Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 25 MAR 2019 - 17H24

O Dia do Senhor ou Parusia: a certeza de um futuro indefinido

parusia

Homilia 33ºDomingo Tempo Comum - Ano C         
Lc.21.5-19       

O Evangelho, no estilo, objetivos e ambiente histórico, é retrato da comunidade cristã que refletia a sua fé ou a repensava em meio aos anseios, dúvidas, perseguições e dificuldades. É a vivência cristã dos primeiros tempos da Igreja nos questionamentos que os discípulos se faziam, desafiados para crer e perseverar. Cada Evangelho guarda o “depósito da fé” como num cofre precioso. É o primeiro catecismo por excelência, ao qual se reportam as elaborações da doutrina e as adaptações da moral. Desde o início esta catequese original e histórica uniu, animou e inspirou as gerações cristãs na partilha das ideias e decisões quanto ao seguimento de Jesus.

No capítulo 21 de Lucas Jesus nos ensina sobre o fim das coisas em relação ao Juízo de Deus. O texto realça o comportamento a ser assumido no discipulado ao longo da História. Rememorando a destruição do Templo de Jerusalém no ano 70 DC, vê no fato o fim da Antiga Aliança. O Templo era uma construção magnífica, orgulho do povo. Destruído, suas ruínas escondem até mesmo hoje um pouco da antiga grandeza. Mas, Jesus reprovou o orgulho dos homens por suas obras: “não ficará pedra sobre pedra”, disse. E avisou ser preciso submeter tudo ao Juízo de Deus nas crises. Seus discípulos deverão confiar no Mestre e saber evitar os falsos ‘messias’, em meio às maiores perseguições. A lição para todos nós é esta: não há porque curiosar sobre o fim dos tempos e da história É inútil apoiar-se em grandezas efêmeras. Deve-se viver realmente para o fim, logo acautelar-se e não acreditar em salvadores oportunistas.

Tem sido frequente falar que o fim do mundo está próximo quando há grandes crises e tragédias. É um discurso religioso enganoso! No Brasil vive diversos “fins de mundo”! Como o do incêndio da boate Kiss numa festa universitária em Santa Maria-RS em janeiro de 2013 que matou 242 pessoas e deixou 630 feridos. As multas não foram pagas, os processos estão suspensos. Há um ano a mídia escrita e televisiva fala da maior tragédia ambiental do Brasil que foi o rompimento da barragem da mineradora Samarco, subsidiária da VALE e da BHP Billiton, no município mineiro de Mariana. Os rejeitos dos minérios formaram um mar de lama até o mar. As vítimas ainda esperam indenizações às consequências da tragédia. A Samarco se esquiva, o governo federal, estadual e municipal se omitem.

No trânsito a estatística no Brasil é pavorosa. Somos o 4º país quanto ao número absoluto de acidentes, com 45 mil mortos por ano. É um “fim de mundo”! Supera os mortos anuais nas explosões e atentados no Iraque. Na Síria desde 2011 uma miniguerra ensanguenta o país com quase 300 mil mortos. Outra explosão tipo “fim de mundo” ocorre na área da saúde. É causada pelo vírus da dengue, chicungunya e o zika temido portador da microcefalia. Nos desastres ambientais e outros com origem política prevalece a impunidade via omissão dos responsáveis, lerdeza da Justiça, leniência dos governantes. etc. A fonte imunda, o mar de lama próprio de fim de mundo no Brasil é a corrupção política donde fluem dejetos que envolvem partidos, empresas, deputados, senadores e altos tribunais. A Operação LAVA JATO veio como dádiva da Providência divina. Denúncias, investigações, inquéritos, prisões e outros instrumentos da Boa Justiça estão limpando o Brasil desse lodaçal pior que todo o desastre ambiental, porque ele é o rompimento da barragem ética nas instituições e podres republicanos. Ler: Lucas,21, 5-11. 

A destruição do Templo foi o juízo de Deus sobre as infidelidades do seu povo, principalmente dos chefes e líderes. Eles tinham se tornado responsáveis pela ruína de Jerusalém. A sua maneira de conduzir os assuntos religiosos e de administrar a justiça social, tinha pervertido o projeto salvador de Deus. Arruinara a própria “história da salvação” pactuada na Antiga Aliança. Nesse contexto do Evangelho sobre o Templo e o seu fim, Jesus também chegava ao fim de sua vida terrena. O Templo era o coração do poder religioso e de todas as instituições do povo judeu.

A sua destruição ainda impressionava as comunidades cristãs do tempo de Lucas Muitos se inquietavam sobre quando seria o fim dos tempos e quais os sinais disso. Aí o texto ensina que os discípulos sempre viverão os “sinais” do fim. Crises pavorosas até! Serão testados na fé em Jesus em todos os ambientes, inclusive na família. “Todos vos odiarão por causa do meu nome” (v.17). A crise é sempre ocasião de juízo e provação. A palavra significa: provar, ajuizar para escolher de modo certo o que fazer. Importa enfrentar as crises com um senso de clarividência ou percepção atenta da realidade. Não se deixar enganar por lideranças espertas, nem se apavorar por tragédias. Afastar-se do desânimo e resistir à acomodação. O que importa é ser fiel, ser prudente e jamais perder a fé, pois Deus nunca estará ausente da vida! 

A segunda vinda de Jesus é verdade de fé. Um dia será o Dia do Senhor. Ele virá com certeza e destruirá os atrevidos como se fossem palha. Para os que ficarem fiéis à sua Lei Ele será o sol da justiça brilhando e trazendo em suas asas a salvação. (Ml 3,19-20, 1ª leitura). Nas dúvidas, desânimos e tentações ela nos dará coragem. Maria, Virgem fiel e Mãe perseverante, nos ajudará a seguir seu Filho em todas as provações. Saibamos invocá-la com carinho filial e rezar: “Vem, Senhor Jesus!”

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