Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 26 MAR 2019 - 12H48

Maria, discípula fiel do Senhor

O Magnificat por São João Paulo II

A evangelização em qualquer esquema é sempre isto fundamentalmente: uma proposta da salvação realizada por Cristo e intermediada pela sua Igreja. Portanto, este nosso esforço evangelizador, quer ser um instrumento da fé que nos salva conhecendo mais e melhor a Palavra da Bíblia. Com a finalidade específica de permitir que Deus opere em nós as suas maravilhas, a sua ação amorosa, como o fez em grau tão extraordinário na vida de Maria. Por isso, ela cantou o seu “magnificat”: sua ação de graças a Deus que, descendo de sua grandiosidade e poder, agiu em favor dos pobres e humildes. Por isso também, para a comunidade de Jesus, Maria é a “estrela da evangelização”. A primeira missionária de seu Filho. A fiel servidora da palavra que nos salva. Modelo do cristão e da cristã em todos os tempos.

Lucas fez-nos esse presente: mostrou-nos no seu evangelho a figura e o papel dessa mulher, bendita entre todas, a nova Eva, que colaborou tão eficazmente para a nossa redenção em Jesus Cristo. Querer diminuir o brilho dessa estrela de primeira grandeza no firmamento bíblico, é atentar contra a integridade do próprio evangelho.

No Evangelho da infância redigido por Lucas nos capítulos 1 e 2 do seu livro, Maria é vista como sócia do agir salvífico de Deus. E ela canta a alegria messiânica, ou seja, a felicidade dos pobres de Javé. Pobres de Javé, para os profetas, são aquelas pessoas que partindo da experiência de sua pobreza e humildade, souberam conservar-se fiéis ao Deus da Aliança. Eles e elas, foram por ele atendidas, favorecidas e amadas, mais do que poderiam esperar. Vamos ler: Lucas 1,39-56.

Lucas narra os fatos bíblicos relacionados ao nascimento de Jesus e procura analisar neles o modo de Deus agir. Refaz a história da salvação. Foi revelado a Maria que Isabel sua prima, apesar de idosa e estéril, tinha engravidado. Mais do que depressa a Virgem viajou através das montanhas a fim de ajudar Isabel no parto de João Batista. Uma viagem de 140 km. a pé. Por que Lucas se ocupou de algo aparentemente sem importância? Sua narrativa está cheia de simbolismos religiosos que revelam as ações cheias da bondade e misericórdia de Deus.

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Isabel proclama que Maria é mulher de fé
porque soube acreditar nas promessas divinas.

Maria vai visitar a parenta não só por caridade. Ela já é portadora do Messias-Salvador. É a arca da aliança do Novo Testamento. Lá no Antigo Testamento, a arca da aliança foi portadora das bênçãos de Deus para todo o povo. Outro simbolismo: a fecundidade da vida nas duas mulheres por obra de Deus. A uma, Isabel, ele rejuvenesce a natureza estéril. Na outra, Maria, recria toda a humanidade e a enche de graças por Jesus, “o bendito fruto do seu ventre” (v.42). A saudação de Maria à Isabel foi o primeiro anúncio de Jesus, o que provocou a alegria da chegada do Reino de Deus em João Batista ainda no seio da mãe. Tomada pelo Espírito Santo de Deus, Isabel reconhece na visita de Maria o cumprimento das profecias sobre o Salvador. O Senhor! “Como posso merecer que a mãe de meu Senhor venha me visitar?” (v.43).

E não é só. Isabel proclama que Maria é mulher de fé porque soube acreditar nas promessas divinas. É equiparada a Abraão: o pai dos crentes. O que ele foi lá no passado bíblico, agora Maria o é para o novo povo de Deus. Ninguém acreditou mais e melhor do que ela. Ela substituiu Eva ao gerar em si a cabeça de uma nova descendência humana: Jesus Cristo. Com toda a razão Isabel a louva: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (v.45)

No Magnificat (vv.46-56), Maria está agradecendo o modo de agir de Deus quando Ele concretizou em sua plenitude pela encarnação de Jesus, o projeto salvador. Para trazer o seu Messias, Deus escolheu os pobres e humildes e em favor deles mostrou todo o seu poder! A primeira pobre, entre todas e todos, é ela: Maria, feita Cheia de Graça e privilegiada em sua pequenez por uma maternidade tão prodigiosa. Ela já sentia naquele momento o gozo da bem-aventurança, da felicidade proclamada mais tarde por seu Filho: “Bem-aventurados sois vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus” (Lc 6,20). Por isso está expressando entusiasmada o seu louvor e gratidão, o reconhecimento das obras divinas que a tornarão lembrada até o fim dos tempos e felicitada em todas as gerações!

Meditando sobre o que Deus estava fazendo nela e fizera até ali na História do seu povo, Maria a jovem judia, salienta o que já aprendera no Antigo Testamento: o poder, a santidade, a misericórdia de Javé, o Senhor! Esses são os maiores sinais do seu agir divino... Por isso, Ele: “derruba do trono os poderosos e eleva os humildes” (v.52). Profeticamente, Maria condena os faraós em qualquer tempo e nação da História! Pois Deus é o Deus da Aliança, parceiro dos oprimidos que: “aos famintos enche de bens e despede os riscos de mãos vazias” (v.53).

É claro, Lucas trabalhou literariamente esses fatos da infância de Jesus. O hino do Magnificat corresponde sim às ideias e sentimentos de Maria, mas foi redigido por Lucas na forma literária própria dos hinos de ação de graças. É uma composição feita com frases e alusões de várias passagens do Antigo Testamento. E Lucas encerra a narrativa com seu estilo costumeiro: ligando uma narração à outra com uma interrupção. Ele diz: Após 3 meses, Maria voltou para casa. Esse “voltar para casa” é o fim de uma cena e a passagem para outra. Os 3 meses provavelmente são o tempo que faltava para o nascimento de João Batista.

Para nós hoje, poderíamos fazer a seguinte reflexão sobre esta cena da infância de Jesus. Desde que se tornou sócia de Deus, Maria se achou “bem-aventurada”, feliz. Feliz, não rica! Continuou humilde e pobre. Não poderosa e importante, mas feliz! De fato, a fé não é para a prosperidade, para resolver problemas materiais. É para nos trazer felicidade de Deus! Medite nisso!

 

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