Brasil

Semana de Arte Moderna: Críticas e ressonâncias

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

17 FEV 2022 - 14H05 (Atualizada em 23 FEV 2022 - 14H37)

A Semana de Arte Moderna, da qual se celebra o centenário, aconteceu durante alguns dias de fevereiro, em 1922, tendo como palco principal o Teatro Municipal de São Paulo. Ali aconteceram exposições e apresentações das mais diferentes expressões artísticas. Ao mesmo tempo, fora dali aconteciam as mais variadas discussões sobre o que representava o Movimento Modernista, que buscava novas fontes e novas inspirações para a arte no Brasil.

As discussões eram bastante acaloradas, porque nem todos os que participavam das atividades da semana eram modernistas, no sentido mais amplo do termo.

Exemplo do clima que se vivia se percebe numa atitude do escritor paulistano Oswald de Andrade, que arregimentou estudantes que foram espalhados pelo teatro para vaiar as apresentações e, assim, estimular a plateia a fazer o mesmo, pois o que se mostrava ali não chegava a ser assim tão inovador a ponto de chocar o público.

Expressão da arte marcada pelo academicismo e pelo “passadismo” estava o escritor Monteiro Lobato, crítico de arte e pintor diletante, um dos que mais reagiram contra o modernismo. Embora defendesse uma arte mais brasileira, o célebre escritor estava ainda preso às regras artísticas “passadistas” ou do passado, como eram chamadas, chegando a afirmar que a arte modernista era “degenerada” ao participar de uma exposição da pintora Anita Malfatti.

Críticas e ressonâncias

Até 1922, a arte brasileira em seus estilos e inspirações tinha características e modelos quase sempre importados da Europa, sofrendo com a falta de “brasilidade”. Não se fazia uma releitura daquilo que se importava e se consumia. Motivo de críticas era também o seu academicismo ou formalismo e prisão ao passado. Nesse contexto, a Semana de Arte Moderna pode ser considerada como revolucionária e explosiva, caracterizando-se como um dos momentos mais importantes da arte e da cultura brasileira, tornando-se o ponto fundador do chamado modernismo em nosso país em as suas posteriores derivações.

A Semana de 1922 revelou o trabalho de grandes artistas ,como os escritores Mário e Oswald de Andrade, a pintora Anita Malfatti, o compositor Heitor Villa-Lobos, o pintor Di Cavalcanti e tantos outros que hoje fazem parte do patrimônio cultural do Brasil.

Na ocasião, ninguém imaginava o real significado que a semana teria, mas com o passar dos anos, a Semana de 1922 foi se destacando pela sua influência, não só nos estilos dos distintos campos da arte, mas, sobretudo, no impulso que deu na mudança do comportamento e dos costumes da sociedade brasileira como um todo.

A semana de 1922 e o Movimento Modernista causaram forte impacto na sociedade da época, marcada pelo conservadorismo dos costumes, sendo também alvo de acirradas críticas.

Suas influências chegaram até mesmo no interior da Igreja, sendo ali também motivo de acirradas críticas e discussões. Por esta razão, no dia 08 de setembro de 1907, o Papa Pio X havia publicado a Carta Encíclica Pascendi Dominici Gregis sobre as doutrinas modernistas. Essa movimentação provocaria, mais tarde, várias reformas na Igreja.

Leia MaisSemana de Arte Moderna: reflexo de um mundo em ebuliçãoSemana de Arte Moderna 1922: Uma semana revolucionáriaUma crítica que se faz contra a semana baseia-se no fato das distintas expressões artísticas basearem-se quase que unicamente em traços paulistas e cariocas, sem uma maior amplitude de traços e formas. Exemplo disso é o fato do pintor Di Cavalcanti, nascido no Rio de Janeiro, passar quase todo o tempo em São Paulo, estabelecendo sua morada numa cidade do interior.

Outra situação que ainda hoje sofre fortes críticas foi a ausência de artistas negros ou de menos abastados, vindos de classes sociais menos favorecidas.

O Movimento Modernista é bastante contraditório, não havendo sintonia perfeita entre aquilo que os modernistas propunham e aquilo que produziam. Enquanto no discurso o grupo defendia o rompimento com o passado e com a influência europeia, partindo para a produção de algo genuinamente nacional, estavam na Europa, que se recuperava da Primeira Grande Guerra (1914-1918), os estilos e modelos que ainda os inspiravam.

A Semana de Arte Moderna não pode, por fim, ser vista de forma isolada, sendo considerada aqui como parte de um movimento de mudança que já havia se iniciado no país antes mesmo de 1922. Um dos fatores que estava impulsionando as mudanças era o investimento do dinheiro produzido pelo comércio do café no mercado internacional em outros setores da economia, como na industrialização. Mudando a economia, tudo passava por um processo de renovação na sociedade. E a cidade de São Paulo se transformava na 'Meca' dessas mudanças, já caminhando para se transformar na metrópole que hoje puxa o desenvolvimento do País.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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Por Redação A12, em Brasil

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