Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 26 MAR 2019 - 12H50

Só com a fé se busca a fé verdadeira!

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Homilia 9º DOMINGO COMUM - ANO C

(Lc 7,1-10)

O conteúdo específico dessa reflexão é levar ao mergulho de corpo e alma no âmago do Evangelho. Aprofundar o desejo de ser cristão. Buscar a maior identidade possível com Jesus Cristo o ressuscitado. Ser cristão é ser como Cristo: o ungido e consagrado a Deus. Por isso, a prática da acolhida fraterna em nossas comunidades. A vivência do discipulado missionário sem medo dos desafios sempre novos à fé. O cristão e a cristã estão compromissados com os valores do evangelho: o respeito à vida de quem quer que seja; a recusa a qualquer injustiça; a defesa do amor verdadeiro. Em nenhum momento podemos nos desligar desse esforço consciente de libertação do pecado e de construção de vida nova, segundo o projeto e a prática de Jesus. Até que se realizem definitivamente na ressurreição final.

Lucas expõe no capítulo 7º a atividade ministerial de Jesus na Galiléia. Ela se mostra em pregações, ensinamentos morais e religiosos, curas e exorcismos e gestos de solidariedade com os mais humildes. E relata uma novidade cultural para a prática religiosa judaica: Jesus atendeu até o pedido de um oficial romano pagão. Leia: Lc 7,1-10.

Umas das ideias próprias de Lucas ao descrever o que Jesus fez e falou é: nos seus gestos e palavras se manifesta a misericórdia de Deus. E esta é universal! Não salva apenas os que pertencem ao povo judeu, tanto os observantes da lei mosaica quanto os pecadores, cobradores de impostos e pessoas mal vistas. Salva também os estrangeiros, os pagãos cheios de boa vontade. O episódio da cura do oficial romano ilustra até onde chega a misericórdia de Deus. Assim como as pessoas consideradas pecadoras ouviram falar de Jesus e buscaram a sua amizade, isso aconteceu com o centurião romano. Ele “ouviu falar de Jesus” (v.3) e foi atraído por sua bondade. Aliás, era bondoso de coração, pois preocupou-se com a doença e cura do seu empregado. Coisa rara para um homem na sua posição. Até os líderes judeus elogiaram a sua bondade e fizeram-se intermediários entre o oficial e Jesus. Disseram: “ele estima muito o nosso povo... merece que lhe faças esse favor... construiu uma sinagoga para nós” (vv. 4-5).          Realmente isso era extraordinário: um oficial romano graduado colaborar com a religião do povo dominado! Revelava nele um homem temente a Deus capaz de respeitar a consciência religiosa de um povo vencido e vigiado.

Mais extraordinária que os elogios foi a conduta em relação a Jesus. O oficial pagão se comportou como verdadeiro homem educado com boas maneiras, não como um militar cioso de sua patente e acostumado a dar ordens e ser obedecido. Enviou amigos para se encontrarem com Jesus que vinha vindo à sua casa. Não precisava se incomodar, “pois não se considerava digno de recebê-lo nela e, por isso, nem mesmo fora ao seu encontro” (v.6).

Esta delicadeza revela no centurião alguém ciente das normas religiosas que proibiam a um judeu entrarem na casa de um pagão. Quem o fizesse era considerado um “impuro” legal, um “contaminado”. Quis poupar Jesus desse constrangimento. E afirmou que reconhecia nele, Jesus, uma autoridade superior à dele. Ele era um oficial. Suas ordens eram obedecidas pelos soldados e empregadas imediatamente. No entanto, ele não passava de um subordinado ao poder central romano. Jesus, sim, era independente de toda subordinação. Bastaria uma só palavra dele para curar o empregado gravemente doente.

Lucas assinala a admiração de Jesus que elogia a confiança sem igual daquele soldado pagão: nem em Israel encontrei tamanha fé (v.9). Israel, o povo escolhido não honrava como aquele pagão a sua “subordinação”, ou a Aliança com Deus! Valia, então, a advertência: poderia ser substituído pelos pagãos, nessa aliança!

Se o evangelho é o retrato da comunidade em sua fé, esse milagre de Jesus atendendo ao pedido de um pagão nos indica que a Igreja deve ser sempre a “Porta aberta” do amor e bondade de Deus. Praticar a acolhida generosa! Lá no início do discipulado predominava, é claro, nas comunidades a mentalidade judaica e seus costumes. Logicamente os pagãos convertidos tinham dificuldades de convivência e quem sabe se exigia deles coisas que eram normais para um judeu e não para eles. Aos poucos, a imitação de Jesus na sua prática de vida foi unindo judeus e pagãos na fé cristã. Hoje, o discipulado cristão encontra desafios próprios da cultura atual com tantos problemas políticos e econômicos do mundo. O Papa Francisco tem nos orientado com uma expressão: precisamos ser “Igreja em saída”. Ou seja, a comunidade cristã não pode ficar fechada em si e nas suas celebrações, mesmo entusiastas. Deve sair ao encontro de todos!

Maria acolheu a Palavra no coração e no seio. Foi a primeira discípula de Jesus e a primeira comungante da fé e na fé. Saiu de sua condição cultural judaica e se tornou imagem da “igreja acolhedora e missionária” em todos os povos. Que ela nos abençoe e ajude a receber seu Filho no mistério eucarístico com todo o alcance das palavras do centurião, conservadas pela tradição da Igreja. “Senhor, não sou digno que entreis em mim. Dizei uma só palavra e serei salvo!”

 

 

 

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