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A fé, esperança e caridade na vida de São Clemente Hofbauer

sao_clemente_hofbauer_recorteNesta terça-feira, 15 de março, a Congregação do Santíssimo Redentor comemora a festa litúrgica de São Clemente Maria Hofbauer, considerado o cofundador da Congregação Redentorista. 

O superior provincial da Unidade Redentorista de São Paulo padre Rogério Gomes, em carta redigida para a celebração da festa, destacou a vida de Clemente Hofbauer a partir das virtudes teologais: fé, esperança e caridade. 

"Essas três virtudes teologais, fundamentadas em Jesus Cristo, formam o seu motor movente", escreveu padre Rogério. 

Leia a carta na íntegra: 

FESTA DE SÃO CLEMENTE MARIA HOFBAUER 

A Congregação celebra no dia 15 de março o nascimento para a eternidade de São Clemente Hofbauer. Sua história é marcada por constantes êxodos, perseguições políticas e até mesmo de seus confrades que muitas vezes desacreditaram em seu trabalho. “Clemente Maria viveu num tempo de guerra, de invasões de exércitos, de batalhas e de misérias que costumam acompanhar tudo isso. Vivia atropelado por perseguições e várias vezes teve que fugir dos exércitos combatentes”.[1] Diante desse contexto, ele não desanimou e, analisando a sua trajetória, podemos perceber que ela pode ser compreendida a partir de três prismas: a fé, a esperança e a caridade. Essas três virtudes teologais, fundamentadas em Jesus Cristo, formam o seu motor movente.

A Carta aos Hebreus define a fé “como realidade dos bens esperados, a prova das coisas que não se veem. Foi graças a ela que os antigos obtiveram um belo testemunho” (Hb 11,1-2). O texto continua a demonstrar como os patriarcas e as matriarcas testemunharam a fé em Deus. Clemente foi um homem de fé e renovou a fé num contexto efervescente de perseguições religiosas e de transformações culturais. Otto Weiss, no capítulo intitulado “A imagem de Hofbauer em mudança”, afirma: “Chamo Hofbauer o homem de fé. Uma imagem que no passado foi talvez usada até o exagero, mas me parece importante também para hoje. Falou-se que sua fé foi espontânea, imbatível, como tem sido comumente o caso naquele tempo. Contudo, ele disse que não podia entender como um homem pode viver sem fé. Seria como um peixe fora d’água. Ele nunca conheceu uma crise de fé, como a que o bispo Sailer deve ter passado. Não sei se podemos dizer assim.

 

"Através da sua fé, da sua convicção pessoal e da sua personalidade forte Clemente vai respondendo à missão que lhe é confiada..." 

Sua fé certamente foi amadurecendo nos longos anos que medeiam entre a despedida de Tasswitz, aos 16 anos de idade, e sua entrada na Congregação dos redentoristas, os anos de seu longo ‘noviciado’ como eremita, como nos anos de estudo. Será que teve crises de fé nesses anos? Aparentemente não, e repetiu, contudo, diversas vezes esta frase: ‘a gente deve ser humilde. Caso contrário, a palavra de Deus fica parecendo uma fábula’. Não posso imaginar que, atrás de uma frase assim, não esteja uma experiência pessoal. Mas, com certeza, deve-se vê-lo nesta outra expressão: Quando um estudante lhe revelou suas dificuldades de fé, Hofbauer não começou a fazer-lhe um discurso científico sobre a fé, mas disse: ‘Reze! Vá comungar! A luz deve vir do interior’”.[2]

Através da sua fé, da sua convicção pessoal e da sua personalidade forte Clemente vai respondendo à missão que lhe é confiada, adaptando-se às vicissitudes de seu tempo, sem abandonar o carisma, perder o espírito missionário e a sua criticidade em relação à realidade. É um homem de fé abraamica ao sair de sua terra e ir para outras paragens (Gn 12,1-9); de fé mosaica (Ex 1,1–12,36) ao percorrer os desertos resultantes de suas escolhas e ao mostrar, sobretudo, aos seus confrades, que para além dos Alpes uma nova páscoa para a Congregação poderia acontecer. Diferentemente de Abraão que se transforma na grande nação e de Moisés que liberta o seu povo, Clemente experimenta o fracasso. Augustin Reimann sintetiza sua história chamando-a de fracasso em fracasso,[3] porque Hofbauer sempre viu tantos de seus projetos não se concretizarem, entretanto, continua a acreditar. “A luta de Clemente e seus companheiros foi muito grande. Todos os trabalhos iniciados davam em dispersão, dissolução e uma esperança de se estabelecer em outro lugar. Qual a força que impelia Clemente? Mesmo diante das dificuldades encontradas no relacionamento com seus superiores tão distantes, dificuldades impostas pelos governos autoritários do tempo, dificuldades das teorias do tempo, ele e os seus se sustentavam por uma força invisível: fé em Deus e fé no projeto de Afonso ao qual eram apegados”.[4]

Além da fé, a esperança é visível na vida de Clemente. Ele não desanimou e confiou profundamente em Deus. Guardou inabalável a confissão da esperança, pois Deus sempre fiel o prometeu (Hb 10,23). Ele fez dela uma âncora para a sua alma, segura e sólida (Hb 6,19). Perscrutando a sua história, podemos dizer que Hofbauer “contra toda esperança, acreditou na esperança” (Rm 4,18) e, por isso, a Congregação hoje está espalhada em todo mundo. Seu olhar esperançoso conseguia fazer os Alpes translúcidos e antever de que ali estava uma terra de missão, na qual, mesmo com os desafios, era possível a Congregação se expandir.

