Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 02 OUT 2017 - 13H12

O profeta fala sem temer o fracasso!

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Homilia para o 14º domingo comum - Ano B

O que o Evangelho nos leva a admirar é a desproporção entre a preciosidade da graça de salvação e os meios bem pobres que a oferecem aos homens. Basta pensar na Encarnação de Jesus. O maior acontecimento da História humana! Nas aparências ele não teve nada de extraordinário. Nada o distinguia da condição humana comum. Jesus veio ao mundo como qualquer bebê. O orgulho humano não compreende porque Deus escolhe o caminho do despojamento e da humilhação para nos atrair e salvar. Nem mesmo os conterrâneos de Jesus, os habitantes de Nazaré, souberam acolher na pessoa dele a grande chance da vida! O Filho de Deus foi educado ali, cresceu juntinho deles e eles não acreditaram nele!

Mas, hoje também julga-se o Evangelho , o caminho da fé por aparências. Até mesmo cristãos que frequentam as igrejas e os sacramentos acham que a igreja perde terreno na sociedade quando se encarna de modo profético na luta dos pobres e humilhados. Para outros, cristãos ou não, a nossa Igreja perde fiéis se não agrada, não cativa as massas, não se faz presente na mídia e não atrai multidões apelando ao emocional. Ora, a vida espiritual proposta por Jesus no Evangelho é sempre a mesma. A Igreja quando o segue sinceramente terá a mesma credibilidade, independendo o número de fiéis presentes aos cultos. Ou do juízo humano e das opiniões de quem quer que seja! Tanto em grandes e suntuosas catedrais repletas de esplendor e arte, quando nas humildes capelas rurais, a missa tem o mesmo valor! Ela celebra e oferece a mesma salvação de Cristo.

 Jesus foi rejeitado em Nazaré onde tinha crescido, sido educado e trabalhara como carpinteiro. Um dia seus conterrâneos se surpreenderam com suas palavras de sabedoria, mas não se deram conta da graça de salvação que Deus lhes oferecia tão facilmente na pessoa dele. Leia: Marcos 6,1-6

Nazaré fora o lugar da infância, adolescência e juventude de Jesus. Uma aldeia de fama duvidosa, desprezada por ficar na Galiléia e mal vista em Jerusalém, a capital. O episódio gira em torno de uma visita de Jesus à cidade. Um retorno após ter iniciado suas andanças de pregador e já ter escolhido um grupo de seguidores. A fama já o precedera. Mas, o contato pessoal com ele provocou reações depreciativas. Quando era alguém do povo não era notado. Eis que agora chamava atenção. Ao lhes falar de Deus, ao fazer interpretações da Lei, ao refletir sobre os problemas começou a ser ouvido com desconfiança. De início até se admiraram de sua sabedoria e competência para explicar a Bíblia, Moisés e os Profetas. Mas, surpreenderam-se com um Jesus desconhecido. “De onde recebeu Ele tudo isso? Como conseguiu tanta sabedoria?” (6,2). O Jesus que eles conheciam até ali era o “carpinteiro, filho de Maria... seus familiares faziam parte da vizinhança deles”. Não constava que ele tivesse frequentado alguma escola em Jerusalém, nem tivesse sido aluno de algum rabi importante. Enfim, sabiam quem era e de onde vinha, por isso não o aceitaram como pregador ou profeta. Aliás, a alusão: “filho de Maria” pode estar no texto com sentido desabonador. Ou Maria já era viúva de José e então dependia economicamente do Filho único, que tinha ido embora. Ou, caso José fosse vivo, a alusão sugeriria de modo velado a ilegitimidade na origem humana de Jesus. O fato é que Ele foi recusado. “Ficaram escandalizados por causa dele”. (v.3). Escândalo, na Bíblia, significa pedra de tropeço, armadilha que faz cair. Os moradores de Nazaré tropeçaram na sua incredulidade de tal modo que até Jesus se admirou de tanta falta de fé. Tanto preconceito. Tanta estreiteza de espírito impedindo- os de ver os sinais de Deus. Não houve espaço para milagres.

Esta catequese de Marcos ilustra a incompreensão que acompanhou Jesus desde as pessoas que lhe eram humanamente mais próximas. Da incompreensão as autoridades vão passar mais tarde à hostilidade e, por fim, à cruz. Na trajetória histórica de sua vida Jesus passa pelo caminho da rejeição trilhado pelos profetas. Sua Igreja também. 20 séculos do Evangelho já provaram para o mundo a força real da nossa Igreja. Não se acha na influência política, na posse de riquezas, nas obras sociais e nem mesmo na respeitabilidade moral inegável. A voz da Igreja é profética. Ela nos ensina o amor de doação do Mestre e nos cobra o testemunho da caridade e da partilha. O bom exemplo de vida cristã de um só fiel vale mais no seu bairro que a construção ali de um belo templo. Encarnar a Palavra no testemunho da vida será sempre desafio profético também para nós.

 

              Maria, a mulher profética do Novo Testamento

A Bíblia é um livro de profecias, profetas e profetisas. Tudo nela é “profecia” de uma realidade futura: quando o Cristo vai entregar o Reino a Deus Pai, “para que Ele seja tudo em todos”. (1ªCor. 15, 24; 28). Na obediência de Maria ao projeto de Deus em Cristo ela representava a Igreja e toda a humanidade. O sopro do Espírito encarnou nela o Verbo e ela recebeu o carisma profético na vocação de primeira discípula-missionária. De Belém à cruz a Mãe foi rejeitada com seu Filho. Mas, ela o “grande sinal que apareceu no céu” (Ap.12, 1) profetizou: “Todas as gerações me chamarão bem aventurada!” (Lc. 1,48). Com ela, nós povo profético do “novo céu e da nova terra” (Ap.21, 1), caminhamos na mais íntima certeza de ir ao encontro d’ Aquele que “fará novas todas as coisas” (Ap.21,5).

Homilia para o 14º domingo comum B
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