Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 26 MAR 2019 - 12H48

Deus nos espera sempre na misericórdia: Ele é feliz em nos fazer felizes!

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Homilia 24º Domingo do Tempo Comum   
Lucas, 15, 1-32

 A Bíblia, enquanto Palavra viva de Deus, não é só o livro material da “palavra-escrita”. Mais do que a letra, ou do sentido literal é o espírito do amor misericordioso de Deus que faz a Bíblia ser uma “palavra sempre viva”. É a Palavra do Pai que ama os filhos ternamente! Os evangelhos nos transmitem de imediato a vivência de Jesus que sendo Filho de Deus, está sempre em relação carinhosa com o Abbá (papaizinho), e por isso acolhe com solicitude e respeito todas as pessoas, valorizando em especial as marginalizadas. Até mesmo o esquema legal e ritual da prática religiosa imposta pelas lideranças político-sociais em nome da Aliança com Javé, era fator de discriminação. Fariseus e doutores da Lei dividiam a sociedade em puros e impuros. Puros eram os observantes rigorosos da Lei mosaica na letra, nas tradições e ritos exteriores. Impuros eram todos os demais que não pautavam sua vida conforme as rígidas orientações da elite religiosa do Templo.

No capítulo 15 de São Lucas entramos no coração desse evangelho. Ali estão as três parábolas que salientam o tema: Deus quer partilhar conosco a sua alegria através da misericórdia e do perdão. Todo o capítulo 15 de Lucas insiste nessa tecla: “haverá mais alegria no céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão” Alegria que fica ilustrada na parábola da ovelha perdida e reencontrada pelo pastor de cem (100) ovelhas; na parábola da moeda de prata perdida e reencontrada pela mulher que tinha dez (10) e principalmente com a comovente história do filho pródigo, perdido e reencontrado ao voltar para ser abraçado pelo pai que sempre o esperara. Assim Deus é generoso no perdão, não por causa de nossos possíveis méritos, embora Ele espere que tomemos a iniciativa de voltar à alegria do seu convívio. Leia: Lucas, 15, 1-32.

Com seu código de leis e prescrições minuciosas e desgastantes sobre quem era puro e impuro diante de Deus, os lideres religiosos e civis do tempo de Jesus, excluíram a muitas pessoas da própria convivência social. Rotulavam como “pecadores”, até mesmo em função de alguma profissão pública mal vista, como a dos cobradores de impostos, e criticavam Jesus por ter amizade com eles. Jesus ao contrário, ensinava que Deus não discrimina ninguém e deixa sempre aberta a todos a porta do seu coração. Eis o contexto da conhecida parábola do filho pródigo.

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A parábola é conhecida e todos nos reconhecemos nela! Ou será que não o é? Se não o for, também reproduziremos automaticamente o comportamento do “filho mais velho” o que se recusou a festejar a volta, a conversão do irmão mais novo. Esse filho mais velho com seu conceito de auto aprovação, achando-se “bonzinho”, religioso e fiel observante dos mandamentos, é o “anti-filho”. Representa os líderes fariseus e doutores da Lei que se consideravam justos perante Deus, por que observavam fielmente os ritos exteriores do culto e das tradições. O filho mais novo, rebelde e aventureiro, representa –na parábola- a grande parte da população incapaz de cumprir à risca as regras religiosas e civis da elite. Constituía-se assim a lista legal: pecadores; gente impura; de costumes perigosos para o cumprimento da Aliança com Deus. Os precedentes, então, da parábola são o comportamento de Jesus em relação aos tais pecadores públicos, aos tais “impuros da sociedade”. Cidadãos desprezíveis avessos a se enquadrarem no esquema legal e religioso da elite diriente.

 

Ele revela a lógica do amor e da bondade de Deus, rompendo as barreiras discriminatórias do convívio social.

Entretanto, quando nós pensamos que entendemos tudo o que a parábola ensina, ela volta a nos surpreender numa nova leitura. São tantos os aspectos que vão revelando quem é Deus em relação a nós, pecadores, no modo de ser de Jesus. Ele revela a lógica do amor e da bondade de Deus, rompendo as barreiras discriminatórias do convívio social. De tal modo que a parábola não deveria ser intitulada: o filho pródigo, mas sim: Parábola do Pai Misericordioso! E aí vamos perceber que a história do filho mais novo e do filho mais velho, são apenas “quadros culturais” da narrativa. Na realidade, trata-se de nós, cada um de nós. É a nossa história de vida! E é por isso que a Bíblia, em especial no Evangelho, é “palavra-viva”. Não é só a “palavra-escrita”: insistir muito que Deus falou, pode levar-nos a não escutar que ele está falando agora! De fato, a parábola parece ser um resumo do mistério da salvação e do amor de Deus conosco.

Quantos filhos e filhas não experimentaram a humilhação de viver perdidos, depois de terem abandonado o aconchego da boa casa paterna? E abandonado por rebeldia, sede de liberdade total, fome de prazeres numa atitude ingrata com os pais? Essa história, caminho do pecado, mais cedo ou mais tarde leva à frustração. A parábola de Jesus não é poesia, é realidade! E quem sabe é a nossa chance do “caminho de volta”! Que Maria, aquela que sentiu a máxima angústia da perda sem ter dado nenhum motivo para tanto, nos ajude a reencontrar a alegria da volta para a graça do Senhor.

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