 

"No seu agir missionário e caritativo nota-se que a sua fé não é somente transcendental, é antropológica, porque tem esperança na transformação do ser humano".

Tiago em sua carta interroga a sua comunidade: “de que adianta alguém dizer que tem fé se não tiver obras? (Tg 1,1). Clemente teve a fé e as obras! Ele fundou um orfanato e uma escola para adolescentes e teve muitas dificuldades em manter essa obra. Mendigava constantemente. Homem caridoso, acreditava na Providência, mas fazia a sua parte indo a campo ganhar o pão para os seus pequenos e pobres. É famosa a imagem dele ajoelhado e batendo à porta do sacrário, pedindo ajuda ao Senhor, pois havia grande fome em Varsóvia e era grande a multidão de famintos que procuravam o convento. Recebe, certa vez uma cusparada no rosto ao pedir esmola em um bar. Olhando fixamente no homem que o humilhou disse: “aquilo foi para mim; agora o senhor tem alguma coisa para os meus meninos?” A caridade de Clemente alimentava as pessoas do pão material, do pão da palavra e do pão eucarístico. Para ele fé e ação caritativa estavam intimamente ligadas e tocavam os contextos existenciais dos destinatários de seu tempo. No seu agir missionário e caritativo nota-se que a sua fé não é somente transcendental, é antropológica, porque tem esperança na transformação do ser humano.

Em que sentido a vida de Clemente nos provoca? Ou simplesmente não nos diz absolutamente nada? A memória dele deve nos incomodar e nos fazer refletir com acuidade sobre o nosso ser redentorista e nosso agir pastoral. Seu ser e agir missionários foram marcados pela simplicidade de vida, desapego, disponibilidade e pelo trabalho incansável que, muitas vezes, não conseguiu levar a cabo. Uma de suas características era o zelo pelas celebrações, a preparação de suas pregações e as procissões em louvor ao Santíssimo Sacramento. Passava longas horas meditando e era um exímio confessor. Além disso, ele deu a sua contribuição social ao cuidar dos órfãos em adolescente de sua época. Isso nos faz ver que a ação social redentorista já está em nossa identidade e, podemos dizer, que atualmente de forma visível em nossos Centros de Assistência Social.

Hofbauer nos faz pensar em uma Congregação/Província em saída, a partir de uma leitura dos sinais dos tempos. Para nós, o primeiro desafio de sair está na reestruturação para a missão que ainda esbarra em tantas dificuldades de compreensões, culturais, idiomáticas, eclesiológicas, provincialismos, etc. Clemente não tinha certeza se a missão que seus superiores lhe deram iria dar certo. Ele confiou e certamente não chegou a ver sementes brotarem, mas semeou... “Eu plantei, Apolo regou; mas Deus que fez crescer. Ora, aquele que planta não é nada, nem quem rega, mas sim Aquele que faz crescer, que é Deus (1Cor 3,6-7).

Por fim, Clemente Maria nos impulsiona a acreditar em nós mesmos, apesar de nossos fracassos. Fracassar é uma realidade que todos nós estamos sujeitos. Permanecer e acreditar no fracasso é não ter fé antropológica e não acreditar que Deus nos dá sempre a possibilidade de começar novamente. Mesmo correndo riscos de fracassar, devemos ousar em nossa vida apostólica. É a partir daí que podemos responder aos sinais de nossos tempos e anunciar o evangelho de modo sempre novo e sempre renovando estruturas, a começar de nós mesmos! Que São Clemente transmita sua coragem, persistência, criatividade e ardor missionário a toda a nossa Província de São Paulo. Assim seja! Amém. 

Pe. Rogério Gomes, C.Ss.R. 
Superior Provincial - SP 2300
São Paulo, 13 de março de 2016

Fontes: 

1. Bicentenário do nascimento de São Clemente Maria. Insigne propagador da Congregação do Ss. Redentor 1751-1951. Aparecida: Oficinas Gráficas de Arte Sacra, 1951, p. 18.
2. WEISS, Otto. “A imagem de Hofbauer em mudança”. In: SCHERMANN. São Clemente Maria Hofbauer: Perfil de um Santo. Aparecida: Santuário, 2007, p. 208-210.
3 REIMANN, Augustin. De fracasso em fracasso. Aparecida: Santuário, 1978.
4. OLIVEIRA, Luiz Carlos. Celebrações Redentoristas. CERESP. Aparecida: Santuário, 2000, p. 22.

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