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A Grande Crise de 1929 e o reflexo na sociedade atual

Pe Jose Inacio de Medeiros

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

16 JUN 2025 - 09H36 (Atualizada em 17 JUN 2025 - 12H01)

Reprodução/Wikipedia

A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos está causando sérias preocupações no mercado econômico mundial devido às medidas que ele está tomando, como, por exemplo, a elevação exagerada dos juros sobre os produtos importados de outras nações.

Os países exportadores foram penalizados com taxas que variam de 10 a 90%. A China está sendo o país que mais sofre com essas taxas, pois o seu desenvolvimento causa preocupação aos Estados Unidos.

Existem analistas que, vendo o ritmo acelerado de crescimento de sua economia, já preveem que em décadas a economia chinesa passará a da poderosa nação norte-americana, e a China, que tem população acima de 1,4 bilhão de pessoas, bem superior os 340 milhões de norte-americanos, se tornará a primeira potência do mundo.

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O contexto da economia mundial atual se aproxima muito da situação que o mundo vivia antes da Segunda Guerra Mundial, sobretudo, com a grande crise que levou ao “crash” da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, instaurando uma das maiores crises econômicas que o mundo já viveu.

Recordar para que não mais aconteça

O processo de entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial foi na maioria causado pelo momento econômico complicado em que a nação vivia.

Para entender a fase difícil enfrentada pelos Estados Unidos durante a década de 1930, é fundamental entendermos o que foi a crise de 1929, os principais motivos para seu desmoronamento e o efeito causado após sua ocorrência.

Reprodução/Wikipedia Reprodução/Wikipedia Desempregados aguardando distribuição de comida


Logo perceberemos que a entrada do país na guerra não foi apenas por “boa vontade” para com os aliados que estavam sendo encurralados pelos adversários, mas por puro interesse dos norte-americanos.

O país viu a possibilidade de sair da crise, movimentando ainda mais a sua economia. O que aconteceu, visto que passadas as duas grandes guerras, a nação ascendeu à condição de primeira potência do mundo.

A crise de 1929 ocorreu devido a uma série de erros que levaram ao caos econômico mundial. Dentre os erros, podemos destacar a expansão do crédito como o grande vilão, ou seja, na época estavam sendo ofertados títulos ou empréstimos facilitados para a população em geral através do Federal Reserve System, uma espécie de banco central dos Estados Unidos.

Desde o início da década de 1920, esse ato se tornou a forma mais comum da população adquirir riquezas, fazendo empréstimos a longo prazo, mas recheados de pesados juros.

A “bomba econômica” ocorreu no final da década, quando o governo precisou segurar o avanço da expansão monetária, a fim de conseguir ajustar as contas e gastos, devido à participação na Primeira Guerra Mundial, que não estava nos planos dos norte-americanos.

Entre meados de 1928 e início de 1929, o governo diminuiu a oferta monetária, passando a operar uma política econômica mais austera, restringindo os empréstimos, ou seja, de uma hora para outra, o “dinheiro ficou curto” para todos.

O problema é que após muitos anos acostumada com dinheiro fácil, a população não gostou da nova política econômica americana e, temendo a desvalorização da moeda, milhares de pessoas e empresas começaram a retirar sua poupança dos bancos, desencadeando um processo de recessão que nunca tinha sido visto.

Para tentar controlar o complicado momento, o governo tomou algumas medidas que não surtiram o efeito desejado. Para controlar a recessão, limitou os salários e os preços de produtos, impediu o saque de valores altos dos bancos e, sobretudo, aumentou exageradamente as taxas comerciais e impostos, agravando ainda mais a crise.

Aí está o risco que o mundo corre agora, pois, aumentando em excesso os juros, os Estados Unidos podem estar provocando um processo de recessão mundial.

A “Quinta-Feira Negra”

No dia 24 de outubro de 1929, aconteceu a chamada “quinta-feira negra”, quando houve uma queda vertical na bolsa de valores devido à falta de compradores. Alguns dias depois, em 29 de outubro, aconteceu então a “terça-feira negra”, quando diversos lotes de títulos foram colocados à venda na Bolsa de Valores.

