Homilia 6º Domingo da Páscoa - ANO C
Jo 14,23-29
O domingo – como dia do Senhor ressuscitado – é a oportunidade preciosa do reencontro com a nossa comunidade de fé, culto e amor. Nela, a graça pascal se derrama em nosso coração. E a força vital do Cristo ressuscitado pode corrigir nossas falhas na maneira de viver: em família, no trabalho, na convivência social. Curando fraquezas, afastando os erros, purificando tendências e os desejos desordenados! É a graça da Páscoa, ou seja, o dom da vida nova de Jesus que nos comunica a sua paz e nos confirma no seu amor através do seu Espírito Santo.
No calendário religioso da Igreja, chegamos ao 6º domingo do tempo pascal. A Palavra de Deus nas três leituras da missa aponta os caminhos da ação do Espírito Santo na Igreja de Jesus e na História. Desde o começo da Igreja o sopro do Espírito libertou os primeiros cristãos da exagerada mentalidade judaica e inculturou a fé e o Evangelho na cultura greco-romana que era a dominante. O livro Atos dos Apóstolos registra como eles tiveram que conciliar as crises de convivência das primeiras comunidades cristãs já no ano 49 depois de Cristo. A causa das confusões foi a prática religiosa. Os judeus convertidos, ainda apegados aos seus costumes e ritos, queriam obrigar à circuncisão os pagãos, como se isto fosse exigido pela fé em Jesus Cristo. Convocou-se, então, o 1º Concílio da Igreja em Jerusalém. Foram estabelecidas orientações práticas e normas pastorais para a boa convivência entre os cristãos de diversas culturas. O aspecto mais importante do acontecimento foi a convicção dos apóstolos que atribuíram à ação, ao impulso, ao sopro do Espírito Santo a solução daquelas dificuldades contra a unidade da Igreja. (1ª leitura).
Movida pelo Espírito Santo, dom de Jesus, a Igreja e suas comunidades peregrinam na terra para chegar ao céu, à Jerusalém de Deus. A cidade santa onde Cristo, o Cordeiro, pela graça de sua morte e ressurreição, garante nossa plena e definitiva comunhão com Deus. (2ª leitura). Amar Jesus é guardar sua Palavra para sermos a morada de Deus Pai na terra e um dia morarmos na sua casa no céu. Enviado aos apóstolos e à Igreja em todos os tempos, o Espírito Santo vem como consequência e continuidade da morte e ressurreição de Jesus. Esse é o resumo prático das três leituras da Palavra neste 6º domingo da Páscoa. Ler: Jo 14,23-29.
O contexto dessas palavras de Jesus sobre o Espírito Santo é o da “Última Ceia”, na qual Ele celebrava a Páscoa com os apóstolos. Ceando com eles, o Mestre os entretinha com muito carinho, como um pai fazendo aos filhos as últimas recomendações da vida e dando-lhes o seu testamento.
O testamento de Jesus à sua Igreja é o mandamento do amor, síntese de todos os outros. A garantia de que nós cristãos poderemos cumprir a Palavra, viver o amor, ter a paz e não se deixar perturbar pelos desafios da História, é o sopro vital, o impulso interior do Espírito Santo. Ele é o “advogado” da obra de Jesus, o “defensor” do seu amor em nós contra a maldade do mundo. Ele garantirá nossa fidelidade e nossa paz! Então a despedida de Jesus não era uma separação definitiva, mas início de uma nova presença dele junto aos seus. Ele vai partir sem se separar, pois o amor – garantido pelo Espírito Santo – fará os discípulos “guardarem a Palavra de Jesus e, portanto, serem benquistos e amados pelo Pai” (v.23). Pois Jesus vai receber e doar a própria vida de Deus Pai.
A paz, dom do ressuscitado, está acima de todo o sofrimento exterior ou sensível.
Por isso, Ele voltará aos seus com um novo modo de estar presente. Aliás, se Ele não for – isto é, se Ele não passar pela morte e ressurreição, os discípulos não receberão o presente que o Pai vai lhes dar em nome dele (v.26). É o presente do Espírito Santo que será o sopro vivo, a respiração da vida divina neles. A partir desse presente eles terão consigo a paz. Não como estado emocional, mas a paz de Jesus: a sua vitória decisiva sobre o pecado, a maldade, e todas as tristezas. Não se trata de uma paz igual àquela dos homens. No mundo e nos projetos humanos não existe a paz pura e plena, porque vem sempre misturada a conflitos e incertezas. A paz, dom do ressuscitado, está acima de todo o sofrimento exterior ou sensível. É a experiência confiante do poder de Deus, de sua presença, de seu amor por nós, mesmo na dor e na cruz. “Não se perturbe nem se intimide o vosso coração” (v.27). Nenhuma força humana, nenhum poder terreno, nenhuma ameaça, injustiça, nada, nada mesmo é capaz de nos separar dele e da sua paz.
Ora, quem continuar cumprindo fielmente e com amor a Palavra recebida, será como uma casa, uma moradia, um Templo, uma habitação terrena onde o Pai e Jesus habitarão. Amar e guardar a Palavra de Jesus, o seu exemplo de vida, a sua maneira de ser é a condição para entrar em comunhão vital com o próprio Deus. É o “passaporte” para a intimidade divina tornando-se sua casa já na terra. O amor religioso ativo atualiza o amor de Jesus em nós, e assim anunciamos ao mundo materialista que Deus existe, vive em nós, mora entre nós! É nosso companheiro nas lutas e trabalho.
Olhando para Maria, aquela humilde donzela da Galiléia, vemos antes de tudo que ela viveu fielmente a Palavra. Confiou plenamente nela. Entregou-se a Deus que a convidava a ser a parceira no seu projeto de amor misericordioso conosco. Ela deixou que o Espírito Santo possuísse todo o seu ser. Que ela nos ensine a contemplar a face de seu Filho e experimentar, acolher e guardar seu amor nas alegrias e nos sofrimentos.
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