Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 26 MAR 2019 - 13H39

O Grão de Trigo – Homilia 04

trigo

No calendário da Igreja o Dia da Bíblia não é uma simples comemoração. A Igreja faz um esforço intensivo de levar os fiéis a ter fé na Palavra de Deus. E assim organizar a convivência social com a justiça e fraternidade preconizadas na Bíblia, em especial nos Evangelhos. A Bíblia é mais que um livro ou uma coleção de livros antigos. Ela nunca será antiga, pois encarna o projeto amoroso de Deus conduzindo a história, os acontecimentos e o coração das pessoas. Hoje há no mundo uma grande fome de Deus, apesar de tanto materialismo, tanta pornografia, corrupção e injustiça social. Talvez por isso mesmo! Assim, a sua Palavra vai se fazendo vida, luz, força e libertação. A Bíblia é caminho para a verdadeira liberdade. Nossa tarefa é caminhar para a justiça do Reino.

A presença nas comunidades aos domingos é uma chance privilegiada de contato com a Sagrada Escritura através das leituras da missa, dos comentários e da homilia. Os comentários pertinentes nos ajudam a assimilar e aplicar à nossa realidade os textos bíblicos do Dia da Bíblia. Sem a luz da Palavra de Deus um grande abismo se abre e separa a vida humana e social do Reino inaugurado por Jesus. Em si e por si o progresso é incapaz de atravessar esse abismo. Em Lucas a parábola do rico injusto e do Lázaro excluído é um alerta às estruturas sociais injustas. Nela Jesus faz uma advertência severa quanto ao esquema social de ganância e ambição inerente às injustiças políticas e sociais. As injustiças e a corrupção política acumulam os bens materiais nas mãos de poucos à custa do sofrimento e da exclusão de muitos. Daí surge a divisão insuperável entre ricos e pobres. Daí nasce a insensibilidade humana e moral desatenta à distribuição justa dos direitos de cidadania. Leia: Lucas, 16,19-31.

A finalidade da parábola é alertar o discípulo de Jesus bem como toda a comunidade cristã sobre as injustiças sociais produzidas pelo acúmulo e mau uso dos bens e riquezas. Não nos é possível separar a posse e o usufruto dos bens e riquezas da vivência de fraternidade. Eximir-se de responsabilidade e interesse pela justiça social. Lucas enquadra essa provocação ética num cenário de viagem. Ele imagina Jesus caminhando para Jerusalém. Acompanhado dos discípulos. Ao longo da viagem ele vai esclarecendo o motivo dela ou o que vai acontecer com ele lá em Jerusalém, a sede do poder civil e religioso. E os seguidores do Mestre nesse caminho vão aos poucos percebendo a gravidade do compromisso com ele. Ou seja, vão aprendendo a ser discípulos e se preparando para o que der e vier se quiserem mesmo continuar na companhia de Jesus. É, pois, uma catequese!

Dentro dessa catequese geral inscreve-se a parábola do contraste entre o rico comilão e o pobre Lázaro na vida terrena. E a conseqüência para a sorte final. Só o pobre tem nome: Lázaro, palavra que significa “Deus ajuda, Deus está socorrendo. “. O rico sem nome não tem identidade, não é ninguém diante de Deus. Fechou-se em si mesmo. Pensava bastar-lhe as suas riquezas e apoiava-­se tão só no seu estilo de vida esbanjando-a no luxo e no prazer, banqueteando-se todos os dias. Já o pobre miserável abandonado por todos vivia uma situação bem triste na terra: o corpo cheio de feridas lambido pelos cães. Faminto, mal podia saciar-se das migalhas caídas ao acaso da mesa do rico. Enfim, era visto como um homem incômodo, detestável, rejeitado como socialmente impuro. E nessa impureza legal visto igual aos cães aos quais se misturava. Representante vivo da mais abjeta exclusão social! E do contraste entre ricos e pobres. Mas, ele ganhou a solidariedade do próprio Deus.

Ao final de tudo a parábola iguala o rico e o pobre na morte. Só nela porque o destino final da vida os separa de novo invertendo a situação anterior. Inferno para o rico egoísta e sem compaixão, e Céu (seio de Abraão) para o pobre Lázaro. A sorte dos dois fica imutável. Estão separados definitivamente assim como um abismo é um abismo separando um lado de outro. Lázaro ficou no lado da vida e o rico folgazão no lado da não vida! Este é o resultado quando se procura a segurança no dinheiro e prazer. Apesar de todas as imaginações em busca do dinheiro, poder, segurança e prazer, nenhum homem rico garante sua futura felicidade. Nem mesmo aqui na terra. Envolvido por suas posses, o rico acaba perdendo tudo no fim. Elas lhe impossibilitam uma verdadeira comunhão de vida com justiça, em paz e na fraternidade. Já aqui na terra! Quanto mais na outra vida! Cava-se o abismo. Riqueza e poder; dinheiro e prazer, acumulados gananciosamente comprometem a estar com Jesus, fazer com ele o caminho do discipulado.


O grão de trigo – 5º (Lc. 16,19-31) – 26º DTC-C

 

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