Homilia 17º Domingo Comum - ANO B
João 6, 1-15
Um pedaço de pão a cada um! A partilha multiplica e liberta!
Deus saiu de si mesmo e veio ao nosso encontro por amor. Primeiro na Criação, depois na Redenção. Comunicação do amor infinito gerou vida na extrema doação de si à nossa indignidade. É perigoso experimentar esta “partilha” de Deus conosco. Perigoso para o nosso comodismo. Sua Palavra jamais ficará isolada dentro de nós. Deve multiplicar gestos libertadores. A Palavra nos faz sair das acomodações e nos impulsiona rumo aos outros e à construção do mundo bom e justo. Leva-nos ao conhecimento e encontro com Jesus. Seu Evangelho faz denúncia dos esquemas exploradores e, ao mesmo tempo, questiona nossas omissões perante as injustiças ou apegos aos pecados. Os nossos e os “pecados coletivos” da convivência social. A Palavra pinga como que “gotas de fogo” no coração humano. Seu fogo arrasa: não passa sem deixar um sinal.
Sinal dessa Palavra de vida é a mesa da Eucaristia em nossas comunidades. Comungamos o Pão do céu para termos a vida eterna. A Eucaristia é mesa fraterna. Fonte perene e força absoluta de transformação social. A partir da fé no mistério da Eucaristia podemos contribuir para minorar a fome no mundo. E exigir justiça verdadeira como alicerce da cidadania e de um novo modelo social. Vivendo os ensinamentos de partilha, fraternidade, amor-comunhão que aprendemos na mesa do Senhor Jesus, devemos oferecer aos homens e mulheres do nosso tempo um caminho pascal. Isto é, colaborar com pistas e sugestões comunitárias para sanar as exclusões sociais produzidas pelos governantes ávidos de poder, mas não de zelo pelo bem comum. Vivemos hoje em estado geral de crise social, política, econômica, financeira. E de rejeição ao esquema de poder dos últimos doze anos. Se a mesa de Jesus nos alimenta no pão da Palavra e da Eucaristia temos que fazer a agenda da história: ter atitudes libertadoras rumo a uma nova páscoa portadora no mínimo de eleições sem mentiras. Não se pode negar que a justiça social e a ordem econômica do País ainda estão longe do ideal de partilha, fraternidade e democracia.
É oportuno ler e comentar o início do capítulo 6º de São João, texto da liturgia de hoje. É o início de todo o longo episódio da multiplicação dos pães. Estando atento ao significado social e às ressonâncias pascais do texto, leia: João, 6, 1-15.
O capítulo 6º de São João traz em minúcias o episódio da multiplicação dos pães que urge a decisão por seguir ou não Jesus. Entrelaça várias crises: a do povo carente, a da conspiração conta o poder e a crise de incredulidade dos discípulos. O enfoque principal é o discurso do Mestre sobre o pão da vida. Aqui Ele se auto revela como o Messias prometido. Veio oferecer um projeto de paz, partilha digna dos bens mais necessários, convivência fraterna segundo os critérios do reinado de Deus. A multiplicação dos pães e peixes que alimenta cinco 5 mil homens e ainda se recolhem 12 cestos, é o “sinal”, é a pista de uma nova sociedade a ser construída. É por ela que os discípulos deverão lutar. O fato tem um cenário simbólico e um contexto pascal que é a festa da libertação, herança do Êxodo. Todos os anos a Páscoa comemorava isso: a libertação da antiga escravidão no Egito e assim se renovava a Aliança com Deus. Nesse contexto pascal Jesus está substituindo Moisés o guia do povo libertado. Substitui o maná, o alimento celeste na travessia do deserto. Só Jesus pode saciar a fome dos homens, e nos garantir a vida e a ressurreição.
“Compartilhar o pouco que se tem!”
O episódio da multiplicação dos pães recebe grande importância nos quatro evangelhos. É narrado seis vezes. Prova que os grupos cristãos primitivos refletiram e tiraram dele conclusões religiosas e sociais. Lições teológicas e pastorais. “Compartilhar o pouco que se tem!” Eis uma pista do projeto social que nasce do Reinado de Deus e é sustentado quando comungamos Jesus e por isso partilhamos a justiça solidária. Partilha dos bens e serviços, dos dons pessoais e dos recursos comunitários: tudo isto é sugerido de modo enfático no quadro do milagre. Partilhar significa cuidar e manter a vida em todos com a dignidade dada por Deus a cada homem e a cada mulher.
Maria, espelho vivo da Igreja solidária
A nossa fé está centralizada só em Jesus. Mas, os caminhos que trilhamos ao vivê-la traçam paralelos entre Ele e Maria. Ela foi o primeiro fruto da Redenção. A fé na Palavra alimentou-a antes dela conhecer a Palavra viva. Maria “comungou” Jesus de modo muito mais excelente e profundo que qualquer outro apóstolo, santo ou fiel. Partilhou com Ele a compaixão solidária com todos os que estavam cansados, oprimidos, aflitos e os consolou (Mt. 11,28); (Magnificat: Lucas, 1,46); (Bodas de Caná, João, 2,5; Calvário: João, 19,25). No Cenáculo, a sala da última Páscoa do Filho com os discípulos, ela perseverou na oração e na unidade confortando-os na situação de dúvidas, medo e incerteza, enquanto não se manifestava o poder do Espírito Santo. (Atos, 1,13). Que a sua bênção materna fortaleça nossa peregrinação de fé rumo à Páscoa eterna!
Boleto
Carregando ...
Reportar erro!
Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:
Carregando ...
Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.