Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 26 MAR 2019 - 12H49

O melhor pode não ser útil e agradável, mas é sempre necessário!

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Homilia 16º Domingo Comum Ano C

- Lc 10,38-42 -                   

Marta, Maria e Jesus

Escutar! Esta é a atitude bíblica por excelência
recomendada na Bíblia

No fim de semana o domingo é momento privilegiado da escuta à Palavra do Senhor na comunidade reunida para partilhar o pão, ou seja, a própria Palavra como alimento substancial. Desde os primórdios da Igreja, os cristãos criaram no domingo o dia do Senhor, o dia da “fração do pão”. Fração do pão foi o primeiro nome dado à celebração eucarística, quando a comunidade se reunia e fazia a memória dos gestos e palavras de Jesus na última ceia. “Fazei isto em memória de mim!” Fazer já era escutar em ato. Era lá e é hoje aqui. A partilha do pão da Palavra na mesa-altar da Eucaristia é o principal e o melhor momento em que podemos estar à escuta, ouvir Jesus, conhecer o seu ensinamento. Ouvir é abrir o coração. Não é ser meros ouvintes da celebração por costume ou por tradição. É sentir-se amigos íntimos admitidos e escolhidos à mesa da mesma família.

Escutar! Esta é a atitude bíblica por excelência recomendada na Bíblia, no Antigo e no Novo Testamento. “Escuta Israel: Javé, nosso Deus, é o único!” (Dt 6,4). Inúmeras são as vezes e as situações nas quais Jesus pede dos seus discípulos a atenção à Palavra, o ouvi-la, como a primeira condição para vivê-la e ser salvo por ela. Cita-se o episódio narrado em Lucas sobre as duas irmãs Marta e Maria. Amigas de Jesus, elas o receberam um dia em sua casa. Ambas o cercaram de atenções. Uma querendo ser útil e serviçal; outra valorizando o encontro com o hóspede. Enquanto Marta se atarefava com muitas coisas, Maria sentou-se aos pés dele atenta à sua Palavra. (Lc 10,39). O texto de Lucas produzido num sentido catequético esclarece qual a melhor opção do discípulo que realmente quer seguir Jesus. É a opção pelo mais necessário. A liturgia o reproduz no 16º Domingo comum do calendário cristão. Nele aprendemos que a prioridade não é a ação, é a atenção humilde e interessada à palavra do Senhor. Está nisso o suporte de todos os gestos de amor ao próximo e da caridade real. Leia: Lucas, 10,38-42.

De início, somos lembrados de que Jesus estava em viagem para Jerusalém. Tanto pode ser uma viagem real como imaginária, como recurso literário de catequese. Nessa viagem Jesus foi rejeitado pelos samaritanos e pelos líderes e chefes judeus. Em contraposição, ele encontrou hospitalidade cordial numa casa, numa família. A casa de Marta e Maria, irmãs de Lázaro que eram grandes amigos do Mestre. Ao escrever seu Evangelho Lucas relacionou esse fato familiar da amizade de Jesus a uma catequese. Ou seja, serviu-se disso a fim de inculcar os dois deveres da comunidade cristã reunida: o dever do serviço fraterno prestativo e o dever da escuta atenta à Palavra de Deus. Marta representa o primeiro e Maria, o segundo. Seria como dizer: a comunidade será cristã enquanto seus membros se acolherem mutuamente em todo tipo de serviço fraterno e conforme praticarem a escuta fiel da Palavra.

Essa é a interpretação. No tempo de Jesus o povo dava à palavra ‘marta’ o sentido de: ‘senhora’ ou, ‘dona de casa’. Nesta passagem, Marta e Maria juntas representam a menor comunidade cristã possível. Exemplificam as duas atitudes que traduzem a fé na presença de Jesus em meio à comunidade. Uma atitude será o serviço incansável aos outros. Mas, esta subordinada ao interesse em ouvir e seguir a Palavra do Senhor. Marta se queixou a Jesus que a irmã a deixava arcar sozinha com o serviço da casa. Uma queixa aparentemente legítima, pois o dever da hospitalidade era de ambas, ainda mais se tratando de um hóspede tão querido. Ora, Marta aparece cheia do zelo em servir, mas também cheia de críticas à irmã. Sem dúvida, o zelo em servir é útil e pode fazer crescer a comunidade, se não for ditado pela competição. Por isso, Jesus corrigiu uma Marta super atarefada. Estava certa em querer servir, mas estava errada na maneira de criticar a irmã. Fazia do servir uma preocupação inútil que impedia a liberdade de escolha da sua irmã Maria. Esta queria mais era conversar com Jesus, aproveitar o seu ensino, dar-lhe atenção, ouvindo-o.

A catequese do texto realça o que é mais importante na comunidade cristã fiel. Todo trabalho pastoral, todo esforço eclesial, todas as festas religiosas serão vazios em frutos e inúteis para o Reino se não brotarem e se alimentarem constantemente na escuta solícita ao Evangelho. O Reino de Deus cresce no mundo devido à sua graça e não aos recursos humanos e materiais. O aviso é de Jesus: “uma só coisa é necessária, e Maria a escolheu”. Quem não pensa logo no perfil exemplar da primeira Maria: a Virgem Mãe da Palavra viva? No Evangelho ela assume e une as duas atitudes: a escuta amorosa ao querer de Deus, no “faça-se em mim”; e o serviço desinteressado que socorre Isabel sua prima idosa e mesmo assim grávida de João Batista. Com plena razão o Documento de Aparecida nos lembra: “Maria ensina-nos o primado da escuta da Palavra na vida do discípulo-missionário... Nela a Palavra de Deus se encontra de verdade em sua casa, de onde sai e entra com naturalidade”. (DA nº 271).               

 

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