Por Elisangela Cavalheiro Em Notícias Atualizada em 20 MAI 2020 - 15H50

Curado do coronavírus Missionário Redentorista participa de pesquisa

Num país que chegou a 18.130 mortes e 275.382 casos confirmados de Covid-19 e é o terceiro no mundo em número de casos da doença, conhecer a história de alguém que ficou curado fortalece a nossa esperança diante de tanta dor e sofrimento.

Mas se existe um grande número de pessoas recuperadas, maior deve ser também o respeito a este vírus mortal, que segue fazendo vítimas de todas as idades.

Esse é o sentimento do frater Flávio Alexandre Faria e Silva, 41 anos, missionário redentorista que foi diagnosticado com Covid-19 e ficou 10 dias internado. Respirando com a ajuda de aparelhos, viu a fragilidade do corpo humano frente ao novo coronavírus.

“No momento em que a médica disse pra mim que eu estava piorando e precisaria ir para a UTI deu um certo desespero e tristeza por ver que meu corpo não estava se curando. Aí veio a preocupação com a morte e uma grande lição”, lembra o religioso.

Arquivo Pessoal.
Arquivo Pessoal.
Frater Alexandre sobreviveu ao Covid-19 depois de 10 dias internado.


A lição que ele aprendeu foi a do valor à vida, à família, à sua comunidade religiosa e da importância dos gestos de carinho e amor que recebeu de todos nestes dias. Isso pra ele foi o que valeu a pena durante o tempo que ficou internado, sem ter contato com nenhum dos outros religiosos e nem mesmo com a sua família, a não ser por meio do telefone.

“Esses momentos foram muito difíceis, tive muito apoio da minha comunidade religiosa, mas não quis alarmar a minha família. Meus pais não sabiam, apenas meu irmão”, disse. 

No entanto, a mensagem que o frater Alexandre compartilha depois de ter vencido a doença é que a vida precisa ser cuidada com o devido respeito diante da gravidade da Covid-19.

"A mensagem que eu deixo para as pessoas, para a sociedade, é que este não é um vírus qualquer ou 'gripezinha'. É um vírus grave que temos que ter consciência que pode levar à morte, eu quase passei por isso vendo o meu corpo não se curando. Eu digo para as pessoas que fiquem em casa e respeitem esse momento”, alerta.

Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal
Frater Alexandre com sua comunidade religiosa formada por estudantes de teologia.


O religioso mora na capital paulista, no bairro do Ipiranga, e começou a ter os primeiros sintomas no final do mês de março. De uma gripe
“estranha”, que tirou o olfato e o paladar, seguiram tosse e febre persistentes, até que no dia 28 de março, começou a sentir falta de ar.

“Fui almoçar e não consegui sentar porque de repente faltou ar e tive que descer para o meu quarto e descansar”, detalha. No dia seguinte, orientado pelo padre superior de sua casa padre Anísio Tavares, o missionário foi ao Pronto Socorro do Hospital São Camilo, no Ipiranga, direto para o setor de Covid porque já era um caso suspeito. Começava aí a “via-sacra” do religioso.

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O avanço da doença levou os médicos a adotarem a hidroxicloroquina. O religioso afirma que só usou o medicamento por seu “caso ser grave”. Com uso de outros remédios, ele viu sua melhora gradativamente nos dias seguintes até receber alta do hospital no dia 06 de abril.

Após ser liberado do hospital, frater Alexandre ainda ficou de quarentena mais sete dias, justamente durante a Semana Santa. Ele viveu este tempo de uma forma diferente com o padre presidindo as celebrações em seu quarto.

“Minha vida está aos poucos voltando à normalidade. Depois que saí da quarentena, a médica entrou em contato comigo porque o hospital estava fazendo uma consulta pela internet. Fui acompanhado até o dia 13 de maio, e neste tempo tive um pouco de febre, que foi controlada aqui em casa mesmo. Tive dor no peito e fiz outros exames, mas está tudo bem. Apenas o pulmão ainda exige mais tempo de recuperação, pois algumas atividades que exigem esforço me cansam. A médica me disse que quando dão alta é quando a gente está realmente curado da Covid-19. Hoje, já estou fora de perigo!, celebra.

Frater Alexandre teve 50% do seu pulmão comprometido com a pneumonia causada pelo coronavírus. Dos dias internados, a força e a fé do missionário vieram da Eucaristia e do amor a Nossa Senhora.

“O que me deixou mais feliz quando estava internado é que eu pude receber a Eucaristia todos os dias de um religioso camiliano, o padre Eduardo, e foi meu sustento neste tempo. Assistia também a Santa Missa pela TV Aparecida e mantive minha devoção mariana”, afirma.

Participação em pesquisa

Com a alta médica, o religioso foi informado de um estudo que está sendo realizado pelo Centro de Hematologia e Hemoterapia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), sobre o uso do plasma (parte líquida do sangue) de pessoas que se curaram da Covid-19.

A pesquisa envolve o tratamento de pacientes com a doença no Hospital de Clínicas da Faculdade de Ciências Médicas da universidade e em outros hospitais da região.

"Como eu já sou doador de sangue, eu vou participar do estudo doando meu sangue para a pesquisa, doaria o que fosse preciso para salvar uma outra vida. Esse é o nosso dever de ajudar ao próximo. Vou fazer uma bateria de exames, inclusive outro para afirmar que estou sem Covid-19, para se Deus quiser pode salvar outras pessoas com esta pesquisa", finaliza frater Alexandre. 

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