Brasil

"Independência ou Morte": Tratativas internacionais e pacificação interna

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

06 JUN 2022 - 10H35 (Atualizada em 07 JUL 2022 - 11H06)

No dia 7 de setembro de 1822, em São Paulo, às margens do Riacho do Ipiranga, hoje canalizado e poluído, enquanto retornava ao Rio de Janeiro depois de uma visita diplomática a São Paulo e Santos, Dom Pedro recebeu uma mensagem enviada por sua então esposa, Maria Leopoldina, avisando que as Cortes de Lisboa, espécie de parlamento, haviam enviado um ultimato e, por ele, Dom Pedro estava sendo intimado a retornar, sob a ameaça de punições vindas do reino.

Essa pressão, apresentada na carta de sua esposa, foi a gota d'água para Dom Pedro. Num gesto simbólico, ele ergueu a espada, pedindo para sua comitiva acompanhá-lo, proferindo o famoso grito "independência ou morte". O gesto de extremo simbolismo, foi elaborado bem mais tarde, mas de qualquer forma, o Brasil ainda não estava independente naquele momento. Era preciso convencer os portugueses, mobilizando a opinião favorável da comunidade internacional e pacificar os brasileiros.

Dois dias depois, Dom Pedro deixou São Paulo, retornando às pressas para o Rio de Janeiro numa viagem de oito dias, quando normalmente o trajeto se fazia entre onde e catorze dias.

Leia Mais"Independência ou Morte": A viagem de Dom Pedro I leva-o a passar também pela Vila de Aparecida"Independência ou Morte": A construção do processo de independênciaEra preciso iniciar as negociações, obtendo de Portugal o reconhecimento da independência do Brasil. Mas os portugueses não estavam dispostos a abrir mão tão facilmente de sua maior e mais rica colônia.

A Inglaterra apareceu, então, como intermediária, porque a existência de mais um país independente sob sua influência era fundamental para os anseios industriais dos ingleses.

Tratativas internacionais

Graças à intermediação da Inglaterra, um acordo diplomático foi costurado. Por ele, Portugal aceitaria a Independência do Brasil mediante o pagamento de uma pesada indenização.

Uma vez que o Brasil não possuía esse dinheiro, os ingleses, em um "ato de benevolência", emprestaram o dinheiro ao país nascente. Dessa forma, o Brasil se tornou independente de Portugal, mas dependente economicamente dos ingleses, que passaram a ditar os rumos de nossa economia desde então.

O reconhecimento oficial da independência e da separação de Portugal só viria em 29 de agosto de 1825, tornando o 7 de setembro de 1822 ainda mais duvidoso. Menos de um ano após o “Dia do Fico”, havia sido formalizada a independência do Brasil.

A coroação de Dom Pedro I como imperador aconteceu no dia 01 de dezembro de 1822, no Rio de Janeiro. Dom Pedro aproveitou a mesma data na qual Portugal havia se tornado independente da Espanha, para dar mais força à independência do Brasil, reforçando a união entre o povo e seu soberano.

Esses rituais servem para marcar um momento de passagem, mas podem assumir também a função de legitimar o poder de uma liderança.

Reprodução/ Wikipedia
Reprodução/ Wikipedia

Pacificação e reorganização interna

Junto com o reconhecimento externo, foi necessário buscar também o convencimento dos brasileiros. Algumas províncias não aceitaram a independência tal como foi feita. A libertação do país pelas mãos de um português, membro da família real portuguesa, não era bem vista por vários setores da sociedade.

A proclamação da independência teve um caráter simbólico construído muito tempo após o fato em si, e o reconhecimento veio depois, com o jovem Império passando por diversos conflitos e crises em seus primeiros anos: a crise da Constituinte, a Confederação do Equador e a derrota na Guerra da Província Cisplatina.

Na província Cisplatina, no Pará, no Maranhão, Piauí e na Bahia, principalmente nesta, os governos locais permaneciam fiéis a Portugal. O processo de emancipação não chegou a ser tão violento como nos vizinhos da América espanhola, mas não quer dizer que tenha sido pacífico como é narrado nos livros de história.

Na Bahia, duas batalhas selaram o destino das tropas portuguesas: a de Cabrito e a de Pirajá. Alguns personagens se destacaram nessas lutas, entre eles Maria Quitéria de Jesus (1792-1853). Ela vestiu-se de homem e não fugiu da peleja. Acabou condecorada pelo próprio Dom Pedro com a Imperial Ordem do Cruzeiro.

Muitos estudiosos consideram o dia 2 de julho de 1823, data da conquista de Salvador pelas tropas imperiais, como a data definitiva da Independência do Brasil.

Leia Mais"Independência ou Morte": Por que Dom Pedro decidiu ficar no Brasil?“Independência ou morte”: Não aconteceu de um dia para o outro!“Independência ou morte” – Pera aí! Não foi bem assim!Além disso, havia os “liberais radicais”, ex-participantes do movimento de 1817 e seus simpatizantes, jornalistas e membros das camadas médias urbanas, que advogavam propostas mais avançadas de representação popular e até mesmo o próximo passo: a independência política.

Paralelo a isso, havia também os defensores do sistema republicano, que defendiam a passagem a esse regime e a não continuação da monarquia.

Por causa do atrito dessas tendências. antigos aliados políticos tornaram-se adversários e inimigos irreconciliáveis. O próprio imperador, o herói de ontem, acabou sendo forçado a abdicar, abandonando o país por seus próprios súditos.

Mas os acontecimentos que aqui se passaram entre os anos de 1808-1823 marcaram definitivamente o nascimento do Brasil como país soberano, ainda que não totalmente independente, como se passa até nos dias atuais.

A independência aconteceu, mas esse evento não transformou de imediato a estrutura social e econômica do país. As estruturas coloniais continuaram de pé após a independência, com a economia sendo baseada na grande propriedade, com a prática da monocultura voltada para a exportação, a exploração do trabalho escravo e a miséria daqueles que eram maioria no país.

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Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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