Este ato, impensado ou não, se transformou num problema ainda pior, pois mesmo vendendo as ações a preços baixíssimos, isso não atraiu compradores e, por consequência, desvalorizaram ainda mais as empresas, gerando a falência de milhares de empreendimentos e cerca de 12 milhões de americanos acabaram perdendo o emprego.

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Reprodução/Wikipedia/Dorothea Lange Reprodução/Wikipedia/Dorothea Lange Mãe e filhos em favela de Oklahoma 1936


A situação econômica entrou então num ritmo de bola de neve, pois os bancos não tinham reservas e as pessoas não tinham dinheiro para consumir. Por causa disso, o comércio passou a vender menos que o normal, provocando a crise com força total até 1933.

As taxas de desemprego batiam a casa dos 25%, espalhando-se para todo o mundo, chegando até o Brasil.

Foi naquele tempo que a história registrou a diminuição absurda do preço do café, principal produto de exportação brasileiro. Como tinha café de sobra e dinheiro de menos, o Brasil ordenou que milhares de toneladas do nosso “ouro verde’ fossem queimadas ou jogadas ao mar para forçar a subida de seu preço.

Em 1933, Franklin Delano Roosevelt foi eleito presidente dos Estados Unidos e, junto com o economista John Maynard Keynes, criou o plano econômico chamado “New Deal”, tomando várias medidas para reerguer a economia enfraquecida.

Entre elas se destaca o investimento em obras públicas, como forma de gerar empregos; a destruição de estoques de produtos agrícolas, para conter a queda dos preços; controle dos preços e da produção industrial; diminuição da jornada de trabalho; fixação de um salário mínimo e criação do seguro-desemprego e seguro-aposentadoria.

Ainda no contexto da crise econômica, dos milhares de soldados enviados para as frentes de batalha no Pacífico contra o Japão, na Europa e em outras partes do mundo, muitos eram desempregados.

Desta forma, o país conseguiu também resolver na maioria o problema do desemprego. Existem estudiosos que afirmam que a entrada dos Estados Unidos na guerra, após o ataque japonês a Pearl Harbor, foi provocada.

Reprodução/Wikipedia Reprodução/Wikipedia Milhares de desempregados vagavam pelas ruas das grandes cidades em busca de trabalho e comida


Ou ao menos a iminência de um ataque já era do conhecimento dos americanos, que tinham interesse na guerra para com ela saírem do contexto de crise em que viviam, aumentando o “patriotismo” e evitando as pesadas críticas que o governo sofria.

O New Deal não elevou a economia americana ao patamar que conhecemos hoje, mas ajudou a retirar o país da grande depressão, estabilizando os empregos e aquecendo a economia; a entrada na Segunda Guerra levou à reativação da indústria bélica com a produção em massa de alguns setores.

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Após a guerra, com o espólio da vitória e com os empréstimos feitos aos países vencedores que estavam com sua economia em frangalhos – bem como os empréstimos feitos ao derrotado Japão, a economia norte-americana se reergueu de vez.

Portanto, o cenário mundial hoje aponta para um grave risco de crise econômica. Na Europa, há um forte risco de que a guerra na Ucrânia ultrapasse as suas fronteiras, envolvendo outros países e a China, aproveitando-se disso, possa caminhar ainda mais velozmente para se tornar a maior potência do mundo, desbancando os norte-americanos.

Não é à toa que o Papa Leão XIV, desde o seu primeiro pronunciamento ao ser eleito, tem falado de paz e de solução pacífica dos conflitos, pois ele, mais do que qualquer pessoa, sabe o risco que o contexto mundial está trazendo, sobretudo, para os mais pobres e necessitados. Os poderosos provocam a guerra, mas eles mesmos não vão para as frentes de batalha!

Escrito por:
Pe Jose Inacio de Medeiros
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista que atua no Instituto Histórico Redentorista, em Roma. Graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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