Setembro é o mês dedicado à Bíblia. O nono mês do ano não foi escolhido por acaso, pois nesse período é celebrada a memória de São Jerônimo, grande biblista na história da Igreja Católica. |
As edições católicas da Bíblia se distinguem por três características: registram a aprovação de um Bispo no verso da primeira página, explicam o texto sagrado em notas de rodapé e possuem 73 livros, sendo 46 do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento.
Nas edições não-católicas, os livros do Novo Testamento são os mesmos 27, mas no Antigo Testamento são omitidos 7 livros e trechos de dois outros livros bíblicos. Os sete livros omitidos são: Tobias, Judite, 1º e 2º livro dos Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc. Faltam também nestas bíblias trechos dos livros de Ester e de Daniel. O motivo dessa diferença tem suas raízes na história do Judaísmo e da Reforma.
Leia MaisMês da Bíblia: Leia e reflita este versículoEm torno do ano 100 d.C., aconteceu um sínodo dos judeus em Jâmnia, na Palestina, para estabelecer quais livros eles reconheceriam como sagrados. Então estipularam quatro condições:
1) Sagrado é o livro escrito em hebraico, a “língua sagrada”;
2) Ter sido escrito no território de Israel;
3) Não deve ter sido escrito depois de Esdras (ou seja, 428 a.C.), e, por último,
4) Sem trazer contradição com a Lei de Moisés.
Mas desde o século III a.C. já existia a Bíblia traduzida para o grego, a Versão dos Setenta, feita em Alexandria, no Egito, para os judeus que não entendiam o hebraico das Escrituras. Ora, essa Bíblia continha também os livros escritos em grego, que são os enumerados acima, mais os trechos de Ester e Daniel.
A Igreja Católica, logo nos primeiros séculos, teve que tomar posição diante dessa dualidade no catálogo dos livros inspirados, chamado “cânon”, e optou pela lista de Alexandria.
Em diversos Concílios, a Igreja oficializou essa lista: nos Concílios regionais de Hipona (ano 393), Cartago (397 e 419), Trulano (692) e nos Concílios ecumênicos de Florença (1442), Trento (1546) e Vaticano I (1870).
O Espírito Santo, enviado à Igreja em Pentecostes, guiou-a nestas decisões. Mas as Igrejas nascidas da Reforma de Lutero optaram pelo cânon dos judeus palestinenses, que não reconheceram como inspirados os livros escritos em grego.
A Igreja católica justificou suas decisões constatando que os Apóstolos e Evangelistas, ao escreverem o Novo Testamento em grego, citavam o Antigo Testamento usando a tradução grega de Alexandria, mesmo quando esta diferia do texto hebraico.
Das 350 citações do Antigo Testamento que há no Novo, 300 são tiradas literalmente da Versão dos Setenta. Em vários textos, vê-se claramente que os autores do Novo Testamento fizeram alusões a textos desses livros rejeitados pelos judeus. Em sua obra de evangelização, desde o início, a Igreja usou essa Bíblia em grego, a língua mais falada na época.
Conclusão: A própria Bíblia não define o seu catálogo. Portanto, este só pode ser conhecido mediante a Tradição, a transmissão oral, que de geração em geração foi entregando os livros sagrados ao povo de Deus, indicando-os, ao mesmo tempo, como livros inspirados.
É o que afirma o Concílio Vaticano II:
“Mediante a Tradição, a Igreja conhece o cânon inteiro dos livros sagrados e a própria Sagrada Escritura entende-se nela mais profundamente.” (Constituição Dei Verbum, n. 8).
Quem não reconhece o valor imprescindível da Tradição, não consegue afirmar de modo convincente quais são os livros que têm a inspiração divina!
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