Homilia 22º Domingo Tempo Comum
Ser convidado para um banquete era algo banal nos círculos da elite social judaica. Todavia, sem nenhum pudor e contrariando a esperada educação do seu nível de classe, os convidados porfiavam em garantir logo um bom lugar na sala da festa. Melhor se próximo à mesa de ilustres donos da casa. Jesus não recusava esse tipo de ambiente, mas “ficava na sua” e não se omitia na crítica a deseducada competição pelos primeiros lugares o que descartava a humildade. Daí o tema de uma parábola dividida em duas partes: cultivar a autoestima não por vedetismo, mas por consciência realista de si próprio. E descobrir a felicidade que é pôr-se a serviço dos mais pobres e humildes sem esperar deles qualquer tipo de retribuição. É evidente ao leitor do Evangelho que Jesus não visa reforçar regras de etiqueta à mesa, nem sugerir uma hábil esperteza capaz de granjear atenção e deferência do dono da casa.
Falando à elite, Jesus confronta a mesquinha competição do vaidosismo dos homens com o critério do juízo de Deus definindo em definitivo o mérito aos lugares no céu. O recurso para se obter agrado e misericórdia aos olhos de Deus é a humildade, é a humilde consciência de si próprio. E o conceito da humildade conforme o Evangelho coloca-nos em relação com o jeito de ser do próprio Cristo. Ele convida: “... aprendei comigo, porque sou manso e humilde de coração...” (Mt, 11,29). Nunca teve que admitir culpa alguma por algo errado e, no entanto foi o mais humilde dos homens, submetendo-se a todas as humilhações. A humilhação dele é categoria essencial no mistério da encarnação. São Paulo, que não conviveu com Jesus Cristo, repassa-nos de modo magistral essa verdade na carta aos Filipenses, 2,6-8: “Cristo Jesus, apesar de sua condição divina... humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte e morte de cruz. Por isso Deus o elevou acima de tudo e lhe deu um Nome que está acima de todo nome...” Seguir o humilde caminho de Jesus na fé e no amor contradiz a ilusão tão comum de impressionar os outros como sendo de origem humilde, ou proclamar honestidade em público. Gabar-se de sentimentos modestos, atestar conduta política ilibada ou a favor dos pobres! A humildade de palanque. Mera ostentação de si, estudada para impressionar e granjear estima pública! É bom rever a parábola dos primeiros lugares à mesa e sua aplicação por Jesus. Ler: Lucas, 1, 1.7-14.
Conforme as culturas predominantes na história, em especial a de hoje, a solução para as frustrações e a baixa estima não é abraçar a humildade. Ao contrário, é preciso cultivar a autoestima, vacinando-se contra a perda de prestígio apostando nos seus próprios valores. No contexto da Parábola, porém, predomina a busca do outro e não a de si próprio. Voltar-se para o outro exigirá de nós o servir por amor. Amor desinteressado e de pura doação. Isso implica repudiar o uso interesseiro e calculista nas relações todas e abraçar a caridade como intenção única no intercâmbio de projetos e na busca de vantagens materiais. Superam-se desse modo as atitudes de orgulho, presunção e ambições veladas.
De fato, não é sabedoria cristã supervalorizar-se diante dos outros a partir da vanglória ou do alto conceito de si mesmo. A primeira verdade consigo mesmo é ser humilde e não agir conforme a “tentação ou gosto das grandezas”. Deus, suma grandeza, só podia abaixar-se até nós vindo em Jesus. Por isso, Ele “saiu de si”, veio tomar parte em nosso pobre convívio a fim de convidar-nos a ter presença junto Dele no banquete eterno.
Vamos ter eleições municipais. São importantes ferramentas para construir uma sólida
Maria foi a pobre de Javé porque se abandonou nas mãos de Deus. Podia louvá-lo em oração porque Ele havia “olhado para a humildade de sua serva...” (Lucas, 1,48). Com o coração todo humilde ela aderiu ao projeto salvador de Deus e de imediato praticou a caridade concreta indo visitar e ajudar sua prima Isabel que ficara grávida de João Batista, apesar de ser idosa e estéril. Que aprendamos dela a “usar as sandálias da humildade” em nossos relacionamentos na comunidade.
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