Na primeira semana de novembro de 2020, a expressão “estupro culposo” foi uma das mais postadas nas redes sociais de todo o Brasil. O termo foi usado, primeiramente, pelo site The Intercept Brasil para “ilustrar” o desfecho de um caso de estupro que indignou muitas pessoas, envolvendo a jovem influencer Mariana Ferrer e o empresário André de Camargo Aranha. Segundo Mariana, no dia 15 de dezembro de 2018, ela teria sido estuprada pelo empresário em uma festa noturna que ocorria no beach club Café de la Musique, em Jurerê Internacional, um dos bairros mais nobres da cidade de Florianópolis, em Santa Catarina.
Na época do ocorrido, a jovem, que tinha então 21 anos, disse em depoimento à polícia que acreditava ter sido dopada por não se lembrar de tudo o que tinha acontecido naquela noite. Ela fora à delegacia com a ajuda da mãe, que contou tê-la visto chegar em casa com um forte cheiro de esperma. A perícia não somente encontrou sêmen nas roupas da garota, como os exames periciais constataram que ela era virgem até então. O inquérito policial concluiu, assim, que Aranha cometera estupro de vulnerável, ou seja, situação em que a vítima não apresenta condições de se defender.
Depois de passar pela troca de delegados e promotores, o processo chegou ao fim em setembro deste ano de 2020, com a sentença de inocente para o empresário. O promotor do caso alegou que Aranha não teve a intenção de estuprar, uma vez que ele não sabia que a jovem não possuía condições de consentir a relação, conforme ressaltou o The Intercept na matéria, em que usou o termo “estupro culposo” para definir a justificativa do promotor, aceita pelo juiz. Nessa mesma matéria, publicada em 3 de novembro, o site divulgou, com exclusividade, momentos da audiência em que o advogado de defesa de Aranha humilha a jovem ao exibir fotos pessoais suas, chamando-as de “ginecológicas” e dizendo que “jamais teria uma filha” do “nível” da influencer.
Não demorou muito para que manifestações de indignação com o desfecho do caso e com o vídeo divulgado repercutissem maciçamente pelas redes sociais. Expressões de apoio e solidariedade a Mariana também se tornaram comuns no ambiente virtual. A rápida e intensa repercussão do caso reforça, mais uma vez, o poder da internet, especialmente das mídias sociais. Infelizmente, muitos internautas utilizam de tais meios para incitar mensagens de ódio e preconceito contra grupos e indivíduos, a fim de anular seus pensamentos, crenças, enfim, sua identidade. Presos em suas bolhas narcisistas, não se atentam para o quanto a riqueza de uma sociedade cresce a partir da diversidade e da integração entre seus membros.
Leia MaisValores em ruínasPor outro lado, não há nenhum outro meio que possua um poder de alcance, em um curto intervalo de tempo, tão gigantesco como a internet. Um espaço que dá voz a todos, independentemente de quem seja, permitindo que possam expressar seus clamores. Assim aconteceu com Mariana, que abordou seu caso nas redes sociais já em 2019, com o intuito, segundo ela, de pressionar a investigação, que sofria influências do empresário. O encerramento do processo não aconteceu como ela esperava, mas, com certeza, a divulgação do caso e, principalmente, das imagens divulgadas, contribuíram para incitar uma reprovação conjunta nas redes com o ocorrido.
De tal modo, os ambientes virtuais unem vozes, gritos, bandeiras, causas... que se tornam muito maiores em razão do impacto que podem provocar por não se restringirem a espaços físicos. Mais importante ainda: as vozes que gritam na internet não apenas fazem ecoar as injustiças sociais, como podem despertar em muitos o senso crítico e a desconstrução necessária para situações que, até então, não eram vistas como um problema.
Infelizmente, casos como o de Mariana continuam a se repetir diariamente, sem contar outros como os de feminicídio e de violência doméstica. Por isso, realçar tais situações nos espaços virtuais como males a serem combatidos é uma forma de conscientizar as mulheres e exaltar que elas não estão sozinhas.
Medidas como essas são extremamente necessárias em um país onde 1 pessoa é estuprada a cada 8 minutos, totalizando 66.123 estupros em 2019 – contra 11.958 em 2007 –, segundo dados do Anuário de Segurança Pública. Do total, segundo o Anuário, 57,9% das vítimas têm no máximo 13 anos e 85,7% das vítimas são do sexo feminino. Dados que assustam, porém, uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) constatou que para 58,5% dos entrevistados, a culpa do estupro é da vítima, uma constatação ainda mais chocante.
Por isso, urge a necessidade de utilização dos espaços virtuais como forma de desconstrução de preconceitos, de valorização da diversidade e de combate às injustiças sociais. Manifestações de ódio e de incitação das mais diversas violências sempre existirão, mas não poderão servir de impeditivo para barrar aqueles que necessitam de um meio para dar voz aos seus gritos silenciados por tanto tempo. Que possamos, assim, estar sempre juntos em prol da valorização de cada ser humano como um todo.
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