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Amigo (a) é alguém com quem partilhamos o lixo da vida!

Pe. Léo Pessini Currículo - Aquivo Pessoal (Arquivo Pessoal)

Escrito por Pe. Leo Pessini (in memoriam)

08 JAN 2016 - 07H00 (Atualizada em 20 JUL 2021 - 08H55)

Photographee.eu/ Shutterstock

Nunca esqueci uma definição de amizade que me foi dita por meu supervisor em Educação Pastoral Clínica, no início da década de 80, em Milwaukee (WI) nos EUA, após uma longa e sofrida seção de aconselhamento semanal, ao final da qual ouço; “Léo, friends share the garbage of life!” (“Léo, os amigos partilham o lixo da vida”). 

Que verdade linda e cristalina! Como isto é importante em nossas vidas. Somente com quem temos a liberdade de ser e ter confiança é que ousamos falar e confidenciar aquelas coisas escondidas em segredo no íntimo de nós mesmos. O ato de partilhar com “alguém”, além do profundo sentimento de libertação, também transforma a matéria prima “lixo” num tesouro sacramental, ligação profunda entre dois seres.

Neste sentido, achei muito interessante uma entrevista de Robin Dunbar (Revista Veja, Quantos amigos você consegue ter? 17/03/2015), antropólogo e psicólogo inglês, sobre amizade, que resumo nos aspectos essenciais. Dunbar afirma que os amigos de verdade ao longo da vida se restringem a um grupo de, em média de 150 pessoas. A frequência do contato é sem dúvida o que mais importa na construção de uma amizade. A intensidade da relação depende muito do quanto você vê a pessoa e do tempo que você gasta com ela.

Ollyy/ Shutterstock
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As redes sociais mudaram a forma como nos relacionamos com os amigos que estão distantes e, por isso, tornaram-se tão populares.

As redes sociais digitais nas relações humanas, sobretudo nas de amizade, trouxeram muitas situações novas e impactos. Elas criam, no entanto, a falsa impressão de que possuímos muitos amigos. Encontrar a pessoa pessoalmente e conviver com ela faz toda a diferença. O problema é que estas redes classificam todo mundo como amigo, quando muitos ali são apenas conhecidos, na maioria das vezes, desconhecidos. Compartilhar informações pessoais com quem não se tem intimidade cria a falsa sensação de amizade, o que não deixa de ser uma ilusão.  

Leia MaisOração pelos amigosA média de 150 amigos por pessoa é o número que se mantém o mesmo desde os primórdios da humanidade. Entre os primatas, a quantidade de amigos é determinada pelo tamanho do cérebro. Quanto maior o cérebro, maior é a capacidade do indivíduo de estabelecer vínculos de amizade.

Os macacos, por exemplo, mantêm uma comunidade restrita a cinquenta integrantes. Aqueles que conhecemos pessoalmente, em quem podemos confiar e com quem temos alguma afinidade não passa de 150. Destes, cinquenta são considerados bons amigos. Desses, apenas quinze podem ser chamados de melhores amigos. E entre eles, somente cinco pertencem à categoria dos amigos íntimos, aqueles que você procura quando está com problemas, pede conselhos, busca consolo e até mesmo aceita dinheiro emprestado.

Shutterstock/ Rido
Shutterstock/ Rido

Investimos cerca de 40% do nosso tempo com nossos cinco amigos íntimos e 60% do tempo social com nossos quinze melhores amigos. Sobra pouco para os cem amigos que restam. São os encontros de verdade, face a face, que sustentam e fazem uma amizade sobreviver. Se um novo amigo entra em nossa vida, significa que algum outro amigo, com quem não se tem mais tanto contato, perdeu seu lugar. 

Os amigos são fundamentais em todos os momentos de nossas vidas, inclusive para nossa saúde. Em 70% dos casos, o encontro do par romântico acontece por intermédio de uma dessas pessoas do grupo dos 150. Além disso, os amigos são importantes até para a saúde. A construção de relações de amizade ricas e duradouras traz benefícios à saúde. Ajuda na prevenção de uma série de doenças - distúrbios cardiovasculares, depressão, Alzheimer, entre outras.

Existiria um hormônio da amizade? Sim a endorfina. Quando o contato com outra pessoa nos é, de alguma forma, prazeroso, a endorfina é liberada, proporcionando a sensação de relaxamento e felicidade. Rir, conversar, sair para dançar ou ouvir música com os amigos são gatilhos para a síntese de endorfina. Graças a essa substância, nos sentimos parte de um grupo, um dos principais alicerces para a consolidação da amizade.

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Certa vez, Rubem Alves, famoso educador brasileiro, foi perguntado a respeito de quem são os amigos. Ele com aquele jeito engraçado, mas em tom solene, diz que “são aqueles com quem sentimos que podemos fazer confissões”.

Claro, confissões sobre “o lixo de nossas vidas”, acrescento. Conversar sobre amenidades, governo, tempo, futebol, estudos, viagens, etc. e tal é muito fácil e simples. Mas, do círculo dos 150 potenciais amigos de Robin Dunbar, com quem podemos ter ao longo da vida alguma afinidade, cinquenta podem ser “bons amigos”, destes quinze podem estar entre os “melhores amigos” e somente cinco são “amigos íntimos”!

Não é à toa que se diz: “Quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro”.

Escrito por:
Pe. Léo Pessini Currículo - Aquivo Pessoal (Arquivo Pessoal)
Pe. Leo Pessini (in memoriam)

Professor, com Pós-doutorado em Bioética no Instituto de Bioética James Drane, da Universidade de Edinboro, Pensilvânia, USA, 2013-2014. Conferencista internacional com inúmeras obras publicadas no Brasil e no exterior. Foi religioso camiliano e Superior Geral dos Camilianos.

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Por Polyana Gonzaga, em Igreja

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