Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 24 ABR 2020 - 15H15

Rezar é crer num Deus-Pai-nosso!

Nos Evangelhos, Jesus é o modelo perfeito de homem em oração. Alguém em plena comunhão de ideias, vontade e sentimentos filiais com o Pai do Céu. Por isso, nunca separou a oração da vida concreta.

Nenhuma atividade, nenhum projeto, nenhuma preocupação ou aflição nossa fica fora do Plano de Deus Pai (o Abbá-papai) e do compromisso com seu Reino. O Pai-Nosso resume o núcleo central do ensinamento de Jesus sobre o contato espiritual e íntimo com Deus.

Tratar a Deus como Pai determina o clima, o sentido, a qualidade primeira de todo e qualquer tipo de oração: pedido, louvor ou adoração. Deve ser o diálogo do filho que busca fazer a vontade do Pai!

Shutterstock/ Siam.Pukkato
Shutterstock/ Siam.Pukkato


É um fato que a
mentalidade materialista determina os comportamentos e relações na sociedade, e acaba por afetar a oração até ao desprezo. Como se ela fosse coisa de pessoas fracas, pouco evoluídas ou doentes. Ora, o homem que não reza, vai perdendo sua respiração espiritual.

Pessoas espirituais cristãs que somos, temos dificuldades em fazer da oração um hábito diário. Ela parece tão estranha às nossas ocupações! Não se encaixa espontaneamente em nossas idas e vindas.

O mundo ao redor de nós se agita o dia inteiro atrás de coisas materiais. Os projetos da sociedade valorizam quase somente as ações externas: os negócios, os trabalhos, os passeios e diversões. Não se dá lugar para a respiração do Espírito de Deus dentro de nós. Onde fica o silêncio? É a primeira condição do contato pessoal e amigo com Deus.

Jesus havia ensinado os discípulos, os apóstolos, a rezarem o Pai Nosso. Deu-lhes não um texto fixo, mas um modelo perfeito de oração. Lucas, ao redigir o Evangelho, anexou, a título de comentário, ao Pai Nosso, duas pequenas parábolas ou comparações de Jesus. Ambas se referem ao modo de rezar. Leia: Lucas, 11,5-13.

As duas comparações de Jesus apontam as atitudes que ele espera de nós quando rezamos em Seu nome. Jesus quis dar aos seus amigos e seguidores uma ideia do quanto Deus se dispõe a escutar e atender nossos pedidos na oração.

Rezar é fazer a íntima experiência da amizade com Deus, de seu amor por nós. Nem em imaginação rezar é atrevimento nosso em relação a Deus, porque Ele nos trata como um Pai extremamente bondoso. As duas comparações de Jesus nos ajudam a perceber a distância que há entre nosso modo de acolher e o de Deus-Pai.

O caso do amigo em visita inoportuna à noite e o caso do pai pronto em atender o filho pequeno na necessidade, ambos sugerem que tenhamos confiança na oração: Deus atenderá nossos pedidos.

As comparações são tiradas dos costumes tradicionais do povo judeu. O costume de acolher um hóspede era coisa sagrada, mais ainda quando se tratava de um amigo. É também natural o pai não recusar o alimento ao filho com fome, mesmo não sendo lá um bom pai. Jesus então imagina se alguém receber, em alta noite, a visita inesperada de um amigo ao qual nada tem para oferecer. O que ele irá fazer? Vai pedir socorro a outro amigo vizinho, mesmo que isso o importune.

De fato, na época, um pedido assim era complicado para uma família do povo. O uso da casa à noite dificultava atender alguém de fora. Porta trancada, casa no escuro, a família toda deitada e dormindo nas esteiras esparramadas pelo chão. Apagada a lamparina de óleo, era, sim, complicado reacendê-la. Mas nada disso fez o amigo desistir do seu pedido e ele acaba sendo tão insistente, a ponto de importunar e enervar a todos os que estão lá dentro da casa. O remédio era atendê-lo, ainda que fosse só para se livrar daquela amolação toda.

Até este fato nos leva a uma oração confiante e perseverante! Deus quer nos ouvir, sim, mas quer nos educar a uma confiança total:

Peçam e lhes será dado! Ensina Jesus concluindo. Procurem e encontrarão! Batam e abrirão a porta para vocês”. E repete de novo o convite: “pedir é receber; procurar é achar; bater à porta é abri-la”. (vv.9-10).

Na segunda comparação, Jesus relembra a cena familiar. O filho pequeno e com fome pede comida ao pai. Peixe, pão e ovo era um cardápio familiar comum no tempo de Jesus. Ora, “um pai, mesmo se mau, não teria coragem de enganar a confiança de seu pequeno filho, dando-lhe uma coisa inútil ou perigosa” (v 11 ). O que pensar, então, da generosidade de Deus, o Pai mais amoroso possível? A partir, portanto, dessa experiência de paternidade familiar terrena e, apesar de limitada, podemos imaginar como Deus está disposto a ouvir nossas orações.

Aliás, Ele vai nos dar muito mais do que pedimos, já que o maior presente do seu amor por nós é dar-nos o seu próprio Espírito. Esse é o dom, por excelência, da oração cristã: transforma toda a vida e muda o seu eixo. Passamos das coisas materiais para os bens eternos já aqui na terra. Começando a possuir esses bens que o Espírito Santo nos faz desejar, nenhum pedido nosso ficará alheio à vontade de Deus.

Maria sobressai nos Atos dos Apóstolos exatamente quando a comunidade cristã original aguardava em oração a vinda do Espírito Santo prometido por Jesus. Desde então, foi se tornando o ícone de “Virgem orante”, modelo e intercessora para a Igreja.

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