Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Homilias

Homilia Domingo de Ramos – Ano B

Domingo de Ramos no Santuário Nacional

Agitemos os ramos: o Templo já está à vista!              

Início de mais uma Semana Santa! Nela recordamos os últimos dias de Jesus Cristo. De modo celebrativo!  Nesse caso recordar é tornar atual para nós a paixão, morte e ressurreição dele. É celebrar o mistério pascal. O sentido teológico não é apenas expressar a vontade de agradar a Deus. De um lado o celebrar repete na fé a própria ação salvífica de Jesus. De outro lado, cabe a nós fazer com que o “hoje” seja nova chance para o amor de Deus agir e nos santificar. O que é só momento histórico ao ser revivido, abre-se para a Graça que nos perdoa e justifica.  O domingo de Ramos mistura ares festivos e apreensivos na liturgia. A celebração cristã é pró-vocativa: chama para frente. Aponta ao discípulo o caminho do Mestre.

A Semana Santa começa com o Domingo de Ramos em referência a uma entrada real (messiânica) em Jerusalém. A vida de Jesus na terra só podia terminar em Jerusalém. Capital, cidade santa, símbolo da nação, coração político e religioso do povo bíblico. Jesus foi acolhido com festas, aclamado como o profeta de uma sociedade justa, arauto de um reino esperado desde as antigas promessas feitas à dinastia do famoso rei Davi. Mas, sem dúvida, a meta do ministério de Jesus não era fazer uma entrada triunfal, sinal popular da rebeldia ao poder político com seus privilégios. Jesus foi como humilde peregrino associado aos milhares que demandavam o Templo por ocasião da Páscoa.  Ela tinha plena consciência da sua vocação e missão: era a hora decisiva da sua vida.  Não se tratava da execução de um plano pré-estabelecido e sim da fidelidade a Deus ainda que sob o risco da vida. Alcançara a convicção de que viera ao mundo não para almejar honrarias e ser servido, mas para servir até o fim. (Marcos, 10,45). Mesmo desagradando os interesses imediatos dos poderosos, aos privilégios e às vaidades ligadas às funções de poder.  Jesus tinha a consciência que era necessário lutar e triunfar sobre o egoísmo dos corações, raiz do sistema de morte que impera sempre no convivo humano e elimina a fraternidade sincera.

Enquanto ele pregava lá na Galiléia estava na periferia social e política. Começara sim a incomodar, mas as estruturas de poder não se intimidavam com uma população pobre, sofrida e abandonada. Já, no ambiente da capital os dirigentes, os intelectuais, as classes sacerdotais não poderiam suportar a presença de Jesus. O episódio descritivo e catequético narrado em Marcos enquadra a entrada em Jerusalém como uma proclamação messiânica. Ler: Marcos, 11, 1-10.

Cena humilde nas aparências a entrada mostra-nos um Jesus revestido com um poder misterioso: aquele que é próprio do Reino de Deus. Esse poder provoca tensão e conflito com a ordem injusta e assentada no dinheiro, na força, nos privilégios de grupos sempre ciosos de si e prontos para eliminar concorrências e competidores. O acontecimento recebe do próprio Jesus uma interpretação simbólica e profética e como tal foi conservado pela comunidade cristã. Ele é o Messias. É o ungido de Deus. É o Senhor “que precisa do jumentinho” (v.3).  O profeta Zacarias anunciara a chegada em Jerusalém de um “rei vitorioso e justo. Ele viria pobre e montado num jumentinho. Ele anunciaria a paz às nações” (Zacarias, 9, 9-10).

A entrada festiva aconteceu na Páscoa, festa comemorativa da libertação. Peregrinos chegavam de todos os cantos do País, também da Galiléia. Jesus era conhecido por muitos que ajuntando-se aos discípulos perto do monte das Oliveiras, formaram um pequeno cortejo de romeiros em direção ao Templo. A procissão foi incorporando outros pelo caminho. E tornou-se logo uma espécie de manifestação popular. Aclamações e vivas espontâneas expressaram a expectativa messiânica latente na alma coletiva do povo oprimido. A esperança messiânica era o desejo da vinda do Messias e estava sempre ligado à referência ao rei Davi. Daí as palavras do texto: Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino de nosso pai Davi! A palavra hebraica “hosana” tem o sentido de uma invocação: salva-nos!.

O Domingo de Ramos com sua modesta procissão nas paróquias lembra-nos que a entrada de Jesus em Jerusalém não foi apenas um fato histórico. Algo feito e acabado lá no passado. A Semana Santa vem de novo anunciar e antecipar para nossas convicções de fé o retorno vitorioso do Senhor Jesus no fim dos tempos. O nosso encontro com Ele no fim de nossa vida e o juízo final da História.  Por isso com a igreja rezamos: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”.  Portanto, celebrar é sempre olhar para o futuro, a meta da peregrinação humana até a Jerusalém do céu. É hora de repensar critérios, modo de viver, mentalidade, ideias comparando-as com os de Jesus Cristo!

Aplicação mariana

Nisso, muito nos ajuda lá do céu onde está na glória do Filho, sua e nossa mãe Maria. Se ela chegou antes de nós, foi porque mergulhou na missão dele de corpo e alma. É a mãe da Semana Santa bem vivida. Paulo VI disse: “Em Maria tudo se refere a Cristo e dele depende!” A ausência de Maria nas páginas dos Evangelhos é sinal da sua maior presença no mistério do Filho. Se as provações do caminho com Ele nos atemorizam, a confiança na proteção e auxílio dela nos animam e consolam.  É nosso o momento de agitar os ramos de peregrinos!

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