenções divinas na trama dos acontecimentos. Com o exercício humilde da oração, seja louvor, súplica ou agradecimento, percebemos de modo vivo os falsos valores inerentes aos interesses humanos da competição e vaidade. Esta ambição de aparecer, marcante nas relações da sociedade, cultiva as vaidades e espertezas políticas, sem espaço para a misericórdia. Mas, aí devemos ser missionários dela. Maria, a virgem mais humilde, a primeira missionária da misericórdia, a mais santa seguidora do Filho nos ensine e ajude a “fazer da vida uma oração”! 

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