Notícias

A Varsóvia de São Clemente e a ocupação estrangeira

Em meio às disputas territoriais e ideológicas entre Prússia, França e potências europeias, os redentoristas enfrentaram perseguições, expulsão e censura

Escrito por Redentoristas

03 SET 2025 - 11H03 (Atualizada em 03 SET 2025 - 13H06)

Reprodução

A localização geográfica da Polônia fez com que o país fosse ocupado muitas vezes ao longo de sua história ou se tornasse rota de passagem dos exércitos de povos estrangeiros.

Fazendo fronteira com a Alemanha e com a Rússia, países mais poderosos e sendo o caminho mais curto para se alcançar o Mar Báltico e o Mar do Norte, era objeto de cobiça de povos estrangeiros.

Na Segunda Guerra Mundial, por exemplo, a Polônia foi o primeiro país invadido pela Alemanha nazista. No tempo de São Clemente Maria Hoffbauer os redentoristas que ali já estavam instalados foram expulsos do país, só podendo retornar após a morte de nosso santo, em 1820.

No período, a Alemanha não existia como país unificado, sendo formada por reinos independentes, dos quais o mais poderoso era a Prússia, que abrangia toda a parte norte, sendo majoritariamente protestante.

O protestantismo pouco penetrou na região sul da Alemanha, no reino da Baviera, de onde sairiam os missionários que viriam para o Brasil em 1894. O movimento expansionista de Napoleão Bonaparte foi freado pela junção de forças da Prússia, Áustria e Inglaterra, e a Polônia não escapou da invasão e ocupação por vários anos.

A ocupação prussiana (1796-1806)

Após o fracasso da Revolta de Kościuszko, Áustria, Prússia e Rússia assinaram a chamada “Terceira Repartição”, em 24 de outubro de 1795.

Graças a um artigo secreto, escondido no pacto de partilha de 26 de janeiro de 1797, as três potências partilhariam o território polonês e o rei da Polônia, levado para o exílio em Grodno, atual Rússia Branca, em 25 de novembro de 1795, foi forçado a abdicar.

A cidade de Varsóvia foi anexada à província da Prússia do Sul, sendo rebaixada à categoria de cidade provincial. O número de seus habitantes foi reduzido à metade do que havia sido registrado nos últimos anos do reinado.

Em 1796, Varsóvia tinha apenas 61 mil habitantes, enquanto o número de prussianos aumentou consideravelmente. A ocupação prussiana significou um período de tormento para a população que de pouco havia saído da ocupação russa.

A Prússia enviou uma guarnição de aproximadamente 12 mil soldados como força de ocupação e eles submeteram a sociedade polonesa a um processo de germanização, pelo qual as instituições polonesas foram liquidadas e cidadãos poloneses foram removidos dos cargos estatais, sendo substituídos por funcionários prussianos.

O governo prussiano também praticou uma política hostil em relação à Igreja Católica, com a imposição de inúmeras restrições administrativas.

O contato direto com Roma foi proibido, sendo necessária uma autorização especial para a promulgação de documentos da Santa Sé. Também as cartas pastorais dos bispos precisavam passar pela censura do governo.

A Vida Religiosa Consagrada foi sujeita a um controle estrito. O contato com superiores no exterior foi proibido, sendo feitas várias tentativas de colocar as ordens religiosas sob a jurisdição dos bispos.

O governo prussiano dificultou a admissão de candidatos aos seminários e conventos também foram suprimidos.

Os redentoristas durante a ocupação

Os prussianos tratavam os redentoristas com grande hostilidade por serem considerados politicamente perigosos para o Estado. No entanto, não pensaram em suprimir a igreja e convento de São Beno porque ofereciam educação gratuita em suas escolas e não pesavam economicamente para o Estado.

Através de uma carta datada de 7 de junho de 1805, as autoridades prussianas em Berlim confirmaram a autorização de residência dos redentoristas em Varsóvia com a condição de que fosse tratada como uma "Escola para jovens pobres".

Esta maré mais tranquila, porém, mudaria em poucos anos e em 1808, viria o decreto de sua expulsão.

O Governo do Ducado de Varsóvia (1807-1808) e a expulsão dos redentoristas

A ocupação prussiana de Varsóvia terminou em novembro de 1806, quando o exército francês de Bonaparte entrou na cidade. Um ano depois foi fundado o Ducado de Varsóvia que incluía os territórios anexados pela Prússia na Segunda e Terceira Repartições. À frente do ducado estava o rei saxão Frederico Augusto (1750-1827).

Apesar de uma “suposta liberdade”, a França manteve seus representantes em Varsóvia, exercendo grande influência sobre as atividades do governo do Ducado.

A princípio, a população recebeu o exército francês com entusiasmo, mas o “fogo logo se extinguiu”, porque os soldados se comportaram exatamente como todos os invasores: roubando, matando, abusando de mulheres e meninas, saqueando obras de arte e colocando a população polonesa em estado de pavor.

Napoleão Bonaparte provocou um “arroxo” na economia do país, cobrando impostos e contribuições cada vez mais pesados.

O governo do Ducado de Varsóvia, tendo membros da maçonaria em postos chaves da administração, tentou subjugar a Igreja, fazendo com que todos os regulamentos anticlericais anteriormente emitidos pelas autoridades prussianas permanecessem em vigor.

A expulsão dos redentoristas

Os Missionários redentoristas, como todo o povo polonês, esperaram com ansiedade o momento da libertação de Varsóvia da ocupação prussiana: "Graças a Deus, temos liberdade", escreveu Pe. John Podgórski (1775-1847) a seus confrades na Suíça, quando os prussianos deixaram a cidade, mas a realidade logo mudou.

Em junho de 1808, São Beno foi suprimida e toda a comunidade expulsa de Varsóvia, tendo que abrigar-se em outros países como Áustria e Suíça.

Segundo narra a história (História da Congregação, II, I, pág. 415), a expulsão dos redentoristas foi preparada secretamente pela polícia, mas a notícia vazou graças a um funcionário que informou São Clemente, que por sua vez alertou a comunidade.

Os redentoristas prepararam seus pertences pessoais, receberam dinheiro para a viagem, levaram relíquias, livros sacros e paramentos litúrgicos e queimaram documentos importantes.

Na manhã do dia 17 de junho, uma comissão do governo foi a São Beno, reuniu os 37 membros da comunidade (17 padres, 11 clérigos e noviços, 9 irmãos) e leu o decreto de expulsão.

Posteriormente, os comissários revistaram e selaram as salas principais e fecharam a igreja, proibindo os serviços religiosos públicos.

Os redentoristas foram informados de que seriam tratados como prisioneiros até sua partida de Varsóvia e que não teriam permissão de contatos com o exterior. Os edifícios foram ocupados pelo exército e cercados pela polícia.

Saindo de casa, os comissários levaram os padres Clemente Hofbauer, Jestershein e Blumenau-Kwiatkowski ao Ministério da Polícia, onde os ministros Potocki e Łuszczewski reiteraram o decreto de expulsão.

.:: 10 fatos interessantes sobre São Clemente ::.

Foi especificado que os redentoristas só poderiam levar consigo pertences pessoais e que as despesas de viagem seriam arcadas pelo governo.

Com a distância do tempo, percebe-se que a expulsão dos redentoristas de Varsóvia em 1808, foi determinada por fatores de natureza política e ideológica, relacionados ao contexto da Era Napoleônica e às transformações que estavam em curso em toda Europa e, por tabela, também na Polônia:

  • Acusações de inimizade com Napoleão e espionagem, pois as autoridades francesas, que tinham uma forte influência sobre o Ducado de Varsóvia (criado por Napoleão em 1807), acusaram os redentoristas de serem hostis a Napoleão e de fazer espionagem para os prussianos, seus inimigos;
  • Acusações de provocar agitação sociopolítica, pois políticos franceses e poloneses no Ducado de Varsóvia consideravam os redentoristas como os principais responsáveis por fomentar a agitação sociopolítica;
  • Oposição de liberais e maçons, porque dentro da administração estatal do Ducado de Varsóvia, havia numerosos liberais e maçons que se opunham às ordens religiosas e sua influência na sociedade. A presença e atividades dos religiosos, entre eles a dos redentoristas, eram vistas como um obstáculo às reformas e ideais do Iluminismo que estavam se firmando;
  • Rejeição da disciplina estatal, com os redentoristas sendo vistos como uma ordem que escapava ao controle e à disciplina do Estado, o que ia contra as tendências de centralização e secularização do poder típicas da era napoleônica.

A expulsão dos redentoristas foi o resultado de uma combinação de suspeitas políticas, acusações de dissidência e hostilidade mais ampla em relação às ordens religiosas por círculos liberais e napoleônicos que buscavam afirmar um controle mais secular sobre o Estado e a sociedade, mas nada havia que pudesse mostrar contrariedade à vivência do carisma afonsiano ou com a prática pastoral e comunitária da numerosa comunidade.

As autoridades de Varsóvia, temendo a reação popular à expulsão dos redentoristas, decidiram manipular a opinião pública. No dia 18 de junho, dois jornais "Gazeta Warszawska" e "Gazeta Korespondenta Warszawskiego i Zagranicznego" publicaram idênticos artigos acusando os redentoristas de exercer influência perigosa, subverter costumes com rituais supersticiosos, conspirar politicamente, instigar a população e se opor às autoridades.

Os artigos implicavam que mais evidências seriam reveladas no futuro. Nada, porém, fez por diminuir a aceitação, aprovação e bem querer do povo da Polônia em relação aos filhos de Santo Afonso.

Na celebração do 150º aniversário da expulsão, a igreja de São Beno foi reconstruída e consagrada, sendo mais uma vez confiada aos Redentoristas. Os edifícios de São Beno haviam que haviam sido destruídos nos bombardeios da Segunda Guerra entre agosto e setembro de 1944, depois de 1950 foram devolvidos em ruínas e em 22 de junho de 1958, os redentoristas puderam consagrar a igreja reconstruída.

Fonte: Tradução livre: Pe. Inácio Medeiros, C.Ss.R.

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

0

Boleto

Carregando ...

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por Redentoristas, em Notícias

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.

Carregando